Três obras para entender a ditadura pelo lado das periferias

Muitos acreditam que a Ditadura Militar Brasileira afetou apenas quem se envolvia com política. Ou que ela reprimiu a classe média, os artistas e os intelectuais, sempre brancos, mas passou despercebida nas periferias. Entretanto, a realidade é bem diferente: a ditadura aprofundou desigualdades e violências que perduram até hoje, muitas cometidas pelo próprio Estado. Por outro lado, a periferia sempre resistiu com fortes mobilizações e, hoje, uma nova geração de jornalistas trabalha para resgatar essas histórias. Conheça algumas delas:

Chumbo & Soul

Foto de Rafael Porcidônio, criador do podcast Chumbo & Soul, segurando o pôster do projeto com um sorriso no rosto. Ele é um homem negro retinto, com óculos e tranças na altura do ombro.O pôster é formado por duas ilustrações: em cima, de um homem negro, com black power e rosto comprimido. Embaixo, a de uma mão branca esticada, dando a sensação de que o homem está sendo calado por ela. O texto, em letras brancas, diz: audible original, CHUMBO & SOUL.Rafael está sentado em um banquinho em um pequeno quarto com caixas, materiais de som e discos.
Rafael Porcidônio

Os bailes black chegaram ao Brasil nos anos 70, auge da ditadura. Eles foram muito importantes para a construção de uma identidade preta, mas foram vistos como subversivos pelo regime. A áudio-série Chumbo & Soul, produzida por Rafael Porcidônio em parceria com a Rádio Novelo, volta às raízes dessas festas para entender como era ser uma pessoa negra nesse período. De Tony Tornado à favela da Praia do Pinto, passando pelas memórias do próprio narrador, cada episódio é um mergulho profundo na história afro do Brasil.

A série está disponível na Audible.

Incontáveis, ep. 5

Duas crianças negras carregam uma tábua para fora de casa, enquanto outras observam o lugar de longe e policiais observam o lugar. A foto, em preto e branco, foi tirada durante a remoção de favelas no Rio de Janeiro.
Foto publicada no site do Conselho Regional de Serviço Social/RJ

Incontáveis é uma série documental que se propõe a contar histórias não muito conhecidas sobre a ditadura. O episódio 5, denominado População Negra e Moradores de Favela na Ditadura, evidencia como os militares venderam o mito da “democracia racial” enquanto destruíam comunidades, prendiam militantes negros e tornavam a polícia mais letal do que nunca — tudo isso enquanto constrói um paralelo com os problemas atuais sofridos pela população periférica.

A série está disponível no Youtube.

Nós, Mulheres da Periferia

Imagem de um protesto. Homens e mulheres civis estão no centro, marchando e carregando cartazes (em um deles, é possível ler “Campanha Contra a Carestia”), enquanto são rodeados por militares.
Reprodução Nós, Mulheres da Periferia

O site jornalístico Nós, Mulheres da Periferia, criado em 2014 para repercutir histórias que ainda não haviam sido contadas, se uniu ao Museu da Resistência para um projeto especial: resgatar as memórias de mulheres periféricas que viveram e resistiram ao período da Ditadura Militar no Brasil. Expostas à violência policial e à falta de direitos básicos, elas aprenderam a proteger umas às outras e a se organizar politicamente para exigir melhores condições de vida. A série de reportagens também reforça a importância da memória e coletividade, especialmente quando vinda de pessoas comuns.

A série está disponível no site do Memorial da Resistência.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Larissa Cristal
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Beatriz Janus e Mariana Correa