Os estigmas sobre transtornos de personalidade

Os Transtornos de Personalidade (TP) são transtornos mentais cujas características que causam prejuízo e/ou sofrimento são relativamente estáveis ao longo do tempo, podendo-se considerá-las traços de personalidade. Alguns desses transtornos são retratados com bastante frequência na mídia ou nomeados em conversas casuais, como o transtorno Narcisista, Borderline e os chamados “Psicopatas”. Essas retratações nem sempre são fiéis a como o transtorno se apresenta de verdade, e muitas vezes enfatizam certas características que causam preconceito contra pessoas que convivem com esses transtornos, criando estigmas.

Indivíduos com transtornos mentais podem ser mais evitados por outros, preteridos por empregadores, retratados de maneira cômica ou vilanesca e vistos como fracos de caráter, preguiçosos ou ameaçadores. Tudo isso faz parte dos estigmas relacionados a esses transtornos, que podem vir tanto de fontes externas (dos outros) quanto da própria pessoa com essa condição, que internaliza a cultura estigmatizante e cria o autoestigma, afetando a autoestima. Estudos demonstram que não houve redução significativa dos estigmas dos transtornos mentais por parte da população e que TPs são percebidos com menos empatia pelo público, sofrendo com mais estigmas que demais transtornos.

Alguns exemplos de manifestações desses estigmas são atribuir o termo “psicopata” a indivíduos que cometem atos violentos; a pessoas egoístas e desagradáveis, o termo “narcisista”; e chamar mulheres com o TP borderline de “ciumentas”. Uma crença comum é a de que pessoas com TPs podem controlar seus comportamentos relacionados aos sintomas do transtorno, e que esses seriam tentativas de manipulação ou recusas de ajuda, ou então que pessoas com TP precisam menos de ajuda do que pessoas com outros transtornos. No entanto, com avanços tecnológicos, hoje sabe-se que diversos TPs também têm origem neurobiológica e genética, inclusive sendo possível ver diferenças no cérebro de pessoas com TPs em relação a indivíduos sem o transtorno em questão, contrariando a ideia de que esses comportamentos são apenas escolhas dos indivíduos. 

Pessoas com TPs também apresentam mais autolesão, abuso de substâncias e suicídio, e os estigmas e o isolamento social contribuem grandemente para o crescimento dessas práticas. Constata-se que ter um TP aumenta a chance de um homem cometer suicídio em 7 vezes e de uma mulher, em 6 vezes. Quando em contato com o sistema de justiça ou saúde, indivíduos com TPs também podem ser afetados por estigmas. Um bom exemplo é o que ocorre com pessoas com TP antissocial (também chamadas de psicopatas), frequentemente estigmatizados como maldosos. No sistema judicial, esse diagnóstico pode levar uma pessoa a ser caracterizada como perigosa e intratável, sendo a elas negadas perspectivas de tratamento. Indivíduos com TP borderline também sofrem preconceito na área judicial — como, por exemplo, no caso Amber Heard — e por profissionais da saúde.

Transtornos de personalidade, assim como outros transtornos, afetam grandemente a vida dos indivíduos que convivem com essas condições e, diferentemente do que a sociedade acredita, eles podem ser tratados por profissionais da saúde, melhorando, assim, a qualidade de vida dessas pessoas. Os estigmas sociais impedem que indivíduos com TPs busquem ajuda e reconheçam-se em seu transtorno, além disso, os isola socialmente, piorando sua saúde mental. O afastamento da família, por exemplo, é um dos fatores de risco para o suicídio entre indivíduos com TPs. Para combater esses estigmas, é importante a educação sobre o que são os transtornos de personalidade, seja através de informações ou através de relatos de pessoas que convivem com esses transtornos.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Anônime
Revisão: Brian Abelha e Ingredy Boldrine