Nos anos 1980, uma década marcada pela perda de tantas vidas para a Aids e o HIV, principalmente dentro da comunidade LGBTQ+, foi criada a primeira instituição de assistência a essas pessoas no Brasil: a Casa de Apoio Brenda Lee.
Brenda Lee era uma travesti pernambucana que foi expulsa de casa aos 14 anos e, em busca de uma oportunidade, se mudou para São Paulo, onde se viu obrigada a se prostituir para sobreviver.
Em 1984, Brenda decidiu abandonar a prostituição e comprou um imóvel com o objetivo de transformá-lo em uma pensão para hospedar pessoas LGBTQ+, que eram frequentemente rejeitadas em outros estabelecimentos.
Pouco tempo depois, a pensão virou abrigo para mulheres transgênero e travestis que eram expulsas de casa ou que fugiam dos crescentes assassinatos cometidos pela polícia. Com o grande número de mulheres trans e travestis abrigadas, a casa ganhou o apelido de “Palácio das Bruxas”, mas Brenda Lee logo a renomeou como Palácio das Princesas.
Naturalmente, com o aumento dos casos de HIV/Aids, o Palácio se transformou em um refúgio para as pessoas LGBTQ+ que viviam com o vírus. Brenda sustentou dezenas de pessoas na Casa de Apoio e buscava visibilidade e recursos em programas de televisão e em ONGs internacionais, por exemplo. Assim, Brenda Lee ficou conhecida como “o anjo da guarda das travestis”.
Em 1988, a Casa de Apoio Brenda Lee foi oficialmente fundada e ganhou reconhecimento em São Paulo. Firmou uma associação com o Hospital Emílio Ribas, o que foi fundamental para a organização de uma rede de atendimento a pessoas soropositivas em São Paulo. A instituição foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como referência no combate à Aids e ao HIV.
Aos 48 anos de idade, Brenda Lee foi vítima de um funcionário, com quem ela tinha uma relação amorosa: ele praticou um golpe financeiro, falsificando um cheque em nome de Brenda e a assassinou após ela registrar uma queixa na polícia.
Após a morte da sua fundadora, a ONG continuou oferecendo ajuda a pessoas vivendo com HIV/Aids até 2012, quando o convênio com a Secretaria Estadual de Saúde foi encerrado. Mas o Palácio das Princesas continuou acolhendo a comunidade trans e travesti com ofertas de cursos profissionalizantes para esse público, o que ocorreu até 2017, ano em que a Casa fechou as portas por decisão judicial.
O que se sabe sobre esse episódio é que a Casa de Apoio Brenda Lee tem mais de 70 processos ligados a ações trabalhistas no JusBrasil e estava sendo investigada por irregularidades nos contratos com a Prefeitura e má prestação de serviço. Após isso, o Palácio das Princesas foi impedido de fazer novas parcerias, o que levou ao seu fechamento.
Referências
- Casa de Apoio Brenda Lee | Prosas
- Referências Culturais: Memórias | Instituto Pólis
- Brenda Lee: ‘anjo da guarda das travestis’ | Politize!
- Palácio das Princesas | FAU USP
- A Casa de Apoio Brenda Lee está fechada | Olivia Lopes
Ficha técnica
Escrita: Ingredy Boldrine
Revisão: Lara Moreno e Brian Abelha