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Dentro da comunidade LGBTQIA+ utiliza-se muitos termos guarda-chuva para agrupar certos tipos de expressões de gênero e/ou de sexualidade, ou para facilitar ao explicar como funciona cada expressão destas. O termo guarda-chuva “não-binárie”, por exemplo, designa pessoas que se identificam com gêneros fora da binariedade, como pessoas agênero, gênero-fluído, etc.
Pessoas de fora da comunidade, principalmente no século 17, utilizavam o termo “gay” para descrever pessoas consideradas “decadentes” ou “promíscuas”, como mulheres que eram trabalhadoras do sexo. Somente durante os anos 60 a comunidade ressignificou o termo que antes era pejorativo, assim, era bastante comum pessoas dentro da comunidade LGBTQIA+ utilizarem a palavra “gay” como sinônimo de alguém que fosse LGBTQIA+, no sentido de identificar essas pessoas. Entende-se que essa ressignificação aconteceu mais especificamente em países anglófonos, como na Inglaterra e principalmente nos Estados Unidos. No Brasil, os termos “bicha” e “viado” foram adaptados dentro da comunidade de forma semelhante ao termo “gay” nos países de língua inglesa.
Ainda sobre a ressignifcação de termos, é possível traçar um paralelo com a palavra “Queer”, antigamente utilizada como uma forma pejorativa sinônima da homossexualidade. Alguns movimentos militantes dos Estados Unidos, durante a década de 80, adotaram a palavra Queer, ressignificando sua ideia e trazendo para a comunidade de modo a desconectá-la do seu significado pejorativo.
Apesar da comunidade LGBTQIA+ ter feito o mesmo com o termo “gay”, o problema de utilizá-lo como sinônimo de qualquer pessoa inserida na comunidade vai muito além disso. É importante a ressignificação dos termos, mas é preciso considerar a quem esses termos devem ser utilizados.
É comum a utilização da palavra “gay” no sentido de descrever um sentimento. Algumas pessoas não-gays, estejam elas dentro ou fora da comunidade LGBTQIA+, utilizam frases como “estou tão gay hoje”, passando a ideia de “gay” como adjetivo, em tom de “brincadeira”, estigmatizando a comunidade gay. Isso é problemático principalmente por reduzir a sexualidade a um adjetivo, invalidando seu significado.
Além disso, o emprego de “gay” para toda a comunidade LGBTQIA+ faz com que outras partes da comunidade tenham suas pautas apagadas. O termo representa a orientação composta por homens e pessoas de alinhamento masculino ou neutro que se atraem exclusivamente por pessoas destes mesmos gêneros, de modo que não deve ser utilizado para se referir a homossexuais de outros gêneros ou a pessoas multissexuais, e empregar tal palavra de outra forma, generalizando-a, é abandonar a ressignificação e invalidar outras identidades de gênero e de sexualidade. Ainda que haja a necessidade de uma união dentro da comunidade, cada orientação possui pautas específicas, então essa diferenciação é importante para que se cuide melhor de cada pauta relativa à uma parte da comunidade LGBTQIA+.
Sendo gay a orientação mais visibilizada da comunidade queer — e, ainda assim, extremamente marginalizada —, tratar como gay uma pessoa que não se identifica com essa orientação é apagamento, seja das multissexualidades (bi, pan, poli, omni), das pessoas não-binárias e trans binárias, das pessoas no espectro assexual, etc. Compreende uma invalidação maior do que se imagina, por isso é preciso problematizar e ouvir essas comunidades, principalmente pessoas de identidade MOGAI (identidades e orientações marginalizadas), já que são formas de marginalizar mais ainda essas pessoas.