Neste ano de 2024, todo o mundo está reunido com uma expectativa em comum: as Olimpíadas sediadas em Paris. Atletas das mais diversas modalidades estão competindo para levarem medalhas às suas casas e representarem seus países com muito orgulho. Entretanto, o termo “orgulho” infelizmente foi quebrado para algumas pessoas.
A ministra de esportes da França, Amélie Oudéa-Castéra, proibiu atletas e integrantes das comissões técnicas das Olimpíadas de 2024 de usarem quaisquer símbolos ou fazerem quaisquer manifestações religiosas. À primeira vista, isso pode parecer uma decisão para manter a igualdade independente de religião, mas se revela uma teia de islamofobia ao impedir o uso do véu islâmico, conhecido como hijab, o que gatilhou uma série de manifestações contrárias vindo da comunidade islâmica e de organizações dos direitos humanos.
Segundo Anna Bwabus, pesquisadora da Anistia Internacional da Europa, “impedir os atletas franceses de competirem com hijab esportivos nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos zomba das alegações de que Paris 2024 é a primeira Olimpíada da Igualdade de Gênero”. A hipocrisia francesa é escancarada quando mulheres islâmicas são excluídas e têm sua cultura ofendida perante uma decisão ocidental preconceituosa.
A França, na verdade, já possui um histórico de islamofobia e opressão contra pessoas marrons. Em 2004, o abaya — vestido longo que não marca a silhueta feminina — e o lenço foram proibidos nas escolas, através da lei n° 228 que justificou a decisão com o princípio da laicidade, ignorando que seriam os muçulmanos, especialmente as mulheres, os mais afetados. Em 2010, uma continuação dessa lei proibiu o uso da burca e do niqab, duas vestimentas comuns de países árabes, em todo o território francês, independente do espaço ser público ou privado. Ambas as leis foram consideradas constitucionais e não tiveram forte oposição dentro do governo.
O argumento de que a burca e o hijab desrespeitam a dignidade da mulher é uma prova de que os direitos femininos estão sendo discutidos por homens brancos ocidentais, e não pelas mulheres muçulmanas. Além de lidarem com o estereótipo de “terroristas” marcado pelos Estados Unidos e pela Europa, elas também têm sua autonomia desconsiderada quando diz respeito a poderem seguir a própria religião. Embora exista uma problemática de misoginia em diversos países árabes, nenhum país ocidental é um grande exemplo de luta pela defesa das mulheres.
A proibição do hijab nos Jogos Olímpicos da França, assim como as outras leis opressoras contra o vestuário islâmico, ainda não deu sinais de que será desfeita. O Comitê Olímpico Internacional (COI) também se recusou a conversar com as autoridades esportivas francesas para que a proibição fosse anulada. É um momento vergonhoso e, sem surpresa, bastante islamofóbico do país, principalmente ao se considerar que a participação do Estado genocida de Israel não foi barrada no evento, mesmo após terem assassinado mais de 300 atletas da Palestina, cuja população é, em sua maioria, marrom e islâmica.
O mundo ocidental continua apresentando um ambiente hostil para pessoas árabes, pois a opressão não é exclusiva das grandes potências como a França e os Estados Unidos. No Brasil, após o início do genocídio palestino no final de 2023, casos de islamofobia comprovadamente aumentaram, conforme aponta uma pesquisa da USP. A decisão do governo francês quanto ao hijab infelizmente representa uma grande parcela de pessoas, ainda mais brancas, que perpetuam estereótipos de “terroristas” e “preconceituosos” sobre a comunidade islâmica, sem se informarem de toda a diversidade LGBTQIA+, de gênero e de nacionalidade que a compõe.
Referências
- Relatório mostra aumento de casos de islamofobia após ataque do Hamas, por Agência Brasil.
- Proibição do uso de hijab nas Olimpíadas viola direitos humanos, diz Anistia Internacional, por Alma Preta.
- Barbosa, F. C. Sem lenço, sem abaya, sem burquíni — a islamofobia francesa.
Ficha técnica
Escrita: Nico Baladore
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Brian Abelha