LGBTQphobia

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O dia 17 de maio é considerado o Dia Internacional contra a Homofobia. Contudo, várias organizações estão renomeando a data para: Dia Internacional contra a LGBTQfobia, pois o termo “homofobia” não abrange a comunidade LGBTQ+ como um todo, sendo voltado especificamente para pessoas gays. Sendo assim, para contemplar toda a população LGBTQ+, que luta e resiste diariamente, adotou-se a nova nomenclatura para esta data que tem um significado tão importante.

A data em si foi escolhida de forma a homenagear o fato de que 17 de maio foi o dia no qual a homossexualidade foi retirada do Código Internacional de Doenças (CID), em 1990. Esse fato histórico fez com que a homossexualidade deixasse de ser vista como uma doença, motivo pelo qual a data marcou positivamente a comunidade.

É importante frisar que, apesar da homossexualidade ter deixado de ser considerada como doença na década de 90, foi apenas em 21 de maio 2019 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) promoveu a despatologização da transgeneridade — também conhecida como transsexualidade. Esse lapso temporal entre as duas datas só demonstra como é fundamental suscitar o debate sobre as diversas facetas da LGBTQfobia e de como ela afeta a população LGBTQ+ de modo geral.

Diante desse cenário, faz-se primordial a compreensão de que cada letra da sigla LGBTQ+ possui seus próprios desafios e sofre LGBTQfobia de uma forma diferente. Desse modo, o preconceito sofrido por alguém que se identifica como lésbica não será o mesmo sofrido por quem se identifica como pessoa trans, tampouco será o mesmo preconceito que pessoas assexuais sofrem. Isso não quer dizer, todavia, que o sofrimento de uma identidade invalida o sofrimento de outra.

Enxergar a LGBTQfobia como uma competição de sofrimento só gera desunião entre uma comunidade na qual a união é justamente uma ferramenta essencial para a formação de uma rede de apoio e perpetuação de existências queers

É essencial que exista o entendimento de que as vivências de cada identidade LGBTQ+ será diferente das demais, com as suas próprias particularidades e seus próprios desafios. A comunidade, como um todo, vem sofrendo uma grande onda de ódio e invalidação vinda daqueles que mais deviam apoiá-la:a própria comunidade. Colocar identidades umas contras as outras não é a solução, e sim a origems de um novo problema, a deslegitimação enquanto comunidade.

Infelizmente, é constante a argumentação de que identidades LGBTQ+, especialmente microidentidades, acabam fazendo com que a população LGBTQ+ como um todo seja vista como “chacota” pelos CHAPs (sigla utilizada para designar cis, héteros, allos e perissexos). Contudo, a problemática acerca dessa linha de debate é muito mais profunda do que imagina-se: a verdade é que os CHAPs dificilmente vão aceitar inteiramente a comunidade LGBTQ+.

Determinadas identidades, atualmente, são mais discutidas e mais “aceitas” do que outras. A luta, todavia, é e sempre será coletiva. Não tem como falar sobre pessoas LGBTQ+ esquecendo que a própria sigla é derivada de um senso de união, um vínculo que liga a todes. 

A LGBTQfobia deve sempre ser combatida, especialmente fora da comunidade. Porém, ela também deve ser combatida dentro dos próprios nichos LGBTQ+ que acabam perpetuando, ainda que sem querer, falas e comportamentos preconceituosos. 

Tal discurso, porém, deve ser interpretado com cuidado para não gerar a ideia de que a LGBTQfobia deriva da própria comunidade LGBTQ+. Muito pelo contrário, todo e qualquer preconceito direcionado a pessoas queers envolve uma construção da cisheteronormatividade, a qual deve ser enfaticamente combatida. As pessoas da comunidade não são responsáveis pelo preconceito que elas sofrem, e sim são afetadas pelas raízes de um problema social que vai muito mais a fundo. 

Neste 17 de maio, é essencial refletir sobre a existência de pessoas LGBTQ+, compreendendo que a LGBTQfobia não atinge a comunidade de uma forma única, e sim de maneiras muito específicas, pois há uma múltipla composição de identidades que integram a sigla. Os avanços conquistados pela comunidade LGBTQ+ são significativos, especialmente aqueles que remetem à última década. Entretanto, é sempre importante lembrar que em um cenário de revogação de direitos, os primeiros a serem revogados são justamente os de minorias. Apesar da vitória de eventos como a criminalização da LGBTQfobia pelo STF, em 2019, através da equiparação ao crime de racismo, resta a reflexão de que ainda existem inúmeras pautas paradas  nas casas legislativas , as quais são voltadas para pessoas LGBTQ+.

Sendo assim, o combate à LGBTQfobia deve ser realizado de maneira ativa e complexa, com a consciência de que o que não atinge determinada identidade ou orientação, pode atingir outra de igual modo. Essa batalha envolve comemorar as grandes conquistas, mas também seguir na luta para promover uma existência digna a todes aquelus que integram a comunidade.


Referências: