Jornada de Trabalho

⁠”O capitalismo falhou, falha e falhará em cada uma das sociedades aonde ele colocar os seus tentáculos que se baseiam na expropriação e na exploração do homem pelo homem […]”. A famosa frase de João Carvalho é o cerne do debate sobre a redução da jornada de trabalho. Muito se tem falado sobre esse tema, entretanto, poucos chegam à raiz da questão: a luta de classes.

Vem-se discutindo nos últimos anos a possibilidade de uma jornada de trabalho com menos dias, ou seja, diminuir a quantidade de dias úteis na semana. Uma das ideias para essa redução propõe uma semana de 4 dias. Contudo, essa proposta só existe em empregos “de colarinho branco”, ou seja, trabalhos de alto nível social, como uma forma de atrair profissionais qualificados num mercado escasso. Tal proposta não ajuda em nada a grande massa, que trabalha seis dias ou mais por semana. Esses são mantidos desvalorizados e, cada vez mais, explorados.

Trabalhar é algo ruim?

Em sua essência, não. O trabalho é necessário e deve ser um direito, porém no capitalismo ele se torna uma conquista pessoal, na qual indivíduos competem entre si pelas poucas vagas existentes, o que gera o chamado “exército industrial de reserva”.

Esse conceito, desenvolvido por Karl Marx em “O Capital”, refere-se ao desemprego estrutural das economias capitalistas. Para o bom funcionamento do sistema de produção capitalista e garantir o processo de acumulação, é necessário que parte da população ativa esteja permanentemente desempregada. Esse contingente de desempregados atua, segundo a teoria marxista, como um inibidor das reivindicações dos trabalhadores e contribui para o rebaixamento dos salários.

Outro ponto que deve ser considerado é o trabalho alienado. Para Karl Marx, a alienação pode ser entendida quando os trabalhadores são separados dos produtos do seu trabalho e do processo de produção em si. Em outras palavras, a alienação se dá quando os trabalhadores não têm controle sobre o que produzem e não têm uma conexão real com seu trabalho.

“A alienação significa que a ‘exteriorização’ e objetivação dos bens sociais que resultam do processo de trabalho tornaram-se autônomos e independentes do homem, apresentando-se como realidades ‘estranhas’ e opostas a ele, como um ser alheio que o domina”. — Karl Marx em “Manuscritos Econômico-filosóficos” também conhecido pelo título “Manuscritos de Paris” (1844)

Qual a jornada ideal?

A quantidade de dias trabalhados deve ser debatida, porém, antes, deve-se fazer outras perguntas:

  • Por que demora-se tanto tempo em deslocamento para o trabalho?
  • Por que trabalha-se tantas horas por dia?
  • Por que recebe-se tão pouco pelo trabalho realizado?

A resposta para essas perguntas é a mesma: o objetivo da democracia burguesa, existente no Brasil e na maioria dos países do globo é manter as classes “inferiores” sob controle.

Se o trabalhador tiver tempo disponível e for bem remunerado, este poderá frequentar espaços que hoje são de acesso exclusivo da burguesia. Enquanto o trabalhador tiver que decidir entre comprar comida e pagar o aluguel, ele não terá “tempo” para agir contra a estrutura opressora do capitalismo.

É preciso reverter o isolamento criado pelo capitalismo, no qual pessoas passam horas em trânsito entre a casa e o trabalho. Em outras palavras, eliminá-lo. Os distritos industriais da União Soviética são um bom exemplo de como morar perto do trabalho, centros administrativos, lojas essenciais, restaurantes e lavanderias comunitária e áreas de lazer, proporcionam uma melhor qualidade de vida para a população. 

Esse processo pode ser considerado como “a ditadura do proletariado”, segundo Marx, que não é uma ditadura propriamente dita, como o nome sugere, e sim o que se coloca entre o capitalismo e o comunismo. Ocorre quando a burguesia é extinta, mas não da forma que as massas populares são extintas no capitalismo, de forma literal, e sim a extinção da burguesia como classe social dominante. A ditadura do proletariado é um estado democrático caracterizado pela existência de organismos de governo de classe, onde toda autoridade pública é eleita e revogada por voto de todos os cidadãos.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Anônimo
Revisão: Brian Abelha