O alarmismo contra métodos anticoncepcionais

Nos últimos anos, tem havido uma crescente onda de desinformação quanto aos métodos contraceptivos e à saúde reprodutiva, potencializada pelos meios de comunicação virtuais, como redes sociais. Essas desinformações ocorrem concomitantemente ao debate atual sobre direitos reprodutivos e acesso ao aborto,  disseminadas tanto por criadores de conteúdo da extrema direita, que em defesa do conservadorismo têm associado  métodos contraceptivos com a moralidade e religiosidade, quanto alguns influencers de estilo de vida que descredibilizam a medicina moderna, propondo uma volta aos métodos mais “naturais”.

Essa desinformação é geralmente confundida com dicas de saúde, e ganham mais credibilidade quando partem de conteúdos produzidos por  figuras conhecidas, como aquela criadora de conteúdo fitness que todo mundo segue. Isso se dá pela crescente ênfase em preceitos morais conservadores e religiosos, que aconselham a abdicação de métodos contraceptivos a fim de “deixar para a vontade de Deus/conforme a natureza”, vendo como único propósito do sexo a reprodução e, também, pela descredibilização da medicina e da farmacologia.

Apesar do medo relacionado às instituições médicas e farmacêuticas ter sentido em determinados casos (como, por exemplo, as violações de direitos humanos historicamente realizadas contra pessoas marginalizadas), muitas alegações não levam em conta evidências científicas e o senso crítico. Isso leva a falta de discriminação do que cabe como criticismos embasados ou não, podendo desencorajar o público a utilizar contraceptivos seguros, recorrendo a métodos com baixo indice de eficácia, como o controle do período fértil.

No entanto, o compartilhamento de experiências pessoais, em conjunto com  opiniões de especialistas, podem auxiliar na informação do público e até mesmo instigar mudanças sistêmicas, como o que ocorreu recentemente a respeito do Dispositivo Intrauterino (DIU), que antes era inserido sem aplicação de anestésico, cenário alterado a partir da divulgação em massa da experiência dolorosa de pessoas que utilizaram o método contraceptivo. Para combater essa onda, é recomendada a divulgação de conteúdo acurado, como cientistas criadores de conteúdo ou colaborações entre profissionais de saúde e influenciadores, por exemplo.

Se você receber alguma informação, mesmo de uma figura pública que considera confiável ou de algum conhecido, não esqueça de conferir sua veracidade, preferencialmente consultando um médico da área. Você também pode buscar informações on-line em fontes confiáveis, como sites de órgãos governamentais ou conteúdo produzido por especialistas. Sempre pergunte-se: essa informação está de acordo com a opinião majoritária dos estudiosos da área? Cuidado a mais nunca é demais.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Anônime
Revisão: Déborah Ramos e Mariana Correa