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Estudante de Direito, Asmi entrou na arte por acaso, após consumir Fanfics e Webcomics no auge da sua pré-adolescência.
“Minhas melhores criações são com rabiscos tortos, erros, porque meus sentimentos que guiaram ali, não minha estética”
— Asmi
Como você se apresentaria? Quem é Asmi?
Sou uma pessoa aroace e não-binárie (ela/elu) de 20 anos que entrou na arte por acaso, após consumir Fanfics e Webcomics no auge da sua pré-adolescência. Atualmente eu desenho, escrevo e desenrolo no design, além de cursar Direito na Universidade do meu Estado. Creio que a minha maior paixão seja o poder de expressão que a arte possui e as infinitas possibilidades que acompanham esse cenário: adoro me debruçar sobre o que há dentro (de mim, dos lugares, das pessoas). Sou totalmente sentimental, muito expressiva e amo tudo aquilo que faço.
Você desenha, escreve, pinta e faz design. Pode nos contar um pouco da sua inserção no mundo da arte?
Eu comecei a escrever fanfics aos 11 anos depois de encontrar o site Nyah! Fanfiction e perceber a partir dali que eu também poderia criar as minhas próprias histórias dentro de determinados universos. Com o desenho, eu sempre gostei de desenhar, mas só decidi me aprofundar nisso quando comecei a ler Webcomics no Tapas.io e aquilo me inspirar o suficiente para que surgisse a vontade de fazer a minha própria comic, mas para isso eu precisava saber desenhar, ainda que fosse o básico do básico.
Criei então uma história chamada Caeu, baseada na música da Liniker, e fui me debruçando nessa dinâmica de personagens totalmente originais. A partir daí eu percebi que eu realmente gostava de desenhar, e não apenas para fazer uma webcomic, mas também para produzir fanarts, cenas do cotidiano e até sentimentos próprios que eu não conseguia expressar de outra forma que não fosse pintando. Desde então, nunca mais parei. O design veio como uma quase obrigação para uma jovem autora de fanfics que não tinha como pagar capistas profissionais, então eu fui atrás de aprender como fazia aquilo, tentei expandir meus horizontes para além das fanfics e treinei bastante design em relação às mais diversas coisas.
Atualmente, você está cursando Direito na graduação, o que é bem distante da questão artística. Como você concilia seu eu artista com seu eu estudante?
Então, eu não concilio. Sinto que desde que comecei o curso eu sinto muita dificuldade em separar um tempinho para fomentar o meu processo artístico. Eu percebi que existe uma grande diferença quando você está no Ensino Médio e pode procrastinar até certo ponto e quando você ingressa em um Ensino Superior e tudo vira uma bola de neve. A rotina é mais corrida e o trabalho, atividades, leituras, esgotam bastante o tempo que antes eu dedicava para simplesmente sentar e desenhar. Mesmo assim, eu tento produzir uma coisa ou outra quando consigo alguma tarde livre, e, além disso, eu redescobri o conceito de journaling que ajuda bastante a colocar os pensamentos no lugar e a exercitar esse lado mais criativo que a universidade por vezes acaba sufocando.
Além disso, você foi diagnosticade com TOC há algum tempo. Você diria que o transtorno reflete em algumas partes da sua arte?
Nossa, totalmente! Por muito tempo eu me prendi muito à ideia de que a minha arte tinha que ser perfeita: com anatomia perfeita, escolha de cores perfeita, enquadramento perfeito. E isso bloqueava muito do meu lado criativo, pois eu estava tão preocupada com todo aquele ideal de perfeição, que eu não sabia o que fazer além de copiar e copiar aquilo que eu aprendia. Os meus personagens eram basicamente todos iguais, pois eu não me aventurava em buscar novos estilos, novas poses, ou qualquer coisa que saísse da minha zona de conforto.
Foi apenas quando eu escolhi um caderno e escrevi na capa “Aqui só tem arte coisada” que eu me permiti ser mais honesta comigo mesma, aprender com os meus erros e deixar a criatividade sair solta, ainda que não o resultado não se enquadrasse exatamente na minha visão do que é “esteticamente bonito”. Além disso, a neurodivergência acaba drenando as minhas energias quando eu me sinto muito sobrecarregada, o que me fazia entrar em bloqueios criativos intermináveis. Hoje em dia eu estou um pouco melhor nesses aspectos, mas continuo em busca de algo que concilie criatividade e técnica.
Você também faz ativismo e escreve textos sobre a comunidade queer e outras pautas sociais. Gostaria de falar um pouquinho sobre isso?
Escrever sobre a comunidade queer é, possivelmente, uma das minhas coisas favoritas nesse universo. Eu me sinto genuinamente feliz com todo o processo de pesquisa e estruturação dos textos, até porque tem muita coisa (e muita coisa mesmo) que não vem pronta, que não tem praticamente nenhuma fonte sobre, então você tem que tá ali, pesquisando um pouco sobre o ponto de vista das pessoas que vivenciam aquela experiência e tentar traduzir aquilo em um texto.
É um trabalho que eu particularmente adoro, ainda mais quando alguns dos escritos envolvem minhas próprias experiências como pessoa queer. Ainda existe um longo caminho para uma maior visibilidade de pautas que não são tão debatidas – ou que são marginalizadas até mesmo pela própria comunidade LGBTQ+, então saber que eu ajudo de alguma forma na publicização desses assuntos me deixa de coração quentinho.