A arromanticidade se trata da falta total, parcial ou condicional de atração romântica; no entanto, é muitas vezes vista como frieza, apatia ou confusão. Assim, uma pessoa arromântica é lida como alguém fadada a estar sozinha, sem qualquer hipótese de se envolver em relacionamentos para além de amizade — e, às vezes, nem mesmo nestes.
A ideia de amor romântico é reforçada em diversos momentos da vida humana, através de filmes, livros, novelas e até mesmo relatos, sendo a amatonormatividade — termo criado pela filósofa Elizabeth Brake em busca de caracterizar a pressão que empurra conceitos de romance socialmente aceitos — o principal fator a moldar a ideia de que relacionamentos são o ponto alto da vida.
Assim, em uma relação, há uma ordem das coisas — especialmente quando seguido o modelo cristão. A instituição matrimonial é presente na sociedade desde o período dos sumérios, acompanhando o desenvolvimento da sociedade ao apresentar princípios e valores diferentes em cada época. Atualmente, casamento possui princípios religiosos e reconhecimento civil, porém, ao analisar o costume, se nota que não há uma diferença significativa entre casar ou não, então quaisquer limites ou restrições a serem quebradas após o casamento são fruto de uma crença social e/ou escolha subjetiva.
Estando exposto a não-existência de um valor substancial no casamento — a menos que as pessoas envolvidas atribuam um significado ao mesmo —, é possível reconhecer que a normatividade dessa relação traz a crença de que é necessário um vínculo, um amor, um desejo para que uma relação seja válida, quando na realidade basta uma troca de afeto ou favores entre duas ou mais pessoas.
Mas o que isso tem a ver com a arromanticidade?
Na comunidade LGBTQ+, existem os mais variados tipos de relacionamento — com mais de duas pessoas, queerplatônicos, etc —, sendo eles constantemente criticados, mal vistos e marginalizados pela sociedade cis, hetero, monogâmica e allonormativa.
A arromanticidade, como uma identidade plural, possui os mais variados tipos de pessoas, sensações e sentimentos. Assim, existe parte da comunidade que sente atração romântica — parcial ou condicional —, parte que não sente, mas engaja em relações amorosas para além do romance, e parte que não tem qualquer interesse em ir além da amizade com alguém, o que dá abertura para diversos tipos de relacionamentos nessa comunidade.
Tendo em vista a anteriormente mencionada superestima do que é o casamento, é possível deduzir que as relações sexuais — que, numa visão cristã, vêm após o casamento — possuam um lugar logo ao lado na ordem “natural” de uma relação. É disseminado o mito de que amor e sexo devem estar ligados.
Sendo assim, a pergunta é: seria possível um relacionamento sexual sem amor?
Para chegar na conclusão de que sim, é possível se envolver de forma sexual sem qualquer conexão amorosa — ou pelo menos sem conexão com o amor romântico —, é preciso desconstruir um pensamento que está enraizado em sua cabeça desde cedo: o de que o sexo é um ato especial e único, que representa a maior da intimidade.
Não é um pensamento errado e, se você se sente assim em relação a este tipo de ato, não há mal algum. O problema vem quando a sua experiência pessoal com o que significa uma relação tem base em uma pressão social, acompanhada de culpa, raiva e um sentimento de sujeira.
A exploração da sexualidade é parte do processo de amadurecimento, e entender seus desejos e sentimentos é essencial para compreender a si mesme.
E, sendo provado que a resposta à pergunta anterior é sim, e que sexo e amor nem sempre vêm interligados, é possível um relacionamento amoroso sem sexo?
E, claramente, a resposta é sim — não apenas para pessoas arromânticas ou assexuais, mas para allos também. Um relacionamento pode ser baseado em diversas coisas, dependendo sempre dos acordos entre as pessoas envolvidas; logo, é inegável que não possuir sexo não anula outras coisas que, de modo geral, são muito mais essenciais do que relações sexuais — conforto, carinho, segurança. A intimidade de um casal está muito além do que o sexo propõe, e ele não é um fator que divide o que é um relacionamento e o que não é.
Assim, conclui-se que todos os diferentes tipos de relacionamento são válidos, desde que sejam consensuais. As relações humanas são dinâmicas e plurais, devendo importar apenas às pessoas envolvidas, sem a necessidade de opiniões ou visões externas. Usem proteção, façam sexo seguro e sejam felizes!