A ideologia nazista pregava, como um de seus elementos centrais, a problemática gerada por vários grupos sociais, sendo estes os culpados pela queda da Alemanha e precisando-se substituí-los por pessoas arianas, brancas. Desde seu início estava inclusa a ideia do extermínio de certas populações, ainda que não houvesse uma ideia concreta do como. A “solução” deu-se através da criação de campos de concentração e o assassinato em massa de maneira sistematica de muitas pessoas. Nesses campos estavam todos os considerados diferentes e perigosos, judeus, comunistas, testemunhas de jeová, homossexuais e outros, sendo identificados por triângulos coloridos. Este texto propõe discutir os significados dos triângulos e suas ressignificações pós segunda guerra mundial.
Em 1933, instaura-se na Alemanha um sistema ditatorial fascista. Ainda em 1933 iniciam-se diversos movimentos de repressão de opositores políticos (especialmente pessoas de esquerda), “anti-sociais” (desviantes das normas sociais) e grupos raciais e étnicos que não arianos, como judeus e romanis (ciganos). Esses movimentos se deram através de diferentes tipos de violência, que escalaram progressivamente, amparadas ou não pelo sistema legal e judicial. Em 1933 mesmo existiam versões iniciais dos campos de concentração, onde judeus ainda eram a minoria, mas os maiores alvos de violências. Um dos campos de concentração mais representado na mídia talvez seja Auschwitz, na Polônia, construído em 1940 após a dominação alemã no país. Neste, 50% dos enviados, que provinham de diferentes países como Polônia, Hungria e França, morreram por execução, tortura, castigos ou pela péssima condição de vida que incluia trabalho forçado.
Por abranger diferentes tipos de pessoas indesejáveis à ideologia e sistema nazista, os campos de concentração adotaram um sistema de classificação de prisioneiros, atráves de triângulos em suas roupas. Antes tendo sua capital conhecida como “a capital gay” na Europa, homossexuais (entendendo-se que para a época não apenas se referia a desviantes da heteronormatividade mas também da cisnormatividade) foram caçados e capturados pela SS (esquadrão paramilitar) e enviados para esses campos, sendo identificados por um triângulo rosa (com exceção de Schirmeck-Vorbrück, onde usavam uma barra azul). Esses presos, facilmente identificados, eram submetidos a violências diferentes dos demais, como formas de abuso sexual, pelo fato de serem homossexuais.

Fonte: Memorial e museu Auschwitz-Birkenau: História e presente.
Nota: Também inclui-se em um gráfico de triângulos utilizados em Dachau, um dos primeiros campos de concentração, o triângulo azul para designar imigrantes.
O triângulo rosa passa a ser ressignificado pela comunidade LGBTQ+ durante o século XX (20), mas já não abraçado por todos por seu significado sombrio. Em 1987, no auge da epidemia da AIDS, a organização ACT UP (aja) utilizou o triângulo rosa no centro de um cartaz escuro para conscientizar a população sobre o HIV, correlacionando a epidemia com o extermínio de homossexuais pelo nazismo. O símbolo segue sendo utilizado na contemporaneidade para chamar atenção à homofobia e violações de direitos humanos contra a população LGBTQ+, como em 2017 quando foi exposto ao mundo a existência de campos de concentração para pessoas gays na Chechênia.
Portanto, os triângulos têm sido utilizados para lembrar a sociedade dos crimes cometidos contra certos grupos minoritários desde o século XX, mas não sem controvérsias, por se tratar de uma memória sombria e já ter sido incorporado pelo mercado para apelar para essas minorias. Entender seu significado é compreender a necessidade da vigilância sobre a correlação entre a crescente de discursos extremistas e o aumento da violência contra minorias.
Referências
- [PDF] Nikolaus Wachsmann, 2008. Cap 5 de Jane Caplan (Ed): Nazi Germany.
- [PDF] Memorial e museu Auschwitz-Birkenau: História e presente
- The history place: Holocaust timeline. Dachau
- lume.UFRGS. Karen Pereira da Silva, 2023. Narrar o triângulo rosa: memória da perseguição nazista aos homossexuais na constituição de movimentos gays no Brasil e no Canadá
Ficha técnica
Escrita: Bibiana Christofari Hotta
Revisão: Brian Abelha e Lara Moreno