Bi de balada é uma expressão usada para se referir a pessoas bissexuais que, supostamente, só se relacionam com pessoas do mesmo gênero de maneiras e em ambientes considerados “informais”, isto é, apenas ficando ou tendo relações casuais — geralmente em locais como festas, baladas, boates, etc. — ao invés de ter compromissos sérios.
Logo de cara percebe-se se tratar de uma expressão bifóbica, cujo uso perpetua a ideia de que existe uma maneira correta de ser bissexual, invalidando qualquer ume que não cumpra as condições hipotéticas para fazer parte dessa sexualidade.
A perpetuação dessas “formas corretas de se vivenciar uma sexualidade” é muito prejudicial, especialmente entre jovens que estão se descobrindo. No contexto da bissexualidade, isso pode resultar em negação pela atração a ambos os gêneros afim de se adequar a uma orientação monossexual (hétero ou homo).
Infelizmente, a invalidação da bissexualidade ocorre tanto fora quanto dentro da comunidade LGBT. Enquanto monossexuais são acolhides ao enfrentarem preconceitos, bissexuais são frequentemente tratades como tendo algum tipo de privilégio por sentirem atração e se relacionarem com pessoas do gênero oposto, gerando a crença de que sofrem menos ou nenhuma violência. Às vezes, nem sequer são considerades membros da comunidade, sendo vistes como “héteros infiltrados”, “fetichistas” que fingem ser LGBTS para iludir pessoas de outras sexualidades ou para deslegitimar a luta dos “LGBTS de verdade”.
O meio hétero (obviamente) também não é nada acolhedor, principalmente em comunidades mais conservadoras, onde sexualidades que envolvem atração por mais de um gênero são tratadas como fase, confusão ou simplesmente inexistentes.
Dentro dos ‘pré-requisitos para ser bissexual de verdade” é frisada a necessidade de manter relacionamentos sérios com pessoas de ambos os gêneros com frequência e sem preferência, e, caso esse “requisito” não seja cumprido, começam as imposições para a identificação com uma hétero ou homo. A bissexualidade não é tratada como uma identidade própria, e sim como uma mescla das identidades monossexuais.
No entanto, a quantidade de relacionamentos sérios que uma pessoa teve não é o que determina sua sexualidade, e sim a atração. Mesmo que uma pessoa se relacione majoritariamente com homens, a partir do momento em que ela também sente atração por mulheres, ela é uma pessoa bissexual (caso se sinta confortável com esse rótulo, é claro).
Bi de balada não existe com outro intuito além de reforçar a ideia da existência de uma forma correta de pertencer a essa sexualidade, instigando o preconceito e a marginalização de pessoas LGBTS vindo de dentro da própria comunidade, que deveria ser um ponto de acolhimento e segurança. Expressões como essa precisam parar de ser usadas, seja em teor cômico ou pejorativo, em especial pela comunidade LGBTQIAP+ e, principalmente, pela própria comunidade bissexual, o que já seria um grande feito em relação à proteção e ao respeito dessa e de outras sexualidades.
Referências
- Bi de Balada Existe? | Nicknagari
- Mulher bissexual que usa o termo bi de balada | Nicknagari
- Bissexualidade não é sobre quem você beija | Nicknagari
- Homens bissexuais que namoram mulheres | Nicknagari
- Bi de balada | Nicknagari
- Me atraio por mulheres mas nunca namorei uma…sou bissexual? | Nicknagari
- Bissexuais passam por heterossexualidade compulsória? | Nicknagari
Ficha técnica
Escrita: Chenny
Revisão: Ingredy Boldrine e Lara Moreno