Racismo na Medicina

Embora 55,5% da população brasileira se identifique como preta ou parda (segundo o Censo Demográfico de 2022 do IBGE), apenas 27,7% des formades em medicina em 2019 se autodeclararam pertencentes dessas etnias (de acordo com um levantamento de 2020 da Demografia Médica do Brasil.). Esses dados demonstram a falta de oportunidade e de representatividade da população negra ocupando esses cargos, o que pode explicar muitos problemas que esses cidadãos enfrentam na área da saúde.

É inegável que a educação não alcança pessoas pretas e pardas da mesma maneira que pessoas brancas. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), entre 2012 e 2019, enquanto apenas 19,2% de alunos brancos estavam em séries escolares consideradas atrasadas para suas respectivas idades, 36% dos alunos negros se encontravam nessa situação. Outra informação relevante é que em escolas formadas por estudantes de classe alta, em sua maioria, apenas um terço dos matriculados eram negros. Esses dados são alguns dos motivos que explicam a ausência de discentes pretos e pardos nas faculdades de medicina.

Entre os diversos problemas que essa comunidade pode enfrentar na saúde, a falta de especialização na dermatologia é um deles. Existem doenças que atingem majoritariamente pessoas de pele negra e outras que atingem com maior frequência pessoas de pele branca e, mesmo que isso já seja conhecido na dermatologia, não há tratamentos específicos para a pele negra. Os profissionais dessa área não são ensinados sobre isso nas universidades e para que se tenha acesso a essas informações, é necessário utilizar recursos próprios e estudar por fora.

Outra grave complicação é a violência obstétrica, que afeta majoritariamente mulheres pretas e pardas. Em comparação a mulheres brancas, mulheres negras recebem menos anestesia local durante o parto normal e correm o dobro de risco de morrerem durante o parto. Além disso, 67,2% das mulheres negras relatam já ter sofrido racismo durante algum atendimento médico (mais da metade dos casos ocorreu em atendimento ginecológico e obstétrico.).

Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, doenças como anemia falciforme, deficiência de glicose, diabetes mellitus e hipertensão arterial são mais comuns entre a população negra e óbitos evitáveis são mais frequentes que em pessoas brancas. Durante a pandemia da COVID-19, a taxa de mortalidade entre pessoas pretas e pardas foi de 55%, enquanto entre pessoas brancas foi de 38%.

O racismo deixa, também, graves sequelas na saúde mental desses indivíduos. Uma pesquisa de 2018 publicada pelo Ministério da Saúde revelou que jovens negros do sexo masculino na faixa etária de 10 a 29 anos têm 40% mais risco de cometer suicídio do que brancos da mesma faixa etária. Apesar de possuir uma grande demanda dessa comunidade, as universidades não formam psicólogues capacitades a atender suas questões, a bibliografia desses cursos é formada por autories branques e não tem conteúdos voltados para a subjetividade negra. O campo de estudo “Psicologia Preta” — vertente que nasceu nos Estados Unidos nos anos de 1960 — ainda está em crescimento no Brasil e se dedica nos efeitos do racismo na saúde mental dessa população.

Em conjunto com a falta de profissionais pretes e pardes ocupando lugar na medicina, a carência de disciplinas obrigatórias sobre a saúde negra durante a formação des médiques e de diretrizes curriculares que orientem o ensino desse assunto em sala de aula são, definitivamente, questões que contribuem na perpetuação do racismo na área da saúde.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Ingredy Boldrine
Revisão: Anna Helena Silvestre Di Iório e Juan Larrosa