Você já ouviu falar de pessoas não-binárias? Muito provavelmente você já se deparou com esse termo se referindo à identidade de gênero de algumas pessoas trans. A não-binariedade abrange as identidades de gênero fora da ideia binária de homem e mulher, sendo um termo guarda-chuva. Muitos influenciadores e/ou celebridades se compreendem assim, como Bryanna Nasck, youtuber, e Sam Smith, cantore.
Embora, nos tempos atuais, a sociedade esteja evoluindo na questão de direitos LGBTQIA+ e vozes trans estejam sendo mais ouvidas e representadas, muitos estereótipos nocivos e transfóbicos ainda rondam não-bináries, tanto pela sociedade cisnormativa quanto dentro da comunidade trans. Preconceito contra não-bináries é, sim, transfobia, o que se configura como crime. Portanto, os estereótipos devem ser combatidos e desmistificados para todo o mundo.
É importante compreender que a não-binariedade não está restrita ao sexo biológico ou genitália, cor de pele ou região do mundo. Inclusive, muitas culturas de povos indígenas ou tradicionais já incluíam gêneros não-binários muito antes da chegada da internet – por isso, a não-binariedade não surgiu com as redes sociais, o acesso à informação apenas foi mais democratizado, embora não totalmente.
Justamente pela variedade de corpos e culturas que são abraçados pela não-binariedade, sem preconceitos, nenhuma pessoa não-binária é obrigada a performar androginia, ou seja, possuir uma mistura de caracteres considerados masculinos e femininos, que tornem mais difícil inferir qual o gênero da pessoa. A expressão de seu gênero, as roupas que se usa ou o corte de seu cabelo não têm nada a ver com sua identidade, e exigir algum nível de androginia é transfóbico e binarista. Nesse mesmo âmbito, deve-se adicionar que ume não-binárie pode ou não fazer terapia hormonal, seja de estrogênio ou testosterona. Tudo vai depender de suas próprias vontades, que dizem respeito somente a elu mesme.
Outro assunto polêmico sobre a não-binariedade é o uso do pronome neutro. O pronome neutro é fundamental para assegurar o conforto e a identificação de quem não se compreende nos pronomes mais usuais (ele e ela). O pronome “elu” é o mais usado nesse sentido, mas não é o único. Entretanto, pessoas não-binárias não obrigatoriamente irão utilizar algum pronome neutro ou negar o uso de ele/ela. Sim, existem algumes não-bináries que preferem exclusivamente o neutro – e está tudo bem! Mas outres podem usar mais de um pronome, ou só o masculino/feminino, e todes continuam sendo não-bináries.
Dentro de todos os aspectos da não-binariedade, é necessário pontuar que ela não deve ser invisibilizada e excluída de assuntos referentes à orientação sexual LGBTQIA+. A atração por pessoas não-binárias, a depender de seu alinhamento (masculino, feminino, neutro etc.), é contemplada pela homossexualidade, heterossexualidade e multissexualidade, da mesma forma que não-bináries podem ser lésbicas, gays, hetéros, bi e afins. E, é claro, identidades do espectro assexual/arromântico também estão inclusas nisso.Por fim, a maior conclusão é que a não-binariedade não é obrigada a performar de acordo com o que dita a cisnormatividade, que tanto prejudica a comunidade trans num inteiro. A individualidade dos seres humanos é diversa, assim como seus corpos e expressões.
Referências
- Belle Marques para Medium
- Miguel Trombini para iG Queer
- Bruno Lopes para Medium
- Vitória Padilha e Yáskara Palma. Vivências não-binárias na contemporaneidade: um rompimento com o binarismo de gênero.
Ficha técnica
Escrita: Nico Baladore
Revisão: Lívia Figueiredo