Como a redes sociais afetam a saúde mental

A internet é, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição. O avanço da tecnologia tem possibilitado o desenvolvimento da sociedade e sua conexão com todo o mundo através de apenas um clique; por outro lado, o uso constante das redes sociais tem deixado as pessoas mais ansiosas, depressivas e com menos capacidade de atenção.

Com a popularização das redes sociais, as interações humanas mudaram, criando novas formas de conexão. Embora isso possa trazer diversos benefícios, também causa efeitos colaterais preocupantes para a saúde mental, especialmente a dos mais jovens, que ainda estão com o cérebro em formação. 

Segundo dados apresentados pelo We Are Social e Meltwater, o Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais no mundo todo, com 187,9 milhões de internautas em 2024. Seguindo essa linha de raciocínio, a psiquiatra da  Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul (Cassems), Karina Cestari de Oliveira, afirma que estudos recentes mostram que o uso prolongado e excessivo dos meios online pode causar dependência, prejudicando a vida social, acadêmica, funcional e familiar dos indivíduos.

Ansiedade e depressão

A pressa e o excesso de informações estão diretamente ligados ao estresse e à ansiedade, e, nas redes sociais, isso é estimulado o tempo todo. Além disso, as redes sociais têm um papel ativo nos moldes de autoimagem dos jovens e adolescentes, incentivando comparações sociais e promovendo padrões irreais de beleza e sucesso. A exposição constante e a supostas ‘vidas perfeitas’ dos outros também podem resultar em comparações negativas, baixa autoestima e sentimentos de inadequação.

Segundo o Panorama da Saúde Mental 2024, realizado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, 45% dos casos de ansiedade em jovens de 15 a 29 anos estão relacionados ao uso intensivo das plataformas online. O estudo diz ainda que jovens que passam mais de três horas por dia em plataformas digitais têm um risco 30% maior de apresentar quadros de depressão em comparação àqueles que fazem um uso moderado. 

Qualidade do sono

O uso das redes sociais também tende a interferir na qualidade do sono, uma vez que a luz azul emitida pelas telas dos dispositivos pode suprimir a produção de melatonina, o hormônio responsável pelo sono. Além disso, o conteúdo consumido pode ser estimulante ou perturbador, resultando em uma noite de sono inquieta, que tende a gerar cansaço na manhã seguinte.

Falta de foco e atenção

A alternância constante entre os afazeres do dia a dia e as redes sociais é uma prática comum, mas esse hábito reduz a capacidade de concentração e diminui a eficiência no cumprimento das responsabilidades.  

Hoje em dia, até as músicas e os filmes mais famosos tendem a ter durações menores, uma vez que o espectador não consegue manter a atenção em uma só coisa por muito tempo. Isso é causado pelo consumo em excesso das redes sociais, e, em especial, dos vídeos em formatos curtos, que compartilham uma grande quantidade de informação em um curto espaço de tempo.

Isolamento social

A necessidade constante de validação social por meio de curtidas e engajamento pode levar a sentimentos de isolamento e esgotamento mental, construindo relações sociais associadas ao negativo. O objetivo inicial de que as redes sociais possibilitem conexões começa a ser contrariado quando o indivíduo se sente excluído daquele “mundinho perfeito” que parece existir online para certas pessoas. 

Estresse e burnout

Para quem está no mercado de trabalho, o uso excessivo das redes sociais também pode ser um problema. Um estudo de Jahagirdar et al. (2024), que analisa o impacto do vício em redes sociais no comportamento psicossocial de profissionais em atividade,  revela que o uso excessivo das redes está fortemente associado ao estresse laboral, ao burnout e aos problemas com estresse. 

Além disso, nos dias atuais, grande parte das profissões exige que o profissional esteja sempre online e criando conteúdo para conseguir possíveis clientes e criar uma audiência, fazendo uma ligação inevitável entre criação de conteúdo e suposta qualidade profissional. Ser “obrigado” a criar conteúdo simultaneamente a exercer uma outra profissão pode desencadear sérios casos de estresse e burnout, além de diminuir a produtividade e aumentar a procrastinação, afetando negativamente tanto a saúde mental quanto o desempenho profissional. 

Cyberbullying, cancelamento e linchamento virtual 

Há ainda as questões de cancelamento, linchamento virtual e cyberbullying, que podem afetar diretamente a saúde mental dos indivíduos, mexendo com questões de autocensura, isolamento e até mesmo ideação suicida.

O cancelamento, que busca anular ou punir publicamente alguém por atitudes ou opiniões consideradas problemáticas, pode levar o indivíduo ao isolamento social, à autocensura e ao medo de se expressar. A longo prazo, isso pode resultar em quadros de ansiedade, depressão e até ideação suicida. O linchamento virtual, por sua vez, consiste em ataques coordenados com comentários ofensivos, ameaças e difamações, que também podem provocar sérios danos psicológicos. Já o cyberbullying envolve perseguições, intimidações e agressões online, cujos efeitos vão desde baixa autoestima até consequências mais graves para a saúde mental das vítimas. 

Para lidar com isso e evitar cenários como estes, é fundamental cultivar uma comunicação mais consciente, indo em busca de informações verdadeiras, ouvindo com atenção, mantendo sempre um tom respeitoso e planejando com cuidado o que é compartilhado nas redes.

Como melhorar esse quadro

Para aproveitar o melhor das redes sociais e usá-las com moderação, algumas dicas podem ajudar, por exemplo: estabelecer um tempo limite de uso de tela; evitar usar telas antes de dormir; não utilizar o celular em momentos específicos do dia, como nas refeições; desativar as notificações automáticas para evitar checar o aparelho toda vez que ele vibra; ativar o modo silencioso; e realizar atividades desconectadas, como praticar esportes ou ler um livro. 

As redes sociais são extremamente importantes e hoje em dia é muito difícil viver sem elas. Poderosas fontes de informações e formas de estabelecer conexões, além do fácil acesso para a maioria, as redes têm atributos fantásticos que contribuem para a sociedade, mas, assim como tudo na vida, precisam ser usadas com cautela e equilíbrio, minimizando seus efeitos negativos e a possibilidade de vício.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Bettina Winkler 
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Luiza Araujo e Brian Abelha