O Grupo Corsa ― Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor ― é uma entidade de defesa em relação aos direitos de pessoas LGBTQIA+ fundada em 1995, em São Paulo. Ainda que sua sede seja em São Paulo, o grupo atua também em nível estadual e no âmbito nacional, participando intensamente de seminários, encontros e conferências que conversem sobre as pautas da comunidade.
Seus feitos
2001
Em 2001, tornou-se ONG (organização não-governamental), passando a executar projetos de intervenção social inicialmente na área de prevenção às ISTs/Aids junto à população homossexual. Adiante, dedicou-se à educação e concentrou esforços em formação docente continuada para a diversidade sexual na escola. Suas atividades ainda são regulares e abertas a todas as pessoas interessadas. Entre elas, está o Grupo de Casais, onde são compartilhadas informações ― jurídicas, psicológicas, de saúde, de turismo ― e experiências entre famílias homoafetivas/LGBTQIA+; um Círculo de Debate mensal, onde um tema é apresentado e colocado em discussão por ume especialista visitante; e encontros de socialização como almoços e jantares, exibição de filmes, entre outros, promovidos e realizados em sua sede.
2002
O CORSA iniciou seus trabalhos na área de educação no ano de 2002. Naquela época, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), até então subordinada ao Ministério da Justiça, realizou uma Câmara Técnica com o objetivo de traçar um quadro diagnóstico da situação dos GLBTs — antiga sigla para a comunidade LGBTQIA+ ― no Brasil. Como o grupo contava com muitos educadores, surgiu a proposta de organizar uma formação para professores através do projeto “Educando para a Diversidade – os GLBTs na Escola”, financiado pela SEDH.
Foi uma iniciativa pioneira, ou seja, que planejava dar início a um diálogo com o ambiente educacional e trazia a reflexão à diversidade sexual, ao invés de simplesmente falar sobre homossexualidade ― apresentada, geralmente, como algo fora da curva, exótico. Ao tratar das imensas possibilidades de variação do desejo sexual, falava de todes, fossem hétero, homo ou multissexuais. Partiam também do pressuposto de que ninguém jamais poderia entender a orientação de outrem se antes não compreendesse a sua própria.
O projeto “Educando” era uma iniciativa piloto destinada a 25 professores da rede municipal de São Paulo. A inserção do projeto só foi possível, segundo o CORSA, pois Marta Suplicy, figura emblemática à luta, era a prefeita da cidade. Isso possibilitou a abertura de muitas portas, como parcerias importantes, como de programas de prevenção de ISTs/Aids, e o convite para ministrar “Oficinas da Diversidade Sexual” para mais de 5.000 profissionais de educação em apenas dois anos. Por meio desta ação, o CORSA tornou-se conhecido e respeitado pela seriedade de seus integrantes e pelo alto nível da discussão que propunha.
Tiveram como primeiro desafio a formação de uma equipe com preparo suficiente para transmitir as informações e mensagens que combatiam o preconceito no ambiente escolar e, também, propunham uma nova visão das relações de gênero ― criticando o machismo, por exemplo ― e de sexualidade ― desvinculando-a das imagens naturalizadas pelo fundamentalismo religioso). Acreditavam na execução de seu projeto que a escola não é LGBTfóbica em si, mas uma instituição educacional não é uma “bolha” fora da sociedade. Tudo o que acontece ao redor repercute nas relações de ensino e aprendizagem. “(…)Em suma, a escola precisa aprender a falar dessas pessoas também: os gays, as lésbicas, travestis, pessoas trans e bissexuais. Sair do exótico e do folclórico e inserir estas formas de ser e de viver no rol das existências legítimas(…)”, citam.
E, em sua experiência, o CORSA constatou que, ao menos entre professories, existe mais desinformação do que preconceito em relação a pessoas LGBTQIA+.
2004
Em 2004, o CORSA começou uma parceria com outra ONG de São Paulo, a Ecos – Comunicação em Sexualidade, especializada na produção de materiais audiovisuais e didáticos com larga experiência em projetos sociais. Naquele mesmo ano, propuseram e tiveram a aprovação pelo PROSARE – Programa de Direitos Sexuais e Reprodutivos, do Cebrap com recursos da Fundação MacArthur (EUA), uma ideia que abrangesse além da formação de professores, fariam um diagnóstico de entrada — com grupos focais com educadores e questionários para estudantes — e produziriam um material de apoio, uma espécie de pequeno guia com sugestão de atividades.
Mesmo que as antigas “Oficinas de Diversidade Sexual”, dadas em dois encontros de 3h cada uma, fossem ótimas para sensibilizar os profissionais sobre o tema, eram insuficientes para mudar mais profundamente sua visão e, acima de tudo, incapazes de modificar suas práticas pedagógicas. Esse novo projeto, chamado “Diversidade Sexual na Escola: novas práticas educativas para a sexualidade e cidadania”, tinha como elemento central uma capacitação de 40h, realizada em 10 encontros quinzenais de 4h cada um, na Zona Norte de São Paulo. Intuitivamente, tinham descoberto que esse período mais extenso de contato com a discussão teórica e prática sobre gênero e sexualidade, a partir das relações que ocorrem na escola, produziu resultados mais fortes e duradouros. E ê professorie que passava pelo curso tornava-se, de fato, uma referência sobre o tema na sua unidade de trabalho.
2005
No ano seguinte, em 2005, como resultado do Programa Brasil Sem Homofobia, o Ministério da Educação (MEC) abriu edital para projetos e, em parceria, apresentou o “Convivendo com a Diversidade Sexual na Escola”, para ser executado na Zona Sul, dando início a um saudável rodízio entre as regiões da imensa e populosa capital paulista. Nesta ação, puderam contar com o apoio da FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação, que financiava a ajuda de custo aos professores participantes.
O resultado foi imediato e satisfatório. De 160 educadories incrites no início do curso, 152 o concluíram.
2006
Em 2006, um novo projeto foi selecionado em edital do MEC, para ser executado junto à Diretoria de Ensino Centro-Oeste, onde conseguiram apoio ao curso, com uma ação ainda mais sólida e eficaz, graças a recepção positiva e o compromisso de toda a Diretoria. Contudo, problemas ocorridos na tramitação das verbas para estas finalidades, no âmbito dos órgãos federais, acarretaram atraso no repasse dos recursos.
Tudo isso apenas deixou em evidência que o combate à LGBTfobia ainda não havia se transformado, de fato, em elemento prioritário para elevar a qualidade da educação no Brasil. Além disso, postas sob suspeição pela irregularidade administrativa e financeira de algumas, as ONGs deixaram de contar com o apoio das autoridades governamentais.
2008
Assim, em 2008 não havia um único projeto financiado para esta temática. As consequências eram previsíveis, tudo isso culminava para a falta de continuidade das ações. Além disso, até o momento o MEC não realizou nenhum encontro coletivo com os executores destas formações docentes para que as equipes pudessem compartilhar suas conquistas e analisar com serenidade os obstáculos que enfrentaram.
Naquela época, faltava uma política pública real e efetiva, no campo da educação, que se propusesse a combater o sexismo e a LGBTfobia que os sistemas de ensino produziam e reproduziam cotidianamente — e, ainda hoje, o fazem —, até mesmo pela ausência de qualquer iniciativa sistemática e global de reflexão e atuação sobre estas questões. Nem mesmo os cursos de licenciatura (que formam novos professores) estão atentos ou abordam as relações de gênero e a sexualidade como elementos cruciais do desenvolvimento integral de alunos e alunas. As poucas iniciativas existentes são pontuais e provisórias.