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Ambientada em um remoto castelo na Estíria e inspirada no folclore do Leste Europeu, a novela Carmilla — publicada mais de duas décadas antes de Drácula — viria a se tornar uma das obras mais marcantes da literatura vitoriana de horror.
Na trama, acompanhamos a narradora Laura revelar aos seus leitores os eventos que circundam a chegada da misteriosa Carmilla, uma jovem aparentemente frágil que se mostrará sedenta por sangue, paixão e vida.
Escrito pelo autor irlândes Joseph Sheridan Le Fanu, Carmilla surgiu 25 anos antes que Bram Stoker lançasse seu romance gótico de terror, Drácula, e sua obra fosse inspiração de para muitas das outras adaptações de vampiros na literatura e outras mídias.
O que é surpreendente para sua época, já que este nada mais é do que um romance sáfico de terror, embora as menções do autor sejam sempre sutis. Carmilla, personagem-título, espalha galanteios deliberadamente sobre a protagonista, Laura, por quem admite estar apaixonada. Entretanto, este é um amor macabro, já que a personagem que dá nome à história seduz e ataca somente mulheres.
Laura não está longe de sua mira e, narrando os acontecimentos da história como marcas de seu passado, são diversas as vezes em que Carmilla se declara a ela, de uma maneira dominadora, como a mesma descreve. O sentimento entre a protagonista e a estranha garota, enquanto hóspede no castelo onde vivia, é vezes descrito como ardente, embora Laura note o mistério, um sinal estranho que, ainda que as aproximasse demais — para os parâmetros de relacionamento da época —, mantinha-a distante e diferente de Carmilla.
Apesar deste indício de que “algo de errado não estava certo”, que inicialmente era pequeno, Carmilla é quem diz juras de amor, tão intensas e fortes quanto os efeitos que a própria tem sobre qualquer um que a olhe, especialmente Laura:
Mas o amor de Carmilla por Laura, frequentemente mostra-se vaidoso. Carmilla assume sempre que Laura faria por ela das mesmas loucuras que ela se imagina cometendo pela própria:
Suas palavras podem parecer corresponder apenas a uma paixão jovem, onde tudo transborda sentimentos demais, mas são, muitas e muitas vezes, possessivas. O “amor” de Carmilla é possessivo, baseado em predar sua “vítima” — Laura — com sua beleza.
Ao mesmo tempo em que o “romance avassalador” entre as duas se desenvolve, uma doença se espalha pela província e toma as jovens de suas famílias, o que preocupa a todos, que temem que ela afete as duas, principalmente Carmilla, que supostamente possui uma saúde tão frágil quanto vidro.
Sempre preocupados com a jovem misteriosa, os adultos ao redor parecem compreender que Laura é a nova vítima desta enfermidade de maneira tardia. Entretanto, um antigo amigo familiar volta de uma longa viagem, com respostas assombrosas a respeito da doença que, no início da narrativa de Laura, havia vitimado sua sobrinha. Mas qual seria a solução? Um antídoto? Um novo remédio? Ou… talvez, a morte do demônio sedento por sangue que assola a região?
Apesar da escrita às vezes complicada, “Carmilla” é uma leitura interessante e vale ser reconhecida, tal como o Drácula de Bram Stoker, que se consagra até os dias de hoje como um dos melhores e mais conhecidos contos de vampiro.
Sobre o autor:
Sheridan Le Fanu foi um escritor irlandês, mestre da literatura fantástica e das narrativas de horror. Nascido em 28 de agosto de 1814 em Dublin, foi educado em casa pelo pai, que lhe ensinou inglês e francês. Em 1872, publicou sua antologia de contos fantásticos In a Glass Darkly. Entre esses contos, está Carmilla, obra fundamental da literatura vampírica do século XIX.
Isabella Mazzanti é ilustradora e fascinada por contos fantásticos, sombrios e sobrenaturais. Formada em Artes Gráficas, tem também um mestrado em Arte e Arqueologia do Extremo Oriente.