Radiogaláxia – E05 | Raquel Soares

Descrição:

No último episódio da temporada recebemos Raquel Soares, escritora e youtuber, além de ilustradora e revisora nas horas vagas.

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Transcrição

[♪ Música de abertura]


Ash: Olá, eu sou o Ash, meus pronomes são ele e ela, e este é o Radiogaláxia, um podcast LGBTQ+ Spacey. 


[♪ Música se intensifica e depois abaixa]


(00:18)
Ash: Youtuber, Escritora, Revisora, Desenhista, Mestranda em Escrita Criativa. Esta é Raquel Soares. Seja bem vinda Raquel.


Raquel: Olá, obrigada por me convidarem! Então como já sabe meu nome é Raquel Soares, a não ser no meu Instagram de trabalho que é “Palavras Salgada”, que foi como eu comecei a me expor no mundo literário. Nas outras redes é Quequel porque eu acho que todo mundo tá brigando comigo quando me chamam de Raquel. Eu escrevo desde os 6 anos de idade, sou formada em escrita criativa também né, me formei em 2019 entrei no mestrado esse ano, pretendo fazer doutorado também. Eu sou bissexual e demissexual e os meus pronomes são ela/dela e eu pretendo trabalhar na área acadêmica no futuro para falar sobre literatura e representatividade também.


(01:06)
Ash: Você falou que escreve desde os 6 anos, como que surgiu esse interesse pela escrita?


Raquel: Isso é bem engraçado, porque tipo, quando a gente tem 6 anos a gente aprende a ler e escrever, e para mim foi tipo: eu aprendi a escrever e algo me dizia que era o que eu tinha que fazer pelo resto da minha vida. Eu simplesmente amei a criar esses universos porque na minha escola a gente tinha vários exercícios de redação, assim para a criança ir desenvolvendo esse mecanismo de argumentação e criação de cenários, e aí eu senti um prazer muito grande por isso, inclusive o meu primeiro livro eu escrevi com 8 anos e eu montei com as folhas de caderno e dei de presente para minha avó no aniversário dela.


Ash: Que fofo! Você é formada em escrita criativa, como que é esse curso?


Raquel: É sempre… Sempre me perguntam isso: o que é que é escrita criativa, é de comer? Como é que funciona isso aí? A escrita criativa, ela foi por muito tempo uma pós-graduação das Letras em algumas universidades, por que tem tipo teoria da literatura, linguística, e aí depois tinha escrita criativa e dependendo da universidade tem outros nomes. Mas a base é basicamente esse estudo da literatura mais e mais para criação da escrita mesmo, do trabalho de escrita, de oficina, do trabalho de estudar literatura pelo ponto de vista do escritor sobre as características da construção desses textos, por exemplo romance, roteiro, poesia conto crônica…

Então é mais basicamente um curso de formação para escritores que querem trabalhar na área da escrita, dando cursos ou fazendo revisão, como eu faço. E esse curso ele surgiu por causa do meu professor, o Assis Brasil, que ele dava esse curso de literatura na PUC e aí um dia chegaram para ele: bora fazer uma graduação? E aí ele: bora! E aí a primeira turma… acho que foi em 2016? Eu acho que que foi 2016, 2015. E é um curso tecnólogo de 2 anos e meio, aí basicamente a gente tem uma grade curricular de teoria e de produção literária, então todas as algumas cadeiras são muito parecidas com as letras, mas com esse foco mais para escrever, para lapidar tua escrita, mais ou menos, e aí agora eu faço o mestrado para poder virar professor universitário.


(03:24)
Ash: Isso que é legal vei, e que bom que… que foi criado esse curso. Imagino que muitas pessoas quisessem algo assim, mas não encontrasse ou não soubesse como seria fazer esse curso né?


Raquel: É, porque tem muita gente que… Por exemplo, eu sou um exemplo, eu sabia que eu queria trabalhar com escrita, mas eu não sabia que curso eu faço se eu gosto de escrever e gosto desse trabalho e eu quase fui para o jornalismo, mas acabei passando por um curso de escrita criativa e tinha muito colega meu que fez jornalismo e viu que não era a sua praia porque era uma coisa completamente diferente do que a pessoa buscava para escrita. E a mesma coisa com letras né, porque letras ou tu vira tradutor e pesquisadora ou tu vira professora e nem todo mundo quer essas áreas.


