A região sul do Brasil é conhecida como sendo majoritariamente branca e carrega um extenso histórico de racismo. É comum que pessoas de outras regiões, em especial pessoas negras, apontem o dedo para os estados que compõem esta parte do país, tendo inclusive medo de visitá-los.
O estigma segue o local e se reafirma, por exemplo, ao observar o índice de votos, muito alinhados à extrema direita, e as notícias envolvendo racismo. No entanto, esta visão corrobora com o apagamento indígena e quilombola da região sul.
A invisibilidade dos povos indígenas na região sul é um grande fator para que a violência contra essa parte da população continue acontecendo. O cacique Ilson Soares, da aldeia Guarani de Tekohá Yhovy, localizada no Paraná, aponta que os indígenas da região sul são vistos como sendo de fora do Brasil, muitas vezes chamados de “paraguaios”, e que isso colabora com a visão do sul como uma localidade branca, o que ativamente incentiva os ruralistas a matarem seus povos e tomarem suas terras.
O Marco Temporal, por exemplo, que é uma tese jurídica que defende que os povos indígenas habitem apenas as terras que eles já habitavam antes da Constituição de 1988, afeta diretamente a vida dos povos indígenas ao redor de todo o Brasil, e no sul não é diferente. No Paraná, a região da Terra Indígena Guasu Guavira tem passado por ameaças armadas e atentados violentos contra a comunidade, questão que se relaciona diretamente com a demarcação de terras.
Reconhecer o sul do Brasil como uma terra indígena, ocupada por diversos povos e culturas, é juntar-se a esses grupos na luta contra o genocídio indígena, que se faz presente no país desde a chegada dos colonizadores. É de extrema importância reconhecer que todo o Brasil é indígena, evitando que se perpetue uma violência histórica puramente baseada em racismo.
Referências:
- Terras indígenas – Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul
- religião, resistência e adaptação Os Guarani: índios do Sul
- Povos Indígenas: os Kaingang e a resistência no sul do Brasil – Ulbra Carazinho
- RETROSPECTIVA 2022: Resistência do Brasil Indígena | APIB
- Marco temporal pode barrar demarcação de terra indígena no oeste do Paraná
Ficha Técnica:
Escrita: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Lara Moreno