🌐 Translation in progress
O feminismo é o movimento de luta pela igualdade de gênero mais conhecido atualmente. No entanto, sendo um tema amplo e que engloba várias pessoas, é comum a divergência de pensamentos, trazendo assim a necessidade da divisão em vertentes, cada uma com prioridades próprias e discursos diferentes.
Algumas dessas vertentes, porém, se tornam discutíveis ao ignorarem determinadas vivências. Esse é o caso do feminismo radical, um movimento que vem ganhando força nos últimos anos e que traz ideias problemáticas acerca da comunidade LGBTQIA+, especialmente no que se refere à questão do gênero, mas não apenas isso.
Contextualizando historicamente, o movimento surgiu por volta dos anos 1960, durante a segunda onda feminista — um momento na história em que o feminismo abordava as desigualdades políticas e culturais como intrinsecamente ligadas. Nesse período, desenvolveu-se um conceito de patriarcado para explicar a dominância masculina como um fenômeno social, e não biológico.
Quanto ao nome, o artigo “Existem vertentes no feminismo?”, da coletiva feminista QG Feminista, diz que “o ‘radical’ do feminismo radical tem a ver com a primeira acepção do termo ‘relativo ou pertencente à raiz ou à origem; original’, não tendo absolutamente nada a ver com a segunda definição que versa sobre ser ‘extremado’.”. O argumento, no entanto, não leva em consideração que o próprio método de análise das questões do feminismo radical não vai à raiz dos problemas.
A feminista radical Robin Morgan no livro Going Too Far afirma que “a raiz da opressão é o sexismo”, assim, antagonizando homens e mulheres e ignorando as causas reais da alienação e submissão do corpo feminino numa sociedade capitalista, o que desconsidera a origem da opressão; Existem outras perspectivas não-sexistas de relações de poder envolvidas no processo da exploração, como por exemplo a ideia de sucessores na instituição familiar — numa sociedade capitalista, a existência de herdeires se torna necessária para a conservação da estrutura de poder numa família burguesa. Diferentemente, em uma família da classe trabalhadora, ter filhes significa literalmente mão de obra para ajudar tanto em atividades familiares quanto para vender sua força de trabalho e colaborar junto à família.
Sheila Jeffreys, uma feminista radical, diz que reivindicações femininas foram e são sempre filtradas por vozes masculinas (consideradas opressoras) e, em falsa acusação — que é transfóbica e excludente de pessoas transfemininas —, diz que mulheres trans são homens querendo se juntar aos oprimidos. “Uma reivindicação feminina nunca foi ouvida por uma voz feminina que sempre foi filtrada por vozes masculinas. Então vem um homem dizendo ‘Eu vou ser uma menina agora e falar para as meninas’. E nós pensamos: ‘não, você não é’. Um opressor não pode simplesmente se juntar aos oprimidos por decreto.”
Roz Kaveney, uma mulher trans e escritora produziu um artigo para o jornal britânico The Guardian apontando que Sheila Jeffreys e as feministas radicais agem como se o feminismo radical fosse uma seita religiosa. No artigo, Kaveney ainda destaca opiniões problemáticas expressas por feministas radicais, como o termo “transexualismo” e a ideia de que ser trans é uma doença mental.
Rebecca R. Cooper, do blog Sex and Gender cita que a forma com que o gênero se expressa varia de acordo com a cultura e contexto, mas que os valores acabam sempre sendo os mesmos: mulheres demonstrando inferioridade e submissão e homens demonstrando superioridade e dominação. Esta citação, ainda que aparentemente inocente, vai de encontro a sociedades matriarcais — nas quais as figuras femininas são, normalmente, as responsáveis pela administração financeira e sustento da família —, como a do povo Mosuo, um grupo étnico situado na China perto da fronteira com o Tibete. Deste modo, o argumento de Cooper não se sustenta, negando não só a história de algumas populações contemporâneas, mas de outras diversas sociedades de origem matriarcal que se tem registros em períodos mais antigos.
Portanto, é possível notar que o feminismo radical não se fixa como um movimento excludente apenas contra a comunidade trans, mas também com grupos étnicos de base matriarcal. Essa discriminação é muito perigosa pois invalida pessoas e suas expressões de gênero, nega narrativas históricas e ainda se utiliza de teorias sociológicas de maneira equivocada, como a do materialismo histórico.
Referências:
- Introdução a Teoria Radical
- Existem vertentes no feminismo? | QG Feminista
- Feminist Consciousness: Race and Class
- Radical feminists are acting like a cult | Roz Kaveney | The Guardian
- Uma terra sem pai nem marido, uma sociedade matriarcal
- Lugu Lake and Mosuo People
- Sex and Gender: Gender | Rebecca R. Cooper
- Crítica geral ao Feminismo Radical
- Conheça a tribo Mosuo, uma sociedade matriarcal