Ash: Você vive a escrita praticamente né? Você escreve poesia, resenhas, e além de ter o canal no YouTube que é focado em livros. Como que é ter a sua vida ao redor da literatura ou ter a literatura envolvida em todas as todas as partes da sua vida?


(04:20)
Raquel: Eu acho que é muito prazeroso, por que é trabalhar com uma coisa que eu amo e a gente sabe que às vezes tipo fazer o que tu ama nem sempre é fácil porque… Olha o país que a gente vive né! Porque os artistas não são muito remunerados né, mas é até meio engraçado porque quando eu terminei o curso eu não sabia… Quando eu comecei o curso eu não sabia o que ia fazer com isso né?  Sabia que queria publicar livro, essas coisas, mas o que fazer com o resto da vida. E aí nesse meio termo assim de estudar teoria, de ler artigo e de escrever alguns de vez em quando, eu descobri que eu gostava muito da área acadêmica, de poder analisar a literatura, de poder falar de livros e falar de livros da nossa literatura brasileira e da área de infanto juvenil que é a área que eu mais estudo e consumo porque querendo ou não é um gênero que as pessoas diminuem bastante eu acho que a gente tem que mudar o pensamento das pessoas. Então para mim é… é muito gratificante poder viver cercado de livros, de palavras e estudar isso e participar. Eu participo agora de congressos por causa do mestrado então é muito legal eu chegar lá e falar olha esse livro eu gosto muito dele porque isso, isso e isso, ele tem essa estrutura que é assim e tals… Eu poderia passar horas falando sobre livros se os congressos não duraram 15 minutos para cada pessoa falar.


(05:35)
Ash: pela maneira que você falou… Eu identifiquei muito… Me corrija se eu tiver errado, mas me parece muito que é um hiperfoco seu, a literatura.


Raquel: Sim, com certeza está na minha lista de hiperfocos, tipo literatura e escrita… Se a pessoa chegar pra mim e perguntar:  ai sobre o que é esse livro que você tá escrevendo? Eu vou falar: ok prepare-se para o meu  Ted Talk de uma hora e meia. E a mesma coisa sobre livros que eu tô lendo, que eu tô pesquisando e até sem perguntar da minha pesquisa de mestrado eu vou: “não porque esse teórico ele não sei o que…” eu vou encher o saco da pessoa.


Ash: É muito bom quando alguém puxa assunto sobre o nosso hiperfoco.


Raquel: Sim, é muito prazeroso.


(06:25)
Ash: Com certeza ter hiperfoco na área de você estuda ajuda muito. Eu posso dizer com propriedade porque eu já tentei fazer vários cursos e não consegui porque não conseguia focar ou prestar atenção e hoje eu tô estudando bastante programação porque virou o meu hiperfoco e eu queria saber de você: se você sentiu alguma dificuldade no curso ou no processo de escrita por conta do TDAH.


(06:40)

Raquel: Então… Na graduação… na graduação foi a época que eu parei de tomar ritalina né, que na escola tinha todo aquele negócio “aí do vestibular do Enem” aquela caralhada - desculpa o termo - de matérias que nem sempre a gente gosta, que nem sempre a gente tem essa facilidade né de aprender e focar naquilo. Então foi um ambiente… 

Como eu tava cercada de coisas que eu gosto era mais fácil de focar, mas eu acho que agora no mestrado que talvez até sentindo mais porque no mestrado eu sou bolsista e por causa da bolsa a gente tem muitas coisas que precisa fazer para manter a bolsa sabe? Participar, publicar coisas, tá sempre envolvida com o meio acadêmico e acho que a maior dificuldade foi a questão de hiperfoco também porque às vezes eu esquecia de comer tipo: “ah Raquel, vai descansar, para de trabalhar nesse artigo mulher! Aprenda a dormir!” ou aí é aquela toda… toda aquela pressão de hã, será que eu estou fazendo o suficiente? Por que as outras pessoas conseguem fazer tantas coisas eu não consigo fazer no mesmo ritmo que elas ou tipo tentar o máximo me organizar também porque são várias datas, são várias coisas para fazer e entregar ao longo. 

