Representação LGBTQ+ em Novelas Brasileiras

A evolução da representatividade LGBTQ+ nas novelas brasileiras tem sido considerável, especialmente dentro do contexto de invisibilização das décadas passadas. Enquanto a Rede Globo apresentava alguns poucos personagens, outras emissoras de televisão enfrentavam desafios significativos em relação à inclusão de personagens e histórias LGBTQ+ em suas produções.

Durante as décadas de 60, 70 e 80, a TV Tupi, a TV Excelsior e a Rede Manchete não apresentaram representações LGBTQ+ em suas novelas de forma significativa. Questões relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero eram frequentemente ignoradas ou estereotipadas quando abordadas. Essa ausência de representatividade nas emissoras refletia as normas sociais conservadoras da época e a ampla falta de conscientização da sociedade em geral sobre questões LGBTQ+. Em um período de discriminação e marginalização social, as emissoras de televisão não tinham nem minimamente uma abordagem aberta ou inclusiva.

A partir dos anos 90 e 2000, é possível ver uma maior diversidade nesses contextos. Embora ainda com resistência e censura, algumas produções ousavam incluir personagens e histórias LGBTQ+, como a novela “Mãe de Santo” (1990) da Rede Manchete, que apresentou um beijo entre um casal aquileano, e a aparição da personagem intersexo Bubba, interpretada por Maria Luísa Mendonça, na primeira versão da novela “Renascer” (1993).

Foi somente nas duas últimas décadas que as outras emissoras, além da Rede Globo, começaram a abordar mais consistentemente questões relacionadas à comunidade LGBTQ+ em suas produções. Enquanto nas décadas anteriores as representações eram limitadas e frequentemente estereotipadas, hoje em dia vê-se uma diversidade muito maior de personagens e histórias que refletem a complexidade da experiência queer.

Ainda assim, é importante reconhecer que os últimos anos no Brasil têm sido marcados por uma guinada política à direita, o que tem trazido desafios adicionais para a comunidade LGBTQ+. Com o aumento da retórica conservadora e a diminuição do apoio a políticas de inclusão e direitos humanos, a comunidade queer enfrenta obstáculos crescentes em sua luta por igualdade e visibilidade. 

Em meio a esse cenário político, a representatividade na mídia desempenha um papel ainda mais crucial, pois pode servir como uma ferramenta para desafiar estereótipos e preconceitos e promover a aceitação e o entendimento. Portanto, as narrativas LGBTQ+ na televisão aberta não são apenas entretenimento, mas também formas poderosas de resistência e advocacia em um contexto social e político desafiador.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Reinaldo Coutinho Simões
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro e Bibiana Hotta
Revisão: Viktor Bernardo Pinheiro e Arê Camomila da Silva