Ainda há muito para se estudar, relembrar e definir a respeito da sexualidade humana, principalmente sobre sua fluidez e expressão variando de pessoa para pessoa. Exatamente por isso ainda há uma rigidez considerável a respeito de duas das multissexualidades mais conhecidas: bissexualidade e pansexualidade.
Para muites, a panssexualidade é considerada como uma “gourmetização” (lê-se: banalização ou “variação”) da bissexualidade; mas não é realmente assim.
Na maioria das vezes em que se colocam essas duas multissexualidades em discussão, suas definições estão dadas de maneira errada. Você já deve ter lido ou ouvido por aí que pessoas pansexuais se atraem por qualquer coisa ― animais, plantas etc ―; que o termo foi criado somente para separar e evitar a bissexualidade; ou que é uma orientação sexual feita para englobar também pessoas trans e intersexo.
Entretanto, o surgimento da pansexualidade se dá pela necessidade de desconsiderar, fundamentalmente, a binariedade de gênero e se descrever com uma orientação sem qualquer foco a esse fator. A princípio, ela conversava diretamente sobre rejeitar a binariedade de gênero e inserir a atração por pessoas que a bissexualidade supostamente excluía. Mas, apesar de seu sufixo “bi”, o termo não está ligado ao que é binário ou, melhor dizendo, não se refere somente ao masculino e ao feminino.
Mas, se já é esclarecido que a bissexualidade não é uma sexualidade binarista, a pansexualidade ainda é válida?
Totalmente. E, para melhor responder a essa questão, o texto A PANSEXUALIDADE NÃO EXISTE!!!. É o que dizem. Apesar disso, nós continuamos aqui, não é?, por Bruno Ferreira Botelho Lopes, diz:
“A pansexualidade, enquanto comunidade, nasce do momento em que indivíduos não-monossexuais deixam de se reconhecer dentro dos discursos da comunidade bissexual. Se funda em uma afirmação política e identitária que reconhece uma maior fluidez sexual e de gênero em suas relações.
Assim, pessoas não-monossexuais que se identificavam cada vez menos com as discussões (algumas já superadas, outras não) dentro da comunidade bissexual, passaram a se reunir ao redor do termo “pansexual” para afirmar: nosso desejo e afeto transcende toda e qualquer fronteira de gênero!”
Ainda que as duas tenham seus significados semelhantes, ambas surgiram em contextos diferentes e, portanto, devem ser reconhecidas e validadas. Como dito em nosso texto sobre A coexistência multissexual, vale ressaltar que: “Antigamente, pessoas se sentiam da mesma maneira, mas não possuíam o contato direto como hoje, então não sabiam que essa maneira de ser e sentir possuía um nome (…) Existe, também, a criação de termos para pessoas que se sentem mais confortáveis com outros termos”.
Isto é, o fato de que elas coexistem com outras multissexualidades ― como, por exemplo, a omnissexualidade ― não as anula. Muito pelo contrário! Esse fator traz ainda mais inclusão à comunidade LGBTQIA+, a partir do momento em que também inclui diferentes termos que a contemplem por inteiro.