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A OMS (Organização Mundial de Saúde) categoriza como obesa a pessoa que tem o IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 30 kg/m². Isto é, uma pessoa de 170 cm de altura é considerada obesa se pesar acima de 86,7 kg.
Na década de 1980, a obesidade começou a ser vista como “questão de saúde pública”, tendo sido considerada uma epidemia por algumas entidades, como a National Obesity Society e a International Obesity Taskforce (IOTF), e a partir disso tornou-se comum chamar a obesidade de “epidemia mundial”. Mas foi apenas em 2013 que a obesidade foi classificada pela AMA (American Medical Association) e pela OMS como uma doença crônica, sendo o seu CID (Classificação Internacional de Doenças) E66.
A palavra epidemia pode ser definida por “doença de caráter transitório, que ataca simultaneamente grande número de indivíduos em uma determinada localidade” e “surto periódico de uma doença infecciosa em dada população e/ou região”, assim, considerar a obesidade uma epidemia acaba por insinuar que é uma doença contagiosa e de alto risco.
Quando a AMA decidiu classificar a obesidade como doença, seu Comitê de Ciências e Saúde Pública apresentou um documento ressaltando que não há sintomas reais para que isto aconteça e que essa consideração seria danosa para pessoas gordas, já que o estigma faria com que elas sentissem vergonha e, ao invés de cuidar de sua saúde, deixariam de procurar ajuda médica. Apesar disso, a AMA ignorou os fatos, alegando o contrário.
É realidade que muites médiques culpam a obesidade por qualquer condição médica, seja doenças cardiovasculares, respiratórias ou até mesmo lesões de esforço contínuo, ridicularizando as pessoas gordas e recomendando como tratamento a perda de peso em vez de algo adequado à doença real.
De acordo com profissionais de saúde menos conservadories, geralmente mais jovens ou mais engajades com a ciência atual e movimentos sociais, a ideia de que pessoas gordas têm a saúde prejudicada, ou de que gordura é sinônimo de doença é obsoleta e errônea. Uma pessoa gorda que tem exames em dia é tão saudável quanto uma pessoa magra nestas condições.
É interessante observar que existe uma parcialidade ao rotular a existência de pessoas gordas enquanto doença, de forma a defender uma ideologia específica. A exemplo disso, a homossexualidade e a transgeneridade também já foram consideradas doenças, tendo a homossexualidade deixado de ser considerada como tal em 1985, com a implementação do CID-10, e a transgeneridade apenas em 2022, com a implementação do CID-11.
A patologização da obesidade não reflete um real problema de saúde, mas sim serve de justificativa para a gordofobia, sendo ou não estrutural, como falta de acessibilidade e precarização de acesso à saúde, além de julgamentos externos e violência, seja física ou verbal. Desta forma, é necessário rever os conceitos que consideram a obesidade uma doença e combatê-los, para que talvez, num futuro próximo, ela seja retirada do CID e não tratada mais como doença, mas apenas como uma característica física, já que nem sempre leis ou convenções sociais são imparciais ou certeiras.
Referências:
- Dia do Gordo: Especialistas e artistas reivindicam acessibilidade e saúde
- Opinião: Obesidade não deveria ser considerada doença
- A LIGHTER BURDEN
- Como o medo da obesidade e a pressão pelo emagrecimento podem nos deixar mais doentes e insatisfeitos
- CID 10
- 17 de maio: Dia Internacional de Enfrentamento à LGBTfobia
- PAIM, Marina Bastos; KOVALESKI, Douglas Francisco. Análise das diretrizes brasileiras de obesidade: patologização do corpo gordo, abordagem focada na perda de peso e gordofobia. Saúde e Sociedade, [S.L.], v. 29, n. 1, p. 1-12, 20 mar. 2020. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902020190227.
- SILVA, Alan Camargo; FERREIRA, Jaqueline Teresinha. Gordura corporal: entre a patologização e a falência moral. Physis: Revista de Saúde Coletiva, [S.L.], v. 23, n. 1, p. 289-296, jan. 2013. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0103-73312013000100017.
- Gordofobia e Acessibilidade