Muito se discute sobre o relacionamento de pessoas alinhadas ao feminino. Tais relações são alvos de preconceito, críticas e são deixadas de lado, inclusive pelas grandes mídias, que insistem em cancelar o pouco de representatividade presente nas telonas. Mesmo assim, ao retratar tais relações nos filmes, livros, séries, fóruns e diversos outros meios de comunicação, veio com essa onda de visibilidade um poder único e inigualável: a identificação.
Com a ascensão desse fenômeno, passou-se a discutir o termo a ser utilizado para descrever esses relacionamentos, uma vez que muita gente sentia-se excluída com a utilização da palavra “lésbica” para designar especificamente o envolvimento de pessoas alinhadas ao feminino. Sendo assim, buscando um cenário de inclusão e respeito pelas mais diversas sexualidades, surgiu o termo “sáfica”. Vale mencionar que, para além do termo, “sáfica” também pode ser uma orientação em si.
A origem da expressão “sáfica” remete à poetisa Safos, uma das habitantes da ilha de Lesbos que viveu entre 630 a.C. e 604 a.C. A escrita sobre o desejo e sobre o amor, especificamente entre pessoas alinhadas ao feminino, foi uma das razões que popularizou a poesia de Safos, tornando-a uma figura histórica que perdura e inspira muitos anos após sua morte.
O termo em si foi descoberto em meados do século XVII e amplamente utilizado a partir dos anos 50, nos Estados Unidos. No início, a expressão era utilizada para designar o amor entre duas mulheres, porém, nos últimos anos, vem sendo utilizado como uma alternativa inclusiva para o termo “lésbica”.
Isso se deu devido a palavra lésbica tratar-se de uma sexualidade específica, na qual pessoas alinhadas ao feminino se atraem exclusivamente por outras pessoas alinhadas ao feminino. O termo sáfica, portanto, busca incluir pessoas de inúmeras sexualidades e gêneros, a exemplo de bissexuais, pansexuais, polisexuais, transfems, transmasc, não-bináries e qualquer ume que identifique-se com o termo.
Vale ressaltar que qualquer pessoa que não seja exclusivamente alinhada ao masculino pode identificar-se e utilizar“sáfica”, pois a intenção do termo é justamente servir de guarda-chuva e buscar abraçar a todes que sintam-se contemplades por ele.
A grande discussão que mostra-se bastante acalorada nas redes sociais refere-se a confusão, e podemos falar até mesmo de uma rivalidade, que surge entre as referidas palavras “sáfica” e “lésbica”. O argumento utilizado por aqueles que se negam a reconhecer a existência de um termo inclusivo, é o de que ambas as palavras significam a mesma coisa, possuindo a mesma origem e, portanto, não haver a necessidade da utilização de um termo em detrimento do outro.
Ademais, discute-se também a incerteza em relação à sexualidade de Safos, sobre a qual muites dizem que não era necessariamente lésbica. Por esse motivo, o termo sáfica serviria para compreender relações não apenas nos tempos atuais, mas também no passado da poetisa. A sexualidade de Safos, contudo, é enigmática, e não merece ser o alvo principal da discussão.
O que importa, realmente, é que o termo sáfico foi reivindicado por pessoas alinhadas ao feminino, as quais sentiam a necessidade da existência de um termo que as contemplasse, sem fazer referência a uma sexualidade específica.
Sáfica, portanto, surge como uma expressão que traduz inclusão, amor e respeito à diversidade, retrato daquilo que Safos sempre abordou em seus poemas, profetizando: “sei que no futuro, também se lembrará de nós”.