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Nascido na periferia da Zona Sul de São Paulo, Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, foi um rapper, cantor, compositor e ator brasileiro. Maurinho, como era intimamente chamado, ganhou o apelido de Sabotage enquanto brincava com seus irmãos.
“Você quer saber o que é o rap nacional? Sabotage. A poesia mais cortante, mais brilhante que você vai encontrar.”
— Paulo Miklos, Titãs.
Luta
Sabotage teve várias brigas com seu pai, que abandonou sua mãe enquanto estava grávida e sempre os visitava embriagado. Por outro lado, o rapper idolatrava sua mãe, Ivonete, que criou os três filhos em condições precárias e sofria com problemas no coração. Ela faleceu enquanto Dalva, esposa de Sabotage, esperava seu primeiro filho, Anderson.
Perder a mãe foi desolador para Sabotage. Tudo que ele fazia era em prol de sua família — sua mãe, seus irmãos, suas filhas e sua esposa. Trabalhava na feira ajudando a montar as barracas, mas ganhava muito pouco. A situação financeira, que já era difícil, ficou pior quando Dalva engravidou pela segunda vez. Muitas vezes faltava comida, e chegaram a utilizar camisetas como fraldas para as crianças.
Desesperado e sem condições de prover para sua família, ele decide entrar para o tráfico e, eventualmente, a vida começa a melhorar com a nova fonte de renda. Mas essa não era a vida que ele queria. Sabotage planejava montar um grupo de rap com seu irmão Deda, que estava preso. Entretanto, por volta de dois meses após ser solto, Deda foi assassinado, e, junto com seu irmão, Sabota enterrou seu sonho.
“[…] Se eu falar pra você que eu nunca me envolvi com o tráfico, é mentira minha, eu me envolvi. Se eu parei e sobrevivi foi porque eu acordei e falei: ‘peraí, eu sempre gostei de cantar rap, eu vou tentar cantar, quem sabe dá certo.’ E deu certo.”
— Sabotage, durante entrevista.
O resgate foi feito por Sandrão, do RZO, e Rappin’ Hood, que acreditaram no talento de Sabotage e o convidaram para retomar a carreira musical. Os parceiros do crime também o incentivaram a se dedicar à música. Assim, ele começa a fazer participações nos shows do RZO e logo se destaca.
“[…] foi os caras que falou pra mim: ‘Meu, você não serve pra isso. Vai trabalhar e cantar rap que você é bom’”.
“[…] O rap me tirou dessa vida do crime.”
— Sabotage, durante entrevista.
Carreira
Seu primeiro álbum, intitulado “Rap é Compromisso”, contou com o apoio do Racionais MC’s e comas participações de Negra Li, Black Alien, Sombra e Bastardo, Cascão, Rappin’ Hood, Potencial 3, RZO e Chorão, do Charlie Brown Jr. O disco foi produzido por Tejo Damasceno, Daniel Ganjaman, Zegon e DJ Cia na gravadora Cosa Nostra Fonográfica e levou 8 meses para ser finalizado.
“A gente sabia que ele era muito melhor que os outros, e ele sabia também”
— Tejo Damasceno, produtor musical.
“Sabotage veio com uma frase que vai ficar pra sempre, que é uma das mais importante do rap brasileiro: ‘Rap é compromisso'”
— Thaíde
Sabotage fez sua estréia cinematográfica em “O Invasor”, do diretor Beto Brant. Ele fez questão de palpitar no roteiro da produção, apontando erros em relação à vida na periferia. Além de atuar, trabalhou na trilha sonora do filme e ganhou o prêmio de melhor trilha sonora no Festival de Brasília.
Atuou também em “Carandiru”, do diretor Héctor Babenco, filme baseado no livro ”Estação Carandiru’‘, do Dr. Drauzio Varella. O longa conta algumas das histórias dos detentos do presídio, que foi a maior prisão da América Latina. Sabotage também voltou a atuar como consultor técnico. Foi ele quem conseguiu os figurantes para as cenas que exigiam um número grande de pessoas.
“[…] O Sabota era uma referência muito forte pra todo mundo que tava ali, até mesmo pro Babenco.”
— Ailton Graça, ator.
A Lenda
Em 24 de janeiro de 2003, ele foi assassinado a tiros em São Paulo. A morte precoce pode ter contribuído para que atingisse o status de lenda, mas Sabotage se tornou imortal através de suas músicas.
“Sabotage era um cara totalmente música, ele tinha a música no sangue dele.”
— Mano Brown
Sabotage estava em uma fase tranquila de sua vida. Ele viveu os últimos três anos em vida com seus filhos, Wanderson e Tamires, na comunidade do Boqueirão, no bairro Jardim da Saúde, em São Paulo.
“Um mestre, um monstro, um professor. Sabotage.”
— Sandrão, RZO.
