Xenopronomes

A desinformação é, de fato, um dos principais obstáculos para qualquer pessoa LGBTQ+. Ter que lidar com erros sendo disseminados acerca de um gênero ou sexualidade é, no mínimo, frustrante. Infelizmente é algo que acontece com uma certa frequência, principalmente entre comunidades menos conhecidas. 

Os xenogêneros vivem diariamente esse desafio, tentando se firmar em meio à enxurrada de erros que são espalhados de forma irresponsável. Em sua definição correta, xenogênero é um termo guarda-chuva para gêneros que não podem ser compreendidos nos entendimentos humanos de gênero. 

Assim, gêneros xênicos são identidades que buscam uma maneira de categorização de gênero específica. Eles fogem dos conceitos estabelecidos nas identidades de gênero binárias já existentes, assim como suas variações, oposição, negação ou misturas. Portanto, os gêneros xênicos podem ser baseados em metáforas ou fortes conexões com algo, sendo ambos utilizados para descrever uma experiência existente.

Dentro da vivência dos xenogêneros, pode ocorrer o uso dos xenopronomes. 

Apesar de ser um assunto bastante discutido, é sempre importante relembrar: pronomes são uma classe de palavras utilizadas para substituir o sujeito em frases e orações.. No português, existe uma imensa variedade de pronomes, os quais podem ser pessoal (caso reto ou oblíquo), possessivo, demonstrativo, indefinido, interrogativo ou relativo.

As demarcações de gênero nos pronomes são utilizadas de acordo com a pessoa a qual se refere. A linguagem pessoal é utilizada para demarcar essa preferência, ou seja, qual pronome deve vir a ser utilizado para mencionar aquela pessoa em específico.

Visando quebrar o binarismo no uso dos pronomes, os neopronomes surgiram para contemplar e incluir a existência de pessoas não binárias. Assim, na língua inglesa, os pronomes she (ela) e he (ele) foram neutralizados utilizando they (eles, traduzido ao pé da letra). No português esse processo ocorreu de forma semelhante: o pronome mais comum utilizado para neutralizar uma frase é o elu, porém é importante ressaltar que existem aqueles menos comuns com o mesmo intuito, a exemplo do ile, éli, el, etc.

No entanto, mesmo em sua forma neutra, os pronomes na linguagem ainda não conseguiram englobar a multiplicidade de vivências do não-binarismo. Desse modo, o conceito de xenopronomes surgiu, sendo eles um tipo neopronomes que tem como objetivo englobar a vivência de pessoas xenogêneros ou de qualquer pessoa que sinta-se confortável usando-os.

Utilização:

A utilização desses pronomes pode parecer complexa logo de cara, mas com o tempo e com muito treino vai ficando mais simples. 

Tomemos o exemplo de uma pessoa gênero-gato que utiliza os pronomes meow/meows. Em inglês, para se referir a essa pessoa, é só substituir o local onde se colocaria o nome pelo neopronome em questão. 

Na prática, a frase “Júpiter is in the room, they are very tired” ficaria do seguinte modo: “Júpiter is in the room, meow is very tired.’’

Já no português, devemos sempre perguntar o APF da pessoa antes de nos referirmos a ela. Desse modo, poderemos falar de maneira correta as frases e palavras que flexionam gênero, respeitando a existência do outro. Utilizando o mesmo exemplo de uma pessoa gênero-gato que utiliza o APF ê/meow/e, a frase “Júpiter está no quarto, elu está muito cansade’’ ficaria da seguinte forma: “Júpiter está no quarto, meow está muito cansade.’’

Quanto à pronúncia dos xenopronomes, não fique com receio de perguntar a alguém como se pronuncia! Isso ajudará você a saber a forma correta de se referir a uma pessoa xênica, e tenho certeza que ela ficará mais do que feliz em te ajudar a pronunciar corretamente. Lembrando que a pronúncia de um mesmo xenopronome não é algo fixo, podendo variar a depender da pessoa. 

É importante, portanto, sempre compreender e respeitar o uso de pronomes do outro, tratando-o de forma correta e digna. A comunidade xênica já vem sendo alvo da desinformação, o que atrai muitos ataques e discurso de ódio. Respeitar os pronomes também é ajudar a cuidar da saúde mental do próximo.

Abaixo, seguem mais alguns exemplos do uso prático dos xenopronomes no português. Utilizamos o nome fixo Júpiter e apenas modificamos o APF dessa pessoa para fins ilustrativos:

APF: a/fox/a 

Uso: Hoje o dia começou cedo e Júpiter saiu logo para o trabalho. Fox estava muito apressada!