A condição de mulheres e pessoas trans alinhadas ao feminino na sociedade é carregada de estereótipos que se fundamentam na discriminação de gênero, como a transfobia e a misoginia. Essas discriminações podem atuar em conjunto e intensificar o preconceito contra pessoas trans.
Entende-se por transmisoginia uma junção entre esses dois tipos de preconceito. No entanto, é preciso perceber que a transmisoginia não atinge somente mulheres ou pessoas trans alinhadas ao feminino, visto que essa observação deve levar em conta as expressões de gênero de pessoas trans, além de suas identidades.
A transfeminista norte-americana Julia Serano foi a responsável por cunhar o termo “transmisoginia” e por teorias a respeito do seu significado social, cultural e político. No seu livro Whipping Girl, ela explica que quando uma pessoa trans é discriminada não apenas por não cumprir as normas de gênero, mas por suas expressões de feminilidade, ela se torna vítima de uma forma específica de discriminação: a transmisoginia.
Julia apresenta exemplos que não são tão observados comumente, mas que compõem manifestações de transmisoginia e em como esse preconceito está arraigado na sociedade. Um dos exemplos é em como a mídia hipersexualiza as mulheres trans criando a impressão de que elas são profissionais do sexo, afirmando que elas optam pela transição por cirurgias e terapia hormonal por razões principalmente sexuais. Essas representações não apenas menosprezam a condição das mulheres trans, mas sugerem que por serem mulheres elas não possuem valor social além de poderem ser sexualizadas.
A transmisoginia pressupõe uma hierarquização de gênero em que o masculino se sobrepõe ao feminino. Essa ideia baseada no ser masculino como superior considera uma lógica transfóbica, visto que o homem trans não participa dessa dominação de gênero, pois este sofre opressão baseada na sua transgeneridade. A conjuntura da transmisoginia leva em consideração estereótipos sobre corpos trans e sua discriminação se baseia essencialmente nisso. Mulheres trans são violentadas por performarem sua feminilidade, enquanto homens trans são violentados pela natureza do seu corpo, designado como feminino no nascimento.