Então tive que ter um caderninho que organizava tudo que eu tinha que ler, porque senão eu não lia. Então tive que me forçar a ter uma rotina também para conseguir produzir as coisas, então é mais essa a me adaptar a tal ambiente para não surtar, digamos assim. E aí tipo já no último… agora no final…eu já acabei né, o segundo semestre tava ainda pior porque tava com muito estímulo de coisa. Nossa, participei de muita coisa, entreguei muita coisa, e eu já… Tanto que eu perdi o horário de outras coisas porque eu já não sabia mais onde é que eu tava, eu tava completamente desorganizada e quase num cansaço então é tipo mais essas… essas cobranças assim e tentar lidar com essa demanda muito grande né de obrigações.


(08:28)

Ash: Lidar com TDAH é basicamente lidar com o caos.


Raquel: Basicamente. (riso)


Ash: Resumindo em uma palavra: caos (rindo). Nas maneiras que você falou acho que é basicamente aquilo que dá para fazer de tentar montar uma agenda para você.Um lembrete visual do que que tem para fazer porque eu sinto muito disso de se eu não vejo o que eu tenho para fazer eu esqueço completamente.


Raquel: Exatamente!


Ash: Então isso com certeza ajuda. Queria perguntar se essa organização que você teve para o mestrado, se é assim também para o canal?


(09:00)


Raquel: Ai, meu canal é muito free style! (risos de ambos) Aí, é porque no começo eu fazia muito com aquela pressão dos números, sabe? Aí de alcance… nem é o Instagram né? O instagram a gente fica bem chateado com o algoritmo. Mas no fim eu faço mais como um hobby e o espaço onde eu possa falar de literatura o quanto eu quiser, falar dos livros que eu gosto pra pessoas que gostam também, de ouvir sobre isso sem toda essa pressão. Então quando eu tenho tempo e energia eu vou lá e faço um vídeo da hora! Agora fiquei sem tempo né, que eu tava trabalhando que nem uma condenada.

Eu por exemplo… no começo eu fazia roteiro escrito assim com tópicos do que eu ia falar porque eu tenho muita ansiedade social, então nos primeiros vídeos parecia que eu ia morrer né… não tem ninguém ali mas cê sabe que alguém vai te ver. Então é tipo: eu tentei, mas agora eu só treino … eu uso o tdah, já que eu falo sozinho no meu quarto, eu uso ele como meu super poder e eu treino sozinha e tipo eu estou numa entrevista com outra pessoa e esse é o meu treino. Depois eu chego na câmera e tipo vira uma outra personalidade.. Eu me encarno! Hoje em dia é mais uma coisa muito mais solta e muito mais light, muito mais livre e que se orna mais com os meus cronogramas.


(10:18)
Ash: Dá para perceber bastante essa… isso que você falou de que nos vídeos mais recentes. Você tá muito mais leve até na fala. Dá para perceber que você tá mais tranquilo em frente à câmera.


Raquel: Eu fui tipo me soltando aos poucos e isso foi muito importante para eu enfrentar um pouco a minha ansiedade social, esse medo de ser vista pelas outras pessoas. Tipo, pensava que que as pessoas vão pensar de mim né? Aí tu chega numa fase da vida adulta que você tem que ligar meio o foda-se para esse tipo de coisa porque senão tu não faz nada na vida… foi indo (risos).


Ash: (risos) Acaba sendo inevitável né? O mundo te força a fazer certas coisas. 


Raquel: A sair da caixa! (rindo)


Ash: É… (rindo) Por falar nos seus vídeos, em muitos deles aparece uma coleção de bonecas.


(11:00)

Raquel: Aí, são todas as Barbies… é literalmente todas as Barbies que eu já ganhei na minha vida. Acho que a mais antiga é uma que tá mais abaixo, que ela veio de Paris porque a minha vó tinha uma amiga chique e que a amiga chique dela foi para Paris, achou uma boneca e me deu.  Ah, eu com seis anos não sabia o que era uma boneca chique não, só queria brincar de casinha… Mas é literalmente tudo que eu já ganhei. Eu tenho tipo uma Bratz aqui no meio, tem uma coleção de Suzys porque eu também tive uma cozinha da Suzy, perdi tudo mas enfim… e depois com o passar dos anos eu continuei ganhando. 

