As consequências do racismo na saúde mental

O racismo é uma forma de discriminação social baseada na ideia de que uma raça é superior a outra. Esse preconceito não é apenas um problema social e estrutural; ele também tem um grande impacto na saúde mental das pessoas racializadas.

“Em nações com histórico colonial, os marcadores sociais de diferenças têm profunda ancoragem na demarcação racial e refletem a disparidade na oferta e no uso de serviços de saúde para a população negra” (Oliveira et al., 2020). 

No Brasil e nos demais países desenvolvidos sob um regime de colonização — nos quais povos indígenas e africanos foram explorados, escravizados e marginalizados —, o racismo está enraizado nas estruturas da sociedade, sustentando uma divisão social baseada na raça, na cor da pele e na ancestralidade e afetando diferentes aspectos da vida das pessoas racializadas, como bem-estar e direitos. 

Desde a infância até a vida adulta, ser vítima de discriminação — seja de forma explícita ou sutil — gera estresse, ansiedade e traumas que se acumulam ao longo do tempo. Muitas vezes, essas experiências são invalidadas pela sociedade, tornando ainda mais difícil para as vítimas expressarem seus sentimentos e buscarem apoio. Além disso, quando procuram ajuda, frequentemente não encontram os recursos necessários: fontes como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e a Política Estadual de Atenção Integral à Saúde da População Negra (PEAISPN) indicam que a população racializada enfrenta mais dificuldades para acessar cuidados de saúde, incluindo os serviços de saúde mental.

O racismo se manifesta de diversas formas: pode ser direto, como no racismo interpessoal — por meio de violência explícita e microviolências —, ou estrutural, dificultando o acesso das pessoas racializadas a direitos básicos como saúde, educação e segurança. As consequências podem ser graves e extremas: além dos danos à saúde física, há impactos significativos na saúde mental, perpetuando transtornos como ansiedade, depressão, suicídio, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), insônia, síndrome do impostor e baixa autoestima.

A terapia seria fundamental nesse cenário, mas ainda é um serviço pouco acessível e fora do orçamento para grande parte da população racializada, em especial para a população negra, que, historicamente, enfrenta mais dificuldades econômicas devido ao racismo estrutural. Além disso, a falta de representatividade entre os profissionais da área gera afastamento e  desconfiança que desmotivam pessoas racializadas a buscarem tratamento adequado.

Isso reforça a importância de uma abordagem antirracista na saúde mental e da ampliação do acesso a esses serviços. Fortalecer a identidade e a cultura negra, buscar apoio comunitário e cobrar políticas públicas antirracistas são atitudes essenciais para transformar essa realidade. Porém, sem uma mudança estrutural na sociedade, a saúde psicológica de pessoas racializadas continuará sempre em risco. Logo, o combate ao racismo, além de ser uma luta social, também é uma questão de saúde pública.

Dica: Existem plataformas de atendimento online com psicólogos por valores mais acessíveis, como o PsyMeet, e há ainda o atendimento oferecido pela unidade de saúde mental do SUS, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que apesar de ter um longo caminho para melhor atender seus pacientes, ainda possibilita acesso a medicações e atendimento. 

Se você está sofrendo (ou suspeita que está) de algum transtorno mental, não deixe de buscar ajuda! Em caso de pensamentos suicidas, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), no número 188. Sua vida importa! 


Referências: 


Ficha técnica:

Escrita: Bettina Winkler
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Beatriz Janus e Mariana Correa