Etarismo é o nome dado ao preconceito relacionado à idade. Embora possa ocorrer com grupos pertencentes a diferentes faixas etárias, o termo é mais comumente relacionado a discriminação contra pessoas idosas. Assim como outros tipos de preconceitos (racismo, sexismo, homofobia etc), o etarismo pode ser observado e manifestado de diferentes formas em ambientes diversos, de maneira explícita ou implícita e até mesmo ser reproduzido pelo próprio grupo afetado por ele.
Os estereótipos mais comuns atribuídos aos envelhescentes (população que está passando pelo processo de envelhecimento) e idosos são relacionados a perda de habilidades físicas e cognitivas, gerando uma crença de que, ao atingir determinada idade, a pessoa não está mais apta a aprender e se adaptar a mudanças. Esses estereótipos dificultam muito no ingresso e permanência dessa população no mercado de trabalho e em redes de ensino, pois as fazem ser vistas como um peso, como se estivessem ocupando lugares de pessoas que “realmente deveriam estar ali” (lê-se jovens) e como se não fizesse sentido estarem ali, pois acredita-se que suas habilidades para absorver conhecimento já estão deterioradas e que não possuem nada a acrescentar ao ambiente que frequentam.
O etarismo se intensifica quando a pessoa se enquadra em outros grupos minoritários. Por exemplo, mulheres começam a ser desvalorizadas e sofrerem as consequências deste antecipadamente, normalmente assim que completam ou passam dos 40, especialmente em seus ambientes de trabalho. Ainda falando sobre mulheres, a elas também recai com mais peso a crença do envelhecimento puritano e casto, onde a mera menção de uma mulher de meia-idade/idosa explorando sua sexualidade é vista e tratada com horror e anormalidade.
Essa visão sobre a velhice ser um período puro, onde o indivíduo não expressa e se abstém de suas vontades e desejos de outrora leva a infantilização, fazendo-e ser viste como incapaz de tomar decisões por si próprie ou se expressar, necessitando sempre de ume familiar ou ume cuidadore para isso. A infantilização da pessoa idosa aumenta o sentimento de invalidez no indivíduo, trazendo impactos negativos para sua saúde mental e na concepção de si mesme.
Embora o Estatuto da Pessoa Idosa assegure a esse grupo todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana isso não significa que todes tenham acesso a eles igualitariamente. Em exemplo, uma pessoa idosa advinda de uma condição financeira favorável poderá aproveitar sua velhice de acordo com o esperado e considerado ideal para esse período da vida, realizando vontades que foram interrompidas devido aos anos de trabalho e tendo acesso a todos os meios de garantia para um dia-a-dia tranquilo e saudável. No entanto, uma pessoa idosa em condições de pobreza e marginalidade dificilmente poderá se dar esse luxo, pois as desigualdades enfrentadas ao longo da vida ainda se refletirão em sua terceira idade, muitas vezes fazendo-a continuar enfrentando o mercado de trabalho (ou recorrendo a meios informais e estando mais suscetível a ter seus direitos violados) para garantir um sustento e condições de vida mínimas.
O envelhecimento é um processo, onde a vivência daquelu que o está experienciando reflete ativamente nessa jornada. Uma pessoa preta, periférica e pobre dificilmente passará esse período da mesma forma que uma pessoa branca e rica, mesmo que seus direitos ao acesso a recursos básicos estejam (supostamente) garantidos. Antes de quaisquer debates sobre etarismo dentro de diversos meios (social, econômico, educacional) é preciso ter a noção de que a velhice nunca será experienciada da mesma forma, ela varia de acordo com a realidade de cada pessoa, e cada uma dessas diferenciações devem ser respeitadas e avaliadas devidamente, pois só assim pode-se começar a pensar em medidas que contemplem e acolham a população idosa em sua totalidade e pluralidade.
Com isso, é importante a fomentação de debates e discussões focados em desmistificar os estereótipos associados ao envelhecimento, dando o protagonismo destes ao grupo aos quais são atribuídos, pois só quem já experiência a velhice pode falar com propriedade sobre suas vivências, tornando claro o fato de que, justamente por ser algo a ser enfrentado por todes, cada velhice será única. Além da quebra dos estereótipos, é de igual importância levar a esses grupos, em especial à aqueles indivíduos excluídos socialmente, o conhecimento sobre meios que podem oferecer auxílio para a garantia de seus direitos, como o Serviço de Assistência Social.
Referências:
- Sexualidade e Etarismo
- Etarismo contra a População Idosa em Situação de Pobreza no Capitalismo
- Etarismo nas Organizações
- Evidências de Práticas de “Saneamento” em Trabalhadores mais Velhos
- Estatuto da Pessoa Idosa
Ficha técnica:
Escrita: Chenny
Leitura crítica: Bibiana Christofari Hotta
Revisão: Arê Camomila da Silva
