Quem foi Dandara dos Palmares?

O quilombo dos Palmares é reconhecido como um dos maiores núcleos de resistência de escravos na história do Brasil. E podemos dizer que sua simbologia já tem início por sua linhagem real, já que ele foi fundado no final de 1590 pela princesa congolesa Aqualtune, mãe do lendário Ganga-Zumba e avó de Zumbi dos Palmares, o também lendário líder do Quilombo e companheiro de Dandara. Ele resistiu aos ataques holandeses, luso-brasileiros e de bandeirantes paulistas como um estado autônomo por quase cem anos. 

Os textos que fundamentam a história dos quilombos de Palmares baseiam-se em relatórios militares encomendados pelas autoridades coloniais. Foram escritos sob a ótica dos dominadores, repressores daquela subversão, e serviam principalmente para exaltar não as façanhas dos aquilombados, mas a atuação dos integrantes das expedições de captura ou extermínio.

Desta forma, não surpreende a falta de registros históricos em torno da figura de Dandara dos Palmares; isso apenas a torna amplamente debatida e envolta em incertezas. A existência de Dandara é mencionada em diversas obras literárias e históricas, ainda que muitas vezes de forma não conclusiva. Sua figura emerge como um personagem literário no romance Ganga-Zumba de João Felício dos Santos, publicado pela editora Civilização Brasileira em 1962, dois anos antes do início da ditadura militar no Brasil. Na “Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana”, Nei Lopes descreve Dandara como uma personagem lendária, destacando a aura mítica ao seu redor:

“A figura de Dandara é envolta em lendas e poucos registros históricos. Sua história é mantida viva principalmente pela tradição oral e pela memória coletiva”.

Maurício Ayer, em suas análises, também questiona a historicidade de Dandara, sugerindo que ela possa ter sido uma criação para preencher a lacuna de uma figura feminina forte ao lado de Zumbi:

“Dandara dos Palmares pode ser mais uma construção mítica do que uma personagem histórica, criada para simbolizar a força e a resistência das mulheres negras”.

Não se sabe ao certo se Dandara veio da África ou se nasceu no Brasil, porém alguns estudos mencionam uma ascendência na nação africana Jeje Mahin, no Benin. A maior possibilidade é de que ela tenha se juntado aos palmarinos ainda muito jovem. Frequentemente lembrada por sua habilidade em capoeira e seu compromisso inabalável com a liberdade de seu povo, poderíamos descrevê-la como uma mulher forte, bela, guerreira, persuasiva, líder e obstinada por liberdade

Ela teve papel crucial na defesa do Quilombo, quando lutou ao lado de Zumbi dos Palmares. Também participou ativamente na organização da resistência, na elaboração de estratégias de combate e na manutenção da ordem dentro do quilombo. Sua posição contrária ao acordo de paz proposto por Ganga-Zumba, que ela viu como uma traição aos ideais de liberdade, destaca sua determinação em não se submeter às condições impostas pelos colonizadores. 

Acredita-se que Dandara tenha morrido em 06 de fevereiro de 1694, com a destruição do Quilombo dos Palmares pela tropa do paulista Domingos Jorge Velho após ferrenha e heroica resistência imposta pela comunidade quilombola. De acordo com alguns relatos, ela teria se jogado de um penhasco para não se submeter aos inimigos. 

Importância Contemporânea

No Brasil atual, onde o racismo e o machismo ainda são problemas persistentes, a figura de Dandara serve como uma fonte de inspiração e um lembrete da importância de reconhecer e valorizar as contribuições das mulheres negras. Sua história é uma ferramenta educativa poderosa que pode ser utilizada para promover a igualdade de gênero e a conscientização racial e para combater a narrativa histórica oficial, que marginaliza ou omite as contribuições das mulheres e dos negros. Ela é um símbolo de resistência e empoderamento, um passo crucial para a construção de uma história mais inclusiva e representativa.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Reinaldo Coutinho Simões
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Lívia Figueiredo e Nico Baladore