Eu ganhei uma da Monster High e eu ganhei um boneco de Veneza também, uma boneca com mexicano, e uma bonequinha chinesa, e uma estátua do Poseidon o meu Papito grego! E aí tipo, em cima do armário tem mais tipo coleções, mas assim eu tenho… eu tenho dois Pop Funkos e algumas coisas… eu tenho um santuário para Sakura de Naruto também, ela é minha deusa, o primeiro crush da infância véi1 Então eu tenho um pequeno santuário para ela e eu gosto de colecionar bonecas, inclusive eu quero comprar agora as as novas que saíram que tem tipo algumas com próteses mecânicas, algumas mais baixinhas, porque eu sou baixinha né, umas menorzinhas, tem umas com corpos gordos agora tem também bastante na nova linha da Barbie então eu quero… 

Tudo o que tiver de novo da Barbie eu tô comprando. Eu doei minha cozinha da Susi eu doei minhas Pollys, eu doei minhas fofoletes, eu doei muita coisa e eu fiquei “As minhas Barbies não”” Um dia quem sabe eu não ganho dinheiro com elas, nunca se sabe. A minha mãe dizia que elas eram mal assombradas e que ela vão sair de (inaudível, risada de Ash). Eu tenho outras coleções também: eu tenho uma coleção da Turma Mônica Jovem, eu tenho dês.. Eu tinha desde a número zero, mas eu acho que eu perdi ela na mudança, talvez eu tenha que garimpar ela no futuro para ter de volta. Aí eu tenho literalmente da primeira edição até a 100 e algumas da segunda temporada e depois eu parei de comprar, mas eu tenho tipo tudo, os posters, eu tenho uma boneca da Mônica, eu tenho o Sansão e a Dalila, outro hiperfoco.


(13:04)
Ash: Voltando um pouquinho para escrita seu primeiro livro foi o Praia das Conchas né?


Raquel: Então eu comecei a escrever ele na praia inclusive né, porque eu fui passar as férias em Florianópolis mesmo, onde passa a história. E a casa onde eu tava, que era a casa de uma amiga da minha mãe, ela literalmente dava para beira da praia daí eu ia ali pros fundos, sentava numa rede, conseguia ouvir o barulho das ondas e para mim aquilo foi muito inspirador para escrever uma história porque eu amo o mar eu literalmente sou uma [inaudível] e aí eu fiquei tipo “aí vou escrever uma história” e daí eu fui tipo… Os personagens, eles só tipo chutam a porta da minha cabeça e chegam sabe? Tipo “oi bom dia bora bora escrever isso aí” e aí isso era para ser tipo uma novela, mas aí no fim acabou sendo um conto. E aí tipo fui moldando os personagens a medida que eu ia escrevendo. 

Tipo tem uma personagem que é inspirada num antigo amigo meu que é não binário e tem um que é um… é um menino trans que eu desenhei ele e ele tipo chegou para mim “olha eu faço parte dessa história bom dia boa tarde boa noite” e eu fiquei “tá bom” e ele escolheu um nome para ele da minha lista de nomes e eu fiquei “beleza esse é o seu nome agora parceiro bem vindo ao barco”, mas foi tipo foi minha primeira experiência pra testar mais né, pra ver como é que era funcionalidade de publicação porque eu não fazia ideia que isso existia e durante a pandemia me conectei com muitos escritores, foi assim que eu entrei nessa maré de escrita e comecei a pesquisar marketing essas coisas e eu comecei a ver que muita gente tava publicando e aí eu fiquei “ah vou testar para ver como é que é né”. 

E foi uma experiência interessante, tipo eu sei que tem algumas coisas na narrativa que obviamente eu faria diferente hoje, que eu teria mais cuidado, mas eu tenho muito orgulho dele porque eu amo meus personagens! Eles são uns nenéns, são meus filhos, e eu ainda planejo relançar ele com uma cena extra e com uma revisão também melhor, uma diagramação bonitinha, e com uma nova com uma nova capa que eu tenho uma amiga que ficou tão apaixonada que ela fez uma fanart deles e eu amei o traço dela então eu vou pedir para ela fazer a nova capa também.


