Como identificar capacitismo velado e apoiar PCD no dia a dia

O capacitismo pode ser definido como uma forma de opressão contra as pessoas com deficiência (PCD). Essa opressão se baseia na capacidade dos corpos inseridos dentro do que é considerado a “normalidade” (pessoas sem deficiência). A partir disso, julga as pessoas com deficiência como incapazes de atingir esse patamar porque os seus atributos físicos e/ou mentais não alcançam o padrão aceito. Essa pressão da normatividade sobre corpos considerados desviantes prejudica a vivência de PCD na sociedade e o seu acesso aos seus direitos.

A visão sobre pessoas com deficiência ao longo do tempo

A visão que a sociedade tem sobre uma pessoa com deficiência interfere diretamente em seu tratamento e no bem-estar desse grupo dentro da sociedade em questão. Durante muitos anos, as pessoas com deficiência foram vistas somente como vítimas de sua condição, causando a infantilização de PCD e uma visão assistencialista que prejudicava o desenvolvimento e a integração dessas pessoas na sociedade. Com os avanços médicos e tecnológicos, houve uma patologização –  isto é, uma associação não necessariamente correta de questões comuns da vivência humana a doenças –  das pessoas com deficiência. 

Ao longo dos séculos, o tratamento das pessoas com deficiência foi se alterando conforme os estudos avançavam e novas descobertas eram feitas. No entanto, apesar de essa visão negativa sobre PCD ser desumanizante e ultrapassada, ainda há resquícios desses pensamentos em palavras e atitudes que não devem ser normalizadas.

Questões capacitistas no cotidiano

O capacitismo está presente em diversas situações do cotidiano e, muitas vezes, passa despercebido, justamente por não ser um tema amplamente abordado. Toda vez que a acessibilidade é negada a uma pessoa com deficiência, isso quer dizer que aquela pessoa não está tendo suas necessidades atendidas, e seu acesso a diversos lugares e conteúdos é revogado, andando lado a lado com o capacitismo. Essas barreiras podem acontecer na cidade, na arquitetura, nos transportes, nas comunicações e informações, nas atitudes ou na tecnologia.

As barreiras urbanísticas envolvem os espaços públicos – ou os espaços privados que são abertos ao público – e são de uso coletivo. Alguns exemplos são: a falta de piso tátil, a carência de vagas para PCD e a ausência de rampas. Já as barreiras arquitetônicas são aquelas especificamente de construções públicas ou privadas, como os banheiros sem cabines adaptadas, o calçamento estreito e irregular e a falta de elevadores funcionais.

As barreiras nos transportes se referem a caminhos inacessíveis para pontos de ônibus  e à falta de rampas e de ônibus adaptados. Já as barreiras na comunicação e na informação referem-se à falta de intérpretes de Libras e à falta de texto alternativo, legendas e audiodescrição. Essa questão se relaciona diretamente às barreiras tecnológicas, que são, por exemplo, computadores sem tecnologia assistiva ou aplicativos pensados apenas para pessoas sem deficiência.

As barreiras atitudinais – relacionadas a atitudes – são as mais comuns de serem reproduzidas. Às vezes, ocorrem sem a própria intenção ofensiva do locutor, mas deve-se sempre estar atento a expressões e atitudes que podem ser ofensivas para que esses comportamentos sejam evitados. Entre outras ações já citadas (como a infantilização), estão: promover eventos e atividades que não são pensados para pessoas com deficiência; utilizar estereótipos em conversas com PCD (e de maneira geral); usar expressões de cunho capacitista. Algumas dessas expressões que devem ser retiradas do vocabulário cotidiano são:

  • “Dar uma mancada”;
  • “Mais perdido que cego em tiroteio”;
  • “Fingir demência”;
  • “Dar uma de João sem braço”;
  • Utilizar “portador”– o correto é “pessoa com deficiência”;
  • Perguntar se alguém está “cego” ou “surdo” quando está desatento.

Outras falas a serem evitadas são perguntas invasivas como “Você nasceu assim, foi acidente ou foi doença?”, ou frases que colocam a pessoa com deficiência como um modelo de superação, além de tratá-la como um “apesar de”: “Nossa, apesar da sua deficiência, você se vira bem”; “Apesar de ser deficiente, você é muito inteligente”, etc. Além disso, é necessário evitar tratar a deficiência como uma barreira que deve ser ultrapassada a todo custo, perguntando sobre tratamentos alternativos ou cura da condição.

É importante que todas as pessoas sem deficiência conheçam as frases e atitudes capacitistas para que sejam completamente retiradas do cotidiano e, assim, com consciência individual e coletiva, se possa produzir uma sociedade mais anticapacitista, que enxergue as pessoas com deficiência na sua completude.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Camilly Silva
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Luiza Araujo e Brian Abelha