Algumas pessoas definem o que é gênero com base em questões como papel social, estereótipos e expressão interna; no entanto, é, ainda, um conceito muito abstrato, tornando difícil para muitos indivíduos compreender a sua identidade — em especial pessoas neurodivergentes. Por isso, é comum a escolha de coisas mais concretas para representar esse sentimento único.
No começo do artigo “Ego Hippo”, de Florentin Morin, ele diz: “Por um tempo, se alguém me perguntasse como eu me “identificava”, eu brincaria sobre ser um hipopótamo preso no corpo de um humano — mais tarde, um humano preso no corpo de um hipopótamo — até que minha “verdade” humorística se solidificou e comecei a anunciar eu mesmo como um velho hipopótamo preso no corpo de um jovem transboy humano”.
O termo xenogênero funciona como um guarda-chuva, de forma a abrigar diversas identidades para aquelus que não se encaixam no conceito social de gênero. Essas identidades, conhecidas como gêneros xênicos, podem indicar o gênero em si, ou ser uma metáfora utilizada para explicá-lo, variando de acordo com a pessoa a utilizá-lo. Assim, o leque de possibilidades é imenso, podendo ser utilizados objetos, formas, animais e outros parâmetros mais palpáveis do que ideias como homem, mulher, agênero e demais identidades “convencionais”.
Ter um xenogênero significa que o entendimento de alguém sobre sua identidade não é atrelado a conceitos objetivados, indo além. Pela dificuldade em explicar sua identidade de forma concreta, ocorre um longo percurso de autoanálise, contendo insegurança por não se entender da mesma forma que outras pessoas, julgamento e, até mesmo, ódio de suas características exclusivas.
Esse sentimento de não se encaixar existe, e o fato de não conseguir se adaptar às normas pré-concebidas, tornando um caminho inicialmente tranquilo em algo muito mais turbulento, pode levar a problemas como depressão, crises de ansiedade, despersonalização e outros. No entanto, é importante manter em mente que ninguém se entende da mesma forma — por exemplo, o conceito do que é ser “homem” é tão abstrato que é possível que cada pessoa que se identifique enquanto homem se sinta de uma forma diferente em relação a si e ao seu gênero.
Um corpo xenogênero se descobre na trangeneridade e na não-binariedade, mas pode se afastar desses termos ao não se sentir completade — ou por outras razões. Um gênero xênico traz mais liberdade para ressignificar todos os pré-conceitos de gênero e corpo, facilitando a comunicação consigo mesme, e a pessoa que o utiliza tende a se descobrir mais forte e resistente do que antes, dentro de seu próprio corpo.