(15:05)
Ash: Cê tem outros dois livros né?


Raquel: É, eu tenho um que eu publiquei agora esse ano, que é “Os corredores que me levaram até você”. Eu publiquei com uma editora mesmo aqui de Porto Alegre, e esse… esse eu acho que deu mais trabalho porque eu escrevi ele durante a pandemia em 2 meses. Inclusive eu entrei num hiperfoco muito louco, me superei na hiperprodução e também foi uma experiência para mim. Foi uma experiência de começar um livro sem ter algo muito planejado e eu acho que é legal quando a gente sai um pouco da caixa e tenta fazer algo diferente como escritor, se desafiar de alguma maneira, e eu acho que escrever e é sempre estar buscando coisas novas para aprontar, e ele veio de um conto que eu escrevi pensando num anime, muito otaku. (risada) E aí eu resolvi pegar esse conto transformar em outra coisa e depois tipo, eu consegui contrato com a editora e tal ,só que demorou para ser lançado e logo depois estourou a pandemia tipo, foi no mesmo ano. Deu Março já tinha estourado o covid aqui no Brasil, no resto do mundo e aí atrasou muitas coisas. 

Eu consegui lançar esse ano e aí ele passou, até foi bom por ele ter atrasado porque eu consegui ter o tempo de contratar uma leitura sensível. Quem fez foi Rihanna Santos, inclusive maravilhosa, e depois a leitura crítica, a revisão, foi com um amigo meu também que não binário, que faz algumas revisões ali no pessoal do booktwitter também, que é o Brendon. Ele trabalhou com o marketing, ele trabalha muito com marketing inclusive foi ele revisou e eu consegui lapidar melhor o meu livro, e mais importante: eu e a personagem, a gente se descobriu demisexual meio que juntas, então foi um processo muito legal porque acho que era uma coisa que eu precisava passar para perceber que boa parte das personagens eram também do espectro assexual. Então eu consegui introduzir isso ainda mais na história, tipo botar essa palavra que significou tanto para mim, que fez todo o sentido na minha vida e trazer essa percepção de se apaixonar pela primeira vez sendo uma pessoa demissexual, uma coisa com a qual eu me identifico, que eu visualizo, e que outras pessoas podem visualizar também então é um dos livros que eu tenho bastante orgulho desde a  primeira vez que eu consigo escrever sobre isso e falar isso em voz alta para as pessoas.


(17:21)
Ash: Vocês teve uma sessão de autógrafos, como que foi esse evento?


Raquel: Sim, eu tive, ai… Ai, foi tão lindo, foi tão mágico, parecia que eu ia vomitar de tão nervosa! Ai, foi muito legal porque eu pude.. no lançamento eu pude ir que nem uma bandeira ace ambulante, então foi uma experiência muito legal, uma maquiagem de arco-íris na minha cara também bem discreta para família. Eu fico “uhh é só arte galera”, mas foi muito legal porque foi bastante gente. Até a minha vó, tadinha, tava com medo de não ir pessoas e ela a ficar mto triste (risos)... ela tava com muito medinho, mas enfim foi bastante gente eu fiquei até umas… já cheguei em casa era umas 10 horas, que a gente ficou um tempão lá. Eu lanchei e fiz o lanche da tarde, da noite lá, inclusive, mas foi legal de ter essa experiência de autografar um livro teu físico, que tá na tua mão, e as pessoas comprando. Teve também a questão de que eu dediquei esse livro para minha avó também e ela não sabia, então teve essa experiência dela ver o livro pessoalmente ler a dedicatória que eu fiz para ela porque ela foi uma das minhas inspirações na infância também pras artes querendo ou não porque eu cresci na casa dela. E depois agora teve a Feira do Livro de Porto Alegre que eu participei também… 

