Duplo marte e Duplo vênus

A comunidade LGBT+ adota símbolos com os quais se identificam para demonstrar a união, orgulho e compartilhar valores conceituais e históricos. Dentre eles, há o duplo marte e o duplo vênus, ambos com significado e uso debatível, porém simbolizando parte da luta LGBT+. 

Por conta disso, é importante conhecer a história, sua origem e seu significado, entendendo a sua importância e como deve ser utilizado.

Deidades e os Astros

Ambos Marte e Vênus são deidades do panteão romano, tendo as suas representações gregas como Ares e Afrodite. Existem diversas lendas que falam sobre o nascimento de Vênus, dentre essas a de que ela é filha de Júpiter e Dione. Ainda na história, é contado que, em agradecimento à criação de seus poderosos raios, Júpiter oferece a mão de Vênus para o deus das forjas, Vulcano.

No entanto, a deusa o trai com Marte, e dessa traição nascem diversos filhos, como Cupido, que é considerado o símbolo do amor.

Em relação aos planetas que recebem o nome dessas deidades, Marte, por ter uma coloração vermelha, é relacionado ao sangrento deus da guerra, e seus dois satélites receberam o nome de Deimos e Fobos, ambos filhos de Marte e Vênus. 

Quanto ao planeta Vênus, a relação com a deusa é desconhecida, entretanto, existem registros do planeta datados de 685 A.C. Além disso, ele também foi batizado com outros nomes.

O símbolo de marte (♂) é datado do século XI, representando o escudo e lança de Marte; no livro “Compendium of Astrology”, de Johannes Kamateros, a lança atravessa o escudo. Nos papiros gregos de Oxirrinco, é apresentado um símbolo diferente.

Já o símbolo de vênus (♀) pode representar o espelho da deusa, mas ainda não se tem um consenso acerca do que de fato ele significa. Nos papiros gregos de Oxirrinco, o símbolo aparece sem a cruz embaixo, mostrando apenas o círculo, já no livro de Johannes Kamateros, o símbolo aparece como “⚲”.

A origem do masculino e feminino

Desde a relação das deidades com a nomeação dos planetas, temos a utilização dos mesmos símbolos, antes referidos a astros e deuses, na biologia.

É importante citar o trabalho do botânico, zoólogo e físico Carl Linnaeus, “Pai da taxonomia moderna”. A relação dos símbolos de marte e vênus com os sexos surge quando Linnaeus busca uma forma de classificar as plantas, designando o símbolo de marte e vênus para as plantas masculinas e femininas, respectivamente, e o símbolo de mercúrio para as plantas hermafroditas. Pelo uso constante dessa associação e pela facilidade de lembrá-la, os símbolos passaram a ser utilizados na zoologia também, sendo usados por Kelreuter em seus experimentos de hibridação.

Por fim, os símbolos acabaram por se tornarem representações do sexo — ou gênero —  masculino e feminino.

Representação e uso dos símbolos

Ainda sobre o espelho de vênus, além do seu uso na biologia e astrologia, ele também é utilizado por diversos grupos feministas. Assim, a reivindicação do vênus duplo passa a representar o relacionamento entre mulheres — incluindo também modalidades não-binárias de gênero.

Por conta do contexto histórico no qual o símbolo foi adotado, em 1970, ele acaba ficando intrínseco à comunidade lésbica, visto que não havia uma distinção clara entre homossexualidade e a multissexualidade.

Atualmente, representa tanto um símbolo lésbico como o relacionamento sáfico de modo geral, podendo ser utilizado por quaisquer pessoas de gênero não-masculino.

Semelhante ao símbolo de vênus, o escudo e lança de marte é adotado como um representante do gênero masculino, e a utilização do duplo marte representa o relacionamento entre homens — novamente, incluindo pessoas não-binárias.

O duplo marte foi adotado em 1970, juntamente com o duplo vênus. Assim, há uma associação do símbolo à comunidade gay, porém, tal qual o duplo vênus, o símbolo pode ser utilizado como um representante da comunidade gay ou do relacionamento aquileano.

Conclusão

A adoção de símbolos na comunidade LGBT+ diz respeito apenas ao grupo que vai utilizá-los, e é importante lembrar que muitas vezes esse grupo se estende a outras comunidades, como é o caso do duplo marte e vênus. Vale frisar a importância de compreender o contexto histórico e a origem do símbolo, para assim possibilitar uma discussão maior acerca do uso dos mesmos.

Por fim, é importante notar que ambos os símbolos surgem em um contexto binarista de gênero, e que apenas hoje em dia o significado foi alterado de forma a incluir a não binariedade. A origem dos símbolos de marte e de vênus possui um lado estereotipado sobre masculinidade e feminilidade, afinal, Marte e Vênus são modelos masculino e feminino, respectivamente.


Referências: