Pessoas LGBTQ+ no movimento escoteiro

O Movimento Escoteiro, criado por Robert Baden Powell na Inglaterra em 1907, é atualmente o maior movimento de jovens e adultos voluntários, sendo reconhecido pela maioria dos países no mundo. No Brasil, a instituição nacional responsável pelo escotismo é a União dos Escoteiros do Brasil (UEB) que contém cerca de 90 mil associados entre jovens e adultos, e seu objetivo está diretamente ligado ao seu programa educativo focado nas cinco áreas de desenvolvimento: física, intelectual, social, afetiva e espiritual por meio de jogos, acampamentos e diversas atividades que exercitam esses domínios.

Compreendendo o tamanho do movimento, é importante refletir e perguntar como as instituições responsáveis trabalham a diversidade e inclusão de diferentes grupos sociais minoritários, seja a inclusão de pessoas de diferentes etnias, a existência de acessibilidade nos grupos escoteiros para receber Pessoas com Deficiência (PCD), etc. 

Movimentos juvenis tendem a ser um importante espaço de acolhimento para pessoas LGBTQ+, onde há a interação com outras pessoas que também pertencem a esse grupo social, a construção de caráter e a exploração e descoberta de suas próprias identidades. Porém nem sempre esses espaços são totalmente seguros, levando em conta a existência de um grande número de jovens e adultos voluntários conservadores.

A Boy Scouts of America (BSA) — entidade que representa o Movimento Escoteiro nos Estados Unidos — teve um caso famoso de homofobia: o ativista James Dale, chefe de um grupo escoteiro, ao assistir uma palestra sobre a saúde mental de adolescentes LGBTQ+ na universidade em que ele estudava, foi identificado em uma foto do jornal que cobria o evento como “presidente da Aliança Gay/Lésbica” e, por esse motivo, foi expulso da sua equipe. Dale pediu explicações sobre a decisão e a BSA afirmou ser proibido que pessoas autodeclaradas homossexuais fossem associadas à entidade. Ele moveu um processo contra a associação e em 2000 o caso foi encerrado com vitória da BSA, que por ser uma instituição privada, os juízes lhes deram direito de adotar as regras que julgassem pertinentes.

Após esse processo, a Boy Scouts of America regulamentou a não aceitação de membros homossexuais em seus grupos. Entre 1997 e 2012, o número de integrantes da BSA caiu em 27% e é possível acreditar que esse declínio tenha alguma relação com a exclusão das pessoas LGBTQ+. Somente em 2013 foi liberada a participação de adolescentes homossexuais; em 2015, a de adultos voluntários; e em 2017, a de pessoas trans.

A UEB define o escotismo como um movimento educacional que valoriza a participação de indivíduos de todas as etnias, credos e origens sociais. Em 2015, a UEB declarou, por meio de um Posicionamento Oficial, ser contra a homofobia e a favor de que as relações homoafetivas sejam respeitadas no escotismo; em 2016, foi criada no Rio Grande do Sul a primeira Equipe Regional de Diversidades do Brasil. A UEB assegura, também, o direito ao nome social para as pessoas transgêneros em seus sistemas, embora para menores de idade seja necessária a autorização dos responsáveis — sabe-se que muitos desses jovens possuem responsáveis conservadores e, por isso, não seria possível conseguir essa permissão.

Não há indicadores que mensuram a representatividade e diversidade no Movimento no Brasil, por isso, a revista digital Emerge Mag entrevistou alguns membros para entender a vivência de escoteiros LGBTQ+. A pesquisa mostrou que os participantes do Clã Pioneiro — jovens de 18 a 21 anos — são quem têm mais liberdade e segurança de se assumir membros da sigla dentro do escotismo, porém nenhum adolescente trans foi entrevistado pela revista. Além disso, a matéria também menciona que há uma resistência quando alguém parte da comunidade LGBTQ+ assume um posto de chefia no Movimento e existem poucas pessoas transgêneros ocupando esses cargos. 

As políticas de diversidades no escotismo vêm crescendo, porém é ainda muito comum presenciar pessoas que rejeitam essas novas ideias, além de não ser tão raro ver jovens constrangidos por serem quem são, escondendo suas identidades ou não recebendo o apoio necessário. Essas informações, no entanto, entram em contraste com a ideia de um ambiente acolhedor que o Movimento Escoteiro deseja alcançar.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Ingredy Boldrine e Anônime
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Nico Baladore e Lara Moreno