Essa não foi muita gente porque era em um dia de semana e era que as pessoas trabalham, tem aula, e é tipo meio difícil, mas igual eu adorei porque eu sempre sonhei tá ali naquele standzinho das pessoas, com o meu nome em cima. Então eu acho que aquilo de pequenos passos que realmente importam da jornada para se tornar escritor, sabe? Ai, nossa, eu fiquei destruída! Depois a minha energia ficou lá no chão, nossa! Eu gastei toda minha energia social ali. Eu tava de salto alto ainda naquele dia, eu odeio… eu odeio usar salto. Detesto! Não é confortável, okay? Usar essas coisas… aí maldito seja aquele o… o, o Reizinho lá da França que inventou o salto alto. Odeio aquele homem! Só porque ele era baixinho tinha que inventar um salto alto. Maldito! Enfim, mas eu consegui manejar porque eu tava tipo num lugar que era seguro, por que todas as pessoas eram pessoas que eu conhecia, que me queriam bem, então não chegou a afetar muito a minha ansiedade, mas a hiperatividade assim sabe aquela hiperatividade com ansiedade e tal? Excitação do tipo “meu deus o que que eu vou fazer com meu corpo” foi mais nesse sentido mas depois que eu saí assim tipo completamente os olhos eu… tava tipo ãhn, soninho.


(19:35)
Ash: A bateria social acaba e a gente só quer dormir.


Raquel: Exat- (risadas) Tá embaixo das cobertas, botar os vídeos do YouTube, esquecer que a humanidade existe.


Ash: Exatamente. (riso) Você que começou a escrever aos seis anos… Você consegue perceber se sua escrita mudou, se a visão da Raquel de 6 anos é a mesma da Raquel de hoje?


(19:56)

Raquel: Nossa eu acho que… eu acho que a única coisa que se mantém a mesma é a minha ânsia por escrever. Ai, a gente sempre pensa naquele negócio de legado, porque eu tive uma cadeira esse semestre que era sobre “Fontes e arquivos literários”, que a gente tem o arquivo dos escritores né, nas universidades assim de pesquisa. É muito pensando: “que que eu vou deixar para trás para as pessoas vasculharem, pesquisarem e fazer trabalho sobre?” Uma pequena pressão, mas desde que eu era criança eu queria muito escrever porque era uma coisa que eu amava e me deixava extremamente feliz, e acho que a medida que eu fui crescendo e se tornou um lugar seguro para mim, para eu me expressar, para eu falar de coisas que eu acho que as pessoas não vão entender, que nem todo mundo entende, e pra escapar também de várias coisas… porque eu tive amizades ruins na escola, então o ambiente escolar é uma porcaria né vou ser bem sincera aqui né porque é uma merda na escola conviver com gente da nossa idade. É uma porcaria não recomendo! E depois eu eu comecei a querer ter os meus livros para o mundo, eu descobri que eu queria criar a escrita como um espaço seguro para as outras pessoas, pra que as pessoas achassem nos meus livros a segurança que eu achava quando escrevi e que eu acho quando leio outros livros. É mais aquilo “a arte me salva e com ela tento salvar os outros também”. 

De alguma forma eu vejo muito isso dessa mudança que a gente faz no mundo através da literatura e das artes em geral, é uma das coisas mais bonitas que eu vejo e é uma coisa que eu fui amadurecendo com o tempo com contato com o estudo e a minha escrita… Nossa! Tá  mil vezes melhor do que quando eu era criança! Criança eu era… nossa, eu fiz um vídeo inclusive no meu canal sobre os meus textos antigos: “olha só que vergonha” entendeu? Eu fiz Fanfic da minha vida na escrita também, aproveitei esse pequeno momento para falar dos crushs da escola, e eu acho que eu tô muito na dúvida em várias questões no que eu quero retratar também porque eu acho quando eu era criança eu também tinha uma visão muito idealizada sobre relacionamentos sobre amor no quesito assim geral e também muita influência norte-americana na minha na minha vivência então muita coisa mudou na minha escrita exatamente por isso porque eu consegui sair desse nicho né… 

Comecei a consumir mais nacionais e me desassociar dessa criação inteiramente norte-americana da televisão, da literatura de fora, e etc, e também tentar retratar outras coisas na minha história tipo até mesmo o livro que eu que eu trabalhei para o meu TCC que fala sobre depressão na literatura infanto-juvenil. Quando eu escrevi eu tinha uma visão muito forçada, porque eu acho que eu queria que a vida fosse fácil desse jeito né de “ah a gente às vezes tem nossas questões de saúde mental e tem todo aquele negócio que não o amor vai curar tua saúde mental você vai ser salvado por um grande relacionamento essa é a única coisa que funciona, tipo, terapia? Foda-se terapia” e eu tinha essa visão porque eu queria ter essa esperança de 	“ai se eu encontrar uma pessoa que for realmente supimpa eu vou ficar supimpa também”.

