João Nery foi um importante ativista brasileiro pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ e é considerado uma referência na luta pelos direitos das pessoas trans no Brasil. Ele foi o primeiro homem trans brasileiro a passar por uma cirurgia de redesignação sexual, em 1977, e desde então tornou-se um ativista constante pela causa.
Sua trajetória como ativista começou a partir da sua própria vivência como homem trans. Ele percebeu que, mesmo dentro da comunidade LGBTQIA+, havia pouca visibilidade e reconhecimento para a sua identidade de gênero, especialmente levando em conta que boa parte de sua vida, incluindo sua cirurgia, se deu em uma época em que o Brasil ainda passava por uma ditadura militar extremamente repressiva, e isso contribuía para uma baixa representatividade da comunidade, principalmente na mídia.
Ele também foi autor do livro “Viagem Solitária”, em que relata sua trajetória de vida e a experiência da cirurgia de redesignação sexual. A obra é considerada um marco na literatura trans brasileira e ajudou a dar visibilidade à questão, abordando a experiência da transgeneridade masculina. No livro, ele retrata a sua história de vida, abordando o período da ditadura militar no Brasil, durante os anos 70 e 80, e pautando questões como suas lutas contra a morte diante de um governo tão repressivo, num momento que ele chama de “viagem solitária em busca de sua sobrevivência”.
Em 2013, houve a elaboração do Projeto de Lei João Nery, também conhecido como PL 5.002, uma iniciativa da deputada federal Erika Kokay (PT/DF) e do deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ), que dispõe sobre a identidade de gênero, afirmando o direito ao seu reconhecimento legal. Além disso, de acordo com a proposta, tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto os planos de saúde serão responsáveis por cobrir integralmente os custos dos tratamentos hormonais e cirurgias de redesignação sexual para todes ês interessades maiores de 18 anos, sem a necessidade de qualquer tipo de diagnóstico, tratamento ou autorização judicial.
João Nery faleceu em 2018, deixando um legado importante para a comunidade LGBTQIA+. Sua luta pela visibilidade e reconhecimento das pessoas trans no Brasil ajudou a abrir caminhos para uma maior conscientização sobre as questões de gênero. Seu trabalho continua a inspirar e mobilizar pessoas trans em todo o país.