Flores símbolos da comunidade LGBTQ+

A prática de atribuir significados a flores é bastante antiga, algo que acontece há séculos. Acredita-se que as flores e suas cores são capazes de transmitir mensagens específicas, seja paixão e romance, como a rosa vermelha, ou amizade, como as rosas amarelas. Essa atividade, conhecida como floriografia, ganhou força no século 19 durante a era vitoriana — era em que a sexualidade, no geral, era bastante reprimida, toda relação que fugia da heteronormatividade e do matrimônio era considerada pecado e merecedora de punição.

Por esse motivo, foi um período em que tudo que era relacionado a romance, principalmente os LGBTQ+, era expresso de forma codificada. A floriografia, então, se tornou uma maneira de manifestar, sutilmente, a sexualidade ou para que fosse possível se declarar para a pessoa amada sem sofrer algum tipo de castigo.

Esse ato de interpretar o sentido das flores já é algo bastante presente na nossa cultura, em razão disso, mesmo após a era vitoriana terminar, algumas flores continuaram ganhando bastante importância na luta queer.

Violeta

Desenho de duas violetas em aquarela.

A poeta Safo de Lesbos foi quem fez com que as violetas se transformassem em um emblema LGBTQ+, mais especificamente um símbolo para pessoas alinhadas ao feminino que sentem atração por pessoas alinhadas ao feminino.

Safo menciona as violetas em alguns de seus poemas. O mais representativo é o “A Átis”, no qual o eu lírico relembra a amada dos momentos de amor que elas viveram e citam as grinaldas que trançaram juntas “rosas, violetas, açafrão”.

As violetas, então, viraram símbolo tão grande do amor sáfico que estão no centro da bandeira sáfica.

Cravo verde

Imagem de dois cravos verdes em um fundo branco.

Em 1892, na abertura da peça “O Leque de Lady Windermere”, de Oscar Wilde, o personagem Cecil Graham usou cravo verde como parte de seu figurino e Wilde ordenou que alguns homens da plateia também portassem as flores na lapela de seus ternos. O escritor, por já ser conhecido por manter relacionamentos com outros homens, mesmo após afirmar que o cravo verde não significava nada, surgiu um boato de que usar as flores era, na verdade, um indício de que a pessoa se relacionava com outras do mesmo gênero.

Amor-perfeito

A imagem consiste em pinturas estilo aquarela de seis flores amor-perfeito, sendo cada uma de uma cor.

Em inglês, a flor amor-perfeito é chamada de “pansy” e esse nome também é usado como forma de insulto a homens gays. Nos anos de 1930, iniciou-se o movimento “Pansy Craze” (ou Amor-perfeito Mania, numa tradução livre), um estilo de vida queer boêmio nos Estados Unidos. Foi nesse momento que as casas noturnas com apresentações de drag queens começaram a ganhar popularidade.

E em 2005, o artista Paul Harfleet fundou o “Pansy Project” (Projeto Amor-perfeito), um projeto que consiste em plantar amores-perfeitos em lugares nos quais ocorreram violências homofóbicas e transfóbicas.

Lavanda 

Desenho de flores de lavanda em aquarela.

Tons de roxo são associados à comunidade LGBTQ+ desde a época de Safo. Numa tentativa de amenizar o escândalo, tudo que era queer era chamado de “lavanda”. Porém a lavanda se tornou, definitivamente, um símbolo da comunidade na década de 1950, quando ocorreu o “Lavender Scare” — ou “Terror Lavanda” —, uma operação ordenada pelo então presidente dos Estados Unidos da América, Dwight D. Eisenhower, que tornou regra investigar e demitir pessoas LGBTQ+ do governo federal.

Em 1969, a lavanda ganhou destaque mais uma vez quando Betty Friedan — uma das fundadoras da NOW (National Organization for Woman, ou Organização Nacional Para Mulheres) — nomeou as lésbicas como “ameaça lavanda”, por serem, segundo ela, um perigo ao feminismo. As ativistas lésbicas ressignificaram esse nome e o adotaram como nome de alguns de seus grupos.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Ingredy Boldrine
Leitura crítica: Chenny
Revisão: Brian Abelha, Lara Moreno