Eu queria me enganar dessa forma aos 15 anos, mas depois quando eu fui para faculdade comecei a estudar, a ler, pesquisar, eu percebi que não é assim, então eu tentei.. Eu retro.. Eu transfor-.. Eu retransformei toda a minha história porque ela era bem essa visão, também os nomes dos personagens tudo americano, não sei o que eu tinha na cabeça, mas é os nomes deles, eles escolheram não posso fazer nada mais agora. É mais de anos que o nome deles é assim eu não posso fazer nada a não ser que eles digam “ah vou mudar”... até lá é esse, mas eu acho que é mais esse processo de amadurecimento que vem com a idade mesmo, com as experiências da vida porque às vezes a gente acha que é uma coisa assim, mas no fim ela é bem mais complexa, e eu acho que isso reflete muito na minha escrita sempre.. Eu sempre pego nos meus antigos exatamente para… acho que “nossa tô escrevendo uma porcaria, ai que tá uma merda”, eu vou lá e leio meus antigos, e penso “não, eu evoluí bastante, eu tenho que parar de me auto sabotar e ter orgulho de mim.”


(23:52)


Ash: E quais são os seus projetos que que cê tá trabalhando no momento que cê pode contar para gente?


Raquel: Nossa muita coisa meu Deus alguém me pare. Olha aí o TDAH de novo né, a pessoa que acumula coisas. Ah! É… Agora eu, eu terminei dois livros de poesia, uma eu não vou publicar, o outro sim… Tipo, eu vou deixar mais um tempinho na gaveta para maturar, digamos assim, mas esse que eu escrevi, eu escrevi tipo, hã, eu fui escrevendo a parte das minhas crises de ansiedade, então é um livro muito light, muito tranquilo, soft . 

Tem o livro que eu tô trabalhando no mestrado também, que eu entitulei para todo mundo que é as gays no espaço. Tem os alienígenas gays, é maravilhoso, e vai ser uma trilogia, mas pro mestrado eu vou trabalhar apenas o primeiro livro que eu já terminei, eu tô só revisando agora com o orientador, terminando bonitinho para entrega depois no ano que vem, e eu tô trabalhando no conto de um dos personagens dessa…  dessa narrativa, é tipo um back story delu que ela é não-binárie e acho que vai ser essas as coisas que eu tô trabalhando. No meio do ano eu também inventei de começar um livro de contos de realismo mágico com crianças, por causa de uma cadeira que eu fiz, mas o mestrado estava comendo a minha saúde mental então não deu pra terminar esse… 

Pra terminar esse ainda. E tem também os outros que tão só na ideia, tipo eu tenho literalmente uma lista de livros que eu ainda vou escrever, livros que tão só rascunhados, tem o livro do meu TCC que eu também voltei a escrever algumas… alguns capítulos, porque esse como ele tem o tema da depressão, da ansiedade e outros temas sensíveis, ele é um livro bem mais denso, então eu vou picotando ele aos poucos para não ficar tão pesado para mim enquanto eu escrevo também, pelo bem da minha saúde mental eu tento diluir um pouco ele nesse processo. E eu acho que no básico é isso e tem um outro livro de poesia também que eu tô escrevendo, que eu eu tenho que entrar no hiperfoco Taylor Swift, entendeu? Pegar minha playlist da Taylor de sofrência para terminar de escrever. Mas o básico é isso e provavelmente vai ter esse livro de poesia… Um dos livros de poesia vai ser lançado no ano que vem.


(26:13)


Ash: E para finalizar, você falou que é muito fã da Sakura de Naruto.


Raquel: Sim! (animada)


Ash: Eu queria te pedir uma recomendação de anime.


