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Em qualquer debate sobre desigualdade que aborda a questão do desemprego, as pessoas mais afetadas são sempre de alguma minoria social (pessoas negras, LGBTQIA+, PCDs, indígenas, pobres, etc.) e isso se relaciona diretamente com o modo de produção vigente na maior parte do mundo: o capitalismo.
O desemprego, ou uma taxa elevada de desemprego, demonstra a falha do capitalismo que só sobrevive por conta desses períodos de crise econômica, isto é, as crises são o período de maior vulnerabilidade do capital. O capitalismo precisa dessas crises pois a burguesia, detentora dos meios de produção, é a maior beneficiada desses períodos, visto que a concentração da riqueza durante os períodos de crise fica com ela, e a classe trabalhadora sofre, consequentemente, com o desemprego, rebaixamento de salários, perda de direitos trabalhistas, etc.
Os períodos de crise econômica do capital, para as minorias sociais, são períodos de perda ainda maior de representatividade social, cultural e principalmente política. Por constituírem a maior parte da classe trabalhadora, as minorias são as que mais sofrem durante a crise. Em determinados grupos sociais, como na comunidade LGBTQIA+, esse sofrimento pode se intensificar com a discriminação sofrida por esses grupos. Na sociedade brasileira, as pessoas trans fazem parte de um grupo social marginalizado, não só por fazerem parte da comunidade LGBTQIA+, mas especialmente por serem trans.
Uma pesquisa realizada, em 2014, com 384 homens e mulheres trans evidencia, nesse grupo social, uma alta prevalência de desemprego e subemprego. Na época da pesquisa, uma a cada três mulheres trans e quase metade dos homens afirmaram não possuir ocupação. Nesse mesmo período, ês autories da pesquisa relatam que, em 2014, o Brasil havia atingido a menor taxa de desemprego da história, isto é, apesar da taxa de desemprego ter sido a menor registrada, os níveis de desemprego presentes nesse grupo social mostram que até num período de “estabilidade”, grupos sociais marginalizados como o de pessoas trans sofrem excessivamente em comparação a grupos sociais mais representados pela classe burguesa.
Segundo uma pesquisa da ANTRA, no Brasil 90% da população trans tem a prostituição como fonte de renda e possibilidade de subsistência. Isto devido à dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho, além do déficit na qualificação profissional causada pela exclusão social. Portanto, entende-se que a exclusão social dessas pessoas leva à dificuldade de inserção no mercado de trabalho, levando consequentemente à exploração sexual, e todo esse sistema atua ciclicamente. O aumento da prostituição vai sendo causado pelas crises do capital, enquanto a exclusão social vai aumentando, a economia se fragiliza, assim mais pessoas trans, principalmente mulheres e travestis, vão sofrendo com a marginalização e exploração de seus corpos.
Além do desemprego, que se comporta como apenas um fator dentre outros decorrentes do modo de produção vigente, a qualidade de vida dos grupos sociais marginalizados deve ser analisada e relacionada com a desigualdade que provoca a sua marginalização. Algumas pesquisas estimam que a expectativa de vida da população trans no Brasil é de apenas 35 anos, outras apontam estimativas de 30 anos. Enquanto a expectativa de vida da população brasileira é de 77 anos, segundo o IBGE, a comunidade trans apresenta menos da metade desse índice. Isso evidencia a ausência de políticas públicas voltadas para pessoas trans, principalmente as que possuem a prostituição como meio de subsistência, visto que estão num meio ainda mais vulnerável e desprotegido, podendo sofrer qualquer tipo de violência. É necessário que o modo de produção seja pautado em discussões sobre desigualdade de gênero, pois é dele que decorre o processo de marginalização dessa comunidade, logo, só será possível conquistar condições dignas tanto para a população trans quanto para a comunidade LGBTQIA+ num geral com o fim do capitalismo.