Qual é o termo correto: Anão ou pessoa com nanismo?

Com o crescimento de debates a respeito da inclusão — em especial dentro da internet —, diversos grupos minoritários encontraram formas de compartilhar suas experiências e fazerem suas vozes alcançarem mais público. Para pessoas com nanismo, o alcance e a visibilidade, proporcionados pelas redes sociais, permitem que elas possam falar sobre as especificidades de sua condição, bem como sobre as dificuldades e preconceitos que enfrentam no dia a dia.

O termo “anão” é visto com frequência, seja de forma presencial ou online e, apesar de ser visto como inofensivo por quem está à parte desta realidade — ou seja, pessoas que não possuem  tal deficiência —, não é compreendido como a melhor opção de termo para se referir ao nanismo. Pelo contrário, o termo é considerado pejorativo, pois não só faz alusão a criaturas místicas, como também ao antigo cenário circense, no qual pessoas com nanismo — assim como outras PCD — tinham sua condição reduzida a uma forma de entretenimento,  ridicularizando-as e desumanizando-as.

A associação entre a pessoa com deficiência e seres mitológicos, além de provocar e fortalecer a crença de que esses indivíduos estão distantes da realidade, também reforça a suposta incapacidade deste grupo de viver com autonomia, subjugando pessoas com nanismo a papéis secundários, como ajudantes ou auxiliares de pessoas sem deficiência, nunca sendo ou merecendo o protagonismo de suas próprias vidas.

O termo também passa imagem de infantilidade, devido a representações midiáticas das pessoas com nanismo como bondosas e desajeitadas. A visão é reforçada pelo longa animado Branca de Neve e os Sete Anões (1937), em que a presença da princesa é mostrada como crucial para que os sete homens com nanismo, que a acolhem, tenham uma vida mais organizada, visto que ela se torna a responsável pelas tarefas domésticas e demais cuidados, enfatizando a incapacidade do grupo de viver de maneira completamente independente, isto é, sem a ajuda de uma pessoa de estatura média, que lhes oferece cuidados que beiram o maternal.

Por isso, seja dentro da comunidade PCD em geral ou em ambientes médicos e científicos, é preferido o termo nanismo para se referir à condição, visto que ela não afeta apenas a altura do indivíduo, mas também implica em condições de problemas respiratórios, de peso, dores crônicas e muitas outras questões de saúde e desenvolvimento. 

Para a vivência plena de pessoas com nanismo em sociedade, algumas alterações precisam ser feitas e serviços exclusivos precisam ser prestados, como adaptações de espaços públicos e a garantia de profissionais da saúde especializados para atender pessoas com essa condição. Além disso, o combate ao preconceito e a educação adequada a respeito da luta anticapacitista. Ainda assim, as dificuldades não tornam ninguém menos incapaz de viver sua vida de forma independente. Antes da deficiência, existe uma pessoa, que merece respeito, e o respeito inclui tratá-la por quem realmente é.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Chenny
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Lívia Oliveira e Mariana Correa