Raquel: Nossa! Ai que tenso! Peraí, deixa eu pensar. Eu sou… Eu sou uma fã de anime meio fajuto, sabe? Eu faço aqueles testes de personagem e eu não conheço a maioria das pessoas que tão ali. Ai que ódio! Hã, eu acho que… Tem… Eu… Tem um anime que eu vi, acho que poucas pessoas conhecem porque eu sou muito fã de uma banda japonesa. Ó, veja bem: uma banda japonesa chamada Honey Works, que ele são uma banda meio peculiar porque eles meio que fazem personagens para as músicas, tipo, as músicas deles são histórias desses personagens que eles desenham. Eles têm uma equipe de desenho para esses personagens, então todos os clipes são animaçõezinhas deles, imagens ,e eles fizeram dois animes e dois filmes.

E eu acho que é uma coisa que as pessoas não conhecem tanto assim no universo do anime… Eu conheço porque é o meu hiperfoco também, amo eles às vezes nem mostram a cara, mas já amo eles, maravilhosos! E eles tem tipo várias fases com esses personagens, tipo, tem os seniores que eram os que tavam tipo no ensino médio, e os outros que estavam mais tipo no Ensino Fundamental indo para o médio, e eu acompanhei todo o crescimento dessas crianças, é tão lindo, maravilhoso, então eu recomendo.

Eu sei que tem umas que são muito boas, que são tipo Vocaloid, que eu sei que algumas pessoas não gostam mas raramente eles usam assim, e se tu botar Honey Works tu vai achar os animes deles também que eles têm um anime que saiu agora que é Heroine ikusei keikaku, eu acho que é assim que fala… que é baseado em uma guria que vai trabalhar com os idols e ela fica super amiga deles, porém são idols, as meninas são malucas possessivas… Fé nas malucas. Então tem todo um drama pop acontecendo e tem um outro que eles fizeram que é: “ nós sempre estamos a 5 cm de distância” que é um casalzinho assim, tem um plot super triste de irmãos isso aí no meio, tem romances, sofrimento, lágrimas… É lindo! E os dois filhos deles também que inspiraram o meu… o meu livro atual, agora não vou lembrar o nome, mas ele também fala sobre romance na adolescência. E essa é a minha recomendação do dia, gente. Honey Works, literalmente “mel” em inglês e Works como se fosse de trabalho… É mel que trabalha, sabe?


(28:42)


[♪ Música de transição]


Ash: Nossa entrevista chegando ao fim. Eu queria te agradecer novamente, em nome de toda a equipe da Spacey, por aceitar esse convite, participar do nosso podcast e eu queria pedir para você divulgar seu trabalho, falar onde que o pessoal pode te encontrar… Pode ficar à vontade para se despedir da maneira que você quiser.


Raquel: Eu que agradeço o convite. Então gente, literalmente o meu ícone é a palavra salgados em todas as redes sociais, literalmente se você digitar você vai me achar, e no meu perfil pessoal também que ele é aberto porque eu tenho que usar lá também para divulgar minhas coisas que é inteiramente que que é o suaves. Eu tenho um canal no YouTube que a palavra Salgadas, o Instagram, o meu Twitter, tem uma página no Facebook se por acaso alguém ainda use o Facebook nessa vida por assim dizer… E é isso obrigado a todo mundo que ouviu, espero que me sigam nas redes sociais… Eu vou fazer tipo no YouTube tipo “me sigam nas redes sociais, deixe seu like” (risadas), porque eu não interagi com pessoas, eu tenho  ansiedade social, mas eu às vezes gosta de gente então vem que eu posso texto! Acho que é o que eu mais posso até superaria, tento postar tipo 2 por semana mais ou menos, e lá tem textos novos quase sempre, então não precisa esperar por livros novos para me lerem, basicamente é isso.


(30:03)


Ash: É isso pessoal, muito obrigado por terem ouvido até aqui, sigam a Raquel nas redes, vai tá o link aqui na bio, sigam a Spacey. Muito obrigado por todo mundo que eu ouviu um beijo e até a próxima. Tchau!


Raquel: Tchau!


[♪ Música de encerramento]