A percepção do Yaoi em diferentes meios

Yaoi, atualmente referenciado por Boys Love ou bl, é um tipo de produção literária e audiovisual de origem asiática (mais precisamente japonesa) em que seus enredos exploram relações românticas e sexuais entre personagens masculinos.

Histórias que exploram essa temática estão presentes dentro do universo dos mangás desde a década de 70, com as autoras de mangás shoujo, mas sua popularização se deu entre os anos 80 e 90 com a produção de doushinjis, mangás feitos por fãs que, geralmente, utilizam da reimaginação de personagens e obras já existentes em sua trama, criando um material totalmente novo. Pessoas que se envolviam na produção de doushinjis eram majoritariamente mulheres, que escreviam e desenhavam sobre personagens de mangás famosos (geralmente aqueles cujo público alvo era masculino) em relacionamentos aquileanos.

Essa “obsessão” das autoras e consumidoras por obras de romance entre garotos se dá pela insatisfação com a representação de personagens femininas na mídia mainstream, onde essas personagens costumam ser retratadas apenas como o interesse romântico do elenco masculino, tornando seus desenvolvimentos secundários ou (praticamente) inexistentes. Isso leva uma parte do público, em especial o feminino, a se apegar com o restante do elenco e, pelo fato do desenvolvimento das relações entre os personagens masculinos ser muito mais elaborado e complexo, acaba-se criando a percepção de que, a partir dessas interações, se desenvolveria um romance muito melhor escrito do que o pré-determinado com uma garota.

Embora o fandom de yaoi e bl ainda seja dominado por mulheres, a sua expansão e exportação para outros países, tanto orientais quanto ocidentais, possibilitou sua descoberta por diversos públicos. Isso possibilitou que LGBTs também pudessem criar e compartilhar suas narrativas para outres LGBTs através do formato e abordagem típicos das obras japonesas, além de contribuir para questionamentos sobre sexualidade e gênero de sues consumidories ao redor do mundo.

Em algumas comunidades focadas em pessoas trans no Reddit, é possível encontrar vários relatos de homens trans falando sobre como o contato com essas obras os ajudaram durante seus processos de autodescoberta, seja pela identificação e projeção nos personagens masculinos ou pela maneira em que as vivências e relação destes são abordadas dentro das histórias. Devido ao fato de uma grande parte desse material ser produzido de e para mulheres, seus personagens acabam expressando características consideradas “femininas”, como sensibilidade, carinho e timidez, o que ajudou muites leitories trans masculines a lidarem melhor com essas características em si mesmes, lembrando-lhes de que esses traços não são inerentemente femininos e, portanto, não ês fazem mais ou menos homens.

No entanto, mesmo que obras nos moldes clássicos do bl japonês contribuam para a aceitação tanto interna quanto externa a comunidade LGBTQ+, elas não se isentam de críticas e problematizações. A mais recorrente delas é em detrimento de seus enredos fantasiosos, nos quais questões e particularidades das vivências LGBTs, em especial a de homens gays, não são abordadas ou sequer mencionadas, seja por falta de conhecimento ou de interesse de desenvolvê-las nessas obras.Nisso, surgiram novos gêneros de mangás para abrigarem obras produzidas por e direcionadas ao público LGBT, como o bara e o geikomi. Obras pertencentes a esses últimos citados, retratam assuntos de interesse e a realidade de homens gays: o primeiro, possuindo narrativas focadas no âmbito sexual e o segundo, voltado para questões como descoberta, aceitação e outras temáticas. Contudo, mesmo que diferenças possam ser observadas entre obras yaoi/bl e bara/geikomi, alguns leitores (em especial os japoneses) não fazem distinção entre os gêneros, os colocando na mesma categoria de “mangás gay”.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Chenny
Revisão: Lara Moreno e Ingredy Boldrine