O conceito de transgeneridade busca designar pessoas que não se identificam, seja de forma completa ou parcial, com o gênero que lhes foi imposto ao nascer. Assim, o espectro de gênero da não-binariedade, que abrange todas as identidades que fogem do padrão binário de homem e mulher, como por exemplo demigêneros, gênero-fluido, travesti etc, se encontra dentro desta definição.
Algumas separações entre as comunidades são realizadas em determinados discursos, como por exemplo nas frases “pessoas trans e/ou não-binárias” ou “pessoas trans e travestis”, que não tem como objetivo dizer que pessoas não-binárias não são trans, mas sim tentar dar alguma visibilidade para essas lutas, que são constantemente vítimas de desinformação e outras agressões psicológicas e físicas.
Apesar disso, é comum se deparar com pessoas dentro da própria comunidade que se compreendem enquanto não-binárias, mas não reivindicam a bandeira trans. Diante dessa situação, a confusão acerca de quão inclusa a não-binariedade se encontra nesta comunidade é levantada, de forma a questionar se toda pessoa não-binária é trans.
As justificativas para tal separação são muitas. O principal motivo, no entanto, é a opressão contra este grupo, vinda muitas vezes por parte da própria comunidade, em especial do transmedicalismo. Grupos binaristas e/ou excludentes pregam a ideia de que gêneros para além da dicotomia homem-mulher mancham a imagem da comunidade queer, usualmente buscando aprovação da sociedade. Tal discurso de ódio acaba, então, sendo o ponto de origem dos demais argumentos.
É possível observar, por exemplo, que algumas pessoas não-binárias possuem alinhamento ao gênero que lhes foi designado ao nascer, fato que não desvalida sua existência enquanto trans, mas que deixa algumas pessoas desconfortáveis em “roubar uma causa” — uma narrativa sem sentido, visto que ninguém é mais ou menos trans.
Assim, é de grande importância ter o entendimento de que cada pessoa trans é única e pode ver sua própria identidade de um jeito diferente. A não-binariedade, como um todo, está inclusa dentro da comunidade transgênero, mas forçar este rótulo a alguém que não se sente conectado a ele não é o ideal. É preciso trabalhar para unificar estas lutas, de modo a trazer união para que a comunidade enfrente os desafios causados diariamente pela sociedade cisnormativa.