A falta de representatividade trans perpetua a marginalização, limitando perspectivas e reforçando estigmas. Ela não se limita às obras midiáticas, se estendendo para o envolvimento na produção delas. Desse modo, filmes com protagonistas trans são raros, mas é ainda mais incomum encontrar personagens trans interpretades por atories também trans.
O termo “transfake” é utilizado para fazer referência a quando ume artista cis interpreta ume personagem trans em uma obra ficcional, como ocorre no filme A Garota Dinamarquesa, estrelado pelo ator Eddie Redmayne. O problema com representações “fake” está no fato de que elas perpetuam a opressão e marginalização de pessoas trans, não permitindo que representem a si mesmas em suas próprias histórias. Isso contribui para a marginalização e o apagamento da identidade trans, reforçando binarismos, hetero-normatividades e quetais. Baseada apenas nessa interpretação de Redmayne, a palavra “fake” incorporada ao termo pode parecer pesada, conferindo um tom de desonestidade intensificada, como se as intenções dê autore ou da produção da obra fossem meros atos discriminatórios, mas não se trata de uma crítica a ume atore ou diretore de cinema (ou teatro), e sim uma reflexão sobre a representação genuína de personagens trans, em meio a discussões sobre a necessidade de proporcionar oportunidades autênticas para atories trans e representações fiéis de identidades de gênero.
Durante uma encenação da peça “Tudo Sobre Minha Mãe”, no Teatro São Luiz, em Lisboa, uma atriz brasileira chamada Keyla Brasil subiu ao palco para protestar contra o transfake na obra, entoando frases como:
“O que está acontecendo é um assassinato, um apagamento da nossa identidade enquanto travesti”
“Se contrataram quatro mulheres, três homens, por que não contratam duas pessoas trans para fazer a personagem?”
“Sabe por que eu trabalho como prostituta?… Porque nós não temos espaço para estar aqui nesse palco, nesse lugar sagrado… Eu faria de graça esse espetáculo.”
Diante das palavras de Keyla, fica claro que o uso da palavra “fake” é muito apropriado. Em textos teóricos sobre transgeneridade e também na vida real, o corpo trans e o corpo travesti são transgressões ambulantes das regras binárias e heteronormativas. Impedir corpos trans de representarem a si mesmos, de pensarem a si próprios, de trabalharem e interagirem em seus próprios assuntos é uma maneira de perpetuar as normas estabelecidas e hegemônicas que oprimem e marginalizam aquelus que não se encaixam nos padrões tradicionais.
Em suma, o termo “transfake” descreve a prática de artistas cisgêneres interpretando personagens trans em obras de ficção. Essa questão é profundamente relevante e sensível, como o protesto da atriz Keyla Brasil em Lisboa revela. Portanto, abordar a questão do “transfake” é um passo importante na direção de uma representação justa e inclusiva de pessoas trans na mídia e na sociedade em geral. Já passou da hora de reconhecer a importância da autenticidade e dar espaço para que a mulheridade trans, a homenzidade trans e a não-binariedade possam ocupar espaços artísticos relevantes.