Por que a frase “muitos homens não são homossexuais, mas são homoafetivos” está errada?
Comentários comparando o comportamento odioso de homens contra mulheres a relações homo são comuns, mas disseminar este tipo de afirmação não apenas desvia a atenção da verdadeira questão — machismo e misoginia — como também propaga homofobia e lgbtfobia. Para entender isso melhor, é necessário diferenciar os três tópicos básicos que englobam esta discussão, mas que sempre são confundidos como uma única coisa:
1. Utilizar da homossexualidade/homoafetividade como justificativa para ações machistas e misóginas de homens afasta o foco em discussões sobre os verdadeiros efeitos do ódio contra mulheres na sociedade e impõe a culpa a apenas um tipo de inimigo.
2. O fato de muitos homens serem machistas e/ou misóginos, ou seja, inferiorizarem, objetificarem e odiarem mulheres, mas sustentarem amizades com outros homens não é sinônimo de homossexualidade, e tal ideia idealiza o homem cis hétero como perfeito, impossível de ser preconceituoso. Implicitamente, a conclusão é que homens gays odeiam mulheres e, para que alguém se identifique como gay, essa pessoa deve necessariamente odiar mulheres. Se este fosse o caso, toda a misoginia do mundo seria única e exclusivamente culpa de homens homossexuais.
3. Homoafetividade não é sinônimo de amizade entre homens. Apesar de parecer somente uma palavra para “o afeto entre homens” de modo geral, seja em forma de amizade ou romanticamente, homoafetividade qualifica a pessoa que sente atração por uma pessoa do mesmo gênero. O termo homoafetivo foi criado para diminuir a conotação pejorativa que se dava aos relacionamentos homossexuais, e tornou-se uma expressão jurídica para tratar do direito relacionado à união de casais do mesmo gênero.
Em duras palavras, se um homem hétero odeia mulheres, ele não é gay, ele é apenas um homem hétero misógino.
Entender e, principalmente, separar a misoginia da homofobia não se trata de retirar a responsabilidade de todos os homens misóginos de sua visão preconceituosa, mas evita a posição de inimigo a que gays são submetidos no contexto dessas falas.
Atribuir a homossexualidade a uma violência que não só limita e fere, mas também mata mulheres, ou a utilizar como um “xingamento” à masculinidade de um homem heterossexual e misógino, não é só um desvio ao que realmente importa — isto é, as reflexões sobre comportamentos misóginos e machistas —, mas sim um ato de homofobia e lgbtqfobia.