Desmistificando a PrEP e a PEP

A PrEP e a PEP são de extrema importância na prevenção ao HIV. No entanto, há ainda muito desconhecimento sobre o que são, como funcionam e quem pode utilizar esses medicamentos.

Conheça a PrEP

A sigla PrEP é a abreviação do termo Profilaxia Pré-Exposição. A profilaxia consiste em medidas que buscam prevenir a disseminação de uma doença ou infecção, e a PrEP é usada na prevenção contra o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) com uma combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina). Esses remédios agem como uma barreira, fechando os “caminhos” que o HIV usa para entrar no corpo. 

A PrEP tem uma composição parecida com a dos medicamentos usados no tratamento do HIV e é altamente eficaz, podendo reduzir em mais de 90% as chances de infecção em pessoas expostas ao vírus. Além dos comprimidos tomados por via oral, também existe a opção do cabotegravir, um medicamento injetável aprovado pela Anvisa para uso no Brasil. Essas formas de prevenção fazem parte da chamada “Prevenção Combinada”, que busca adaptar as estratégias de cuidado à realidade de cada pessoa, contribuindo para evitar novas infecções por HIV, além de outras ISTs, como sífilis e hepatites virais.

Existem duas formas principais de usar a PrEP: a diária e a sob demanda. A PrEP diária é tomada diariamente, de forma contínua, sendo indicada para qualquer pessoa que esteja em situação de maior risco de contato com o HIV. Já a PrEP sob demanda é usada de maneira pontual, somente quando há previsão de uma situação de risco. Nesse caso, a pessoa deve tomar dois comprimidos entre 2 e 24 horas antes da relação sexual, um terceiro comprimido 24 horas após a primeira dose e um quarto comprimido 24 horas depois da segunda dose.

Segundo o Ministério da Saúde, o uso sob demanda é mais adequado para quem tem relações sexuais com menos frequência (geralmente menos de duas vezes por semana) e consegue planejar esses momentos com antecedência. Quando a PrEP é feita do jeito certo, ela protege o corpo e impede que o vírus se instale e se espalhe. Se não for consumida como o indicado, porém, os medicamentos podem não funcionar bem e o HIV pode conseguir entrar no organismo. Mais informações sobre o funcionamento da PrEP estão disponíveis no site do Governo Federal.

Conheça a PEP

A PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV, ISTs e Hepatites Virais) consiste no uso de medicamentos visando reduzir o risco de infecção após uma exposição considerada de alto risco. Seu uso é indicado em situações como violência sexual, relações sexuais desprotegidas (sem camisinha ou com rompimento do preservativo) ou acidentes ocupacionais envolvendo instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico. Essa tecnologia também está inserida no conjunto de estratégias da Prevenção Combinada, e além de prevenir o HIV também atua contra a hepatite B e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Mais informações sobre o funcionamento da PEP estão disponíveis no site do Governo Federal.

Qual a diferença entre PEP e PrEP?

A principal diferença entre a PEP e a PrEP está no contexto de uso: enquanto a PEP é indicada para situações emergenciais, a PrEP é voltada para pessoas que vivenciam exposições recorrentes ou que queiram se proteger diante do risco de contaminação em situações pontuais, quando há exposição sexual planejada. Além disso, a PEP abrange a prevenção de outras infecções além do HIV. 

Quem pode utilizar

O acesso à PEP é garantido a todas as pessoas que se enquadram em situações de risco, como violência sexual, relações sexuais desprotegidas e acidentes ocupacionais. A PrEP, por sua vez, foi inicialmente direcionada a grupos-chave, que incluíam homens que mantêm relações sexuais com outros homens; pessoas trans — incluindo mulheres trans, travestis, homens trans e pessoas não binárias; trabalhadories do sexo e aquelus que recebem dinheiro ou benefícios em troca de relações sexuais; além de pessoas que mantêm relacionamentos com parceiros vivendo com HIV, caracterizando os chamados casais sorodiferentes. No entanto, atualmente, qualquer pessoa que atenda a determinados critérios pode solicitar o acesso à PrEP. Esses critérios incluem:

  • Prática frequente de relações sexuais (anais, vaginais ou orais) sem o uso de preservativo, sejam elas penetrativas ou não;
  • Uso recorrente da PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV);
  • Histórico de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs);
  • Envolvimento em relações sexuais mediadas por troca de dinheiro, bens materiais, drogas, moradia, entre outros;
  • Participação em práticas de chemsex — uso de substâncias psicoativas (como metanfetaminas, GHB, MDMA, cocaína ou poppers) para intensificar ou prolongar a experiência sexual.

É importante ressaltar que o sexo entre pessoas com vulva, embora apresente menor tendência à transmissão do HIV, ainda oferece risco. Além disso, é indispensável o uso de camisinha no compartilhamento de acessórios sexuais. Considerando as condições mencionadas anteriormente, que indicam maior vulnerabilidade ao HIV, justifica-se o acesso ampliado à PrEP como estratégia preventiva.

Por ter sido inicialmente ofertada aos grupos-chave mencionados, consolidou-se uma percepção equivocada de que somente pessoas AMAB (Assigned Male At Birth, ou seja, designadas homens ao nascer) e trabalhadories sexuais poderiam se beneficiar da PrEP e da PEP. Dados do Ministério da Saúde compilados pela instituição UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) indicam que, entre 2018 e 2023, mulheres cis representaram apenas 3,2% dês usuáries totais da PrEP. Homens trans corresponderam a 1,8%, enquanto pessoas não-binárias — que podem ser AMAB ou AFAB — compuseram 0,4%. No entanto, conforme os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas referentes à PrEP e à PEP estabelecidos pelo Ministério da Saúde e, em vigor desde 2022, todes que se enquadrem nas condições anteriormente mencionadas têm direito ao acesso aos medicamentos.

Como acessar a PrEP e a PEP

Para ter acesso à PEP, é necessário procurar um serviço de saúde que ofereça esse tipo de atendimento, como hospitais, unidades básicas de saúde ou centros de referência — a lista com todos os locais que disponibilizam a PEP pode ser consultada no site Onde encontrar a PEP. Ao chegar ao serviço, o profissional de saúde realizará uma avaliação de risco, baseada no relato do usuário sobre suas práticas sexuais e seu estilo de vida. Esse momento é fundamental para identificar estratégias de prevenção adequadas a cada caso. Se for constatada uma ou mais situações de exposição ao HIV, recomenda-se iniciar a PEP o mais rápido possível, idealmente dentro de 72 horas após a última exposição. Ao final do tratamento com a PEP, será avaliada, de forma individualizada, a possibilidade de indicação da PrEP como medida preventiva contínua.

Para acessar a PrEP, é necessário, antes de tudo, realizar uma consulta com um profissional de saúde, que avaliará as condições apresentadas pelo paciente. Caso haja concordância entre ambos sobre a indicação do uso da PrEP, serão realizados o teste anti-HIV e exames de sangue para detecção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e verificação do funcionamento dos rins e do fígado.

Se os resultados estiverem nos parâmetros adequados, ê interessade poderá iniciar o uso da PrEP. É fundamental manter um acompanhamento médico regular para garantir que o organismo está respondendo bem ao medicamento, além de seguir corretamente as orientações de uso.

O governo federal disponibiliza um documento com as unidades de saúde que oferecem a PrEP.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Camilly Silva
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro e Bibiana Christofari Hotta
Revisão: Beatriz Janus e Brian Abelha