Acefobia e Estereótipos

A acefobia é usualmente descrita como o preconceito, discriminação, aversão ou ódio direcionado à pessoas assexuais. Ao contrário do que muites pensam, a acefobia pode ocorrer de várias formas, não necessariamente através de agressão física ou verbal direta e explícita. Um exemplo de acefobia é justamente falas problemáticas direcionadas a pessoas assexuais e o reforço de estereótipos.

A comunidade assexual é uma comunidade invisível na visão de muites. Mal reconhecem a sua existência e, quando reconhecem, são informações sobre a assexualidade embasadas em pensamentos preconceituosos e estereotipados. 

Em meio a falas como “vocês namorariam um assexual” ou “cansei de me apaixonar, vou virar assexual”, a comunidade assexual prossegue sendo alvo de ataques velados e foco de frases ditas de forma banalizada, mas que machucam muito. A acefobia, querendo ou não, está nos mais diversos lugares e mídias. 

Reforçar pensamentos estereotipados, ignorar a busca de informações corretas sobre a assexualidade ou reproduzir falas que ataquem, direta ou indiretamente, pessoas assexuais são apenas alguns dos exemplos de como esse fenômeno está mais presente do que imaginamos. 

Como já mencionado, os estereótipos podem ser uma forma de acefobia. Eles, mesmo quando ditos sem intenção, ainda ajudam a reforçar um espaço de opressão e marginalização de pessoas assexuais.

Dentre os estereótipos, um dos mais comuns é a crença de que assexuais são aversos a quaisquer relações com outras pessoas, sendo elas sexuais ou românticas. Esse estereótipo parte da falta de informação acerca da assexualidade, a qual muitos confundem com a arromanticidade. 

De modo simplista, as atrações experimentadas pelo ser-humano podem ser dos mais diversos tipos, entre elas a atração sexual, romântica, platônica, sensorial e muitas outras. Quando falamos sobre assexualidade, nós estamos nos referindo à atração sexual, a qual difere do conceito de desejo. 

Parece muito complicado? Entenda os tipos de atração.

O ponto principal é que a atração sexual, ou a falta dela, não anula a atração romântica. Sendo assim, assexuais podem sim se apaixonar e vivenciar experiências românticas. É na falta de conhecimento sobre as atrações e a realidade de pessoas assexuais, que somos taxados de “frios e calculistas”, “emocionalmente distantes”, entre diversos outros termos que designam que não temos sentimentos. 

A falta de atração sexual nada envolve a atração romântica e, mesmo que uma pessoa não sinta nenhuma dessas duas atrações, não quer dizer que ela não tenha sentimentos, ou seja necessariamente fria e distante. Apenas significa que ela não vivencia atrações do mesmo modo que a maioria das pessoas.

Outro estereótipo sobre a assexualidade é enxergar as pessoas assexuais como virgens, puritanos, inocentes que odeiam sexo. Pessoas assexuais, sendo elas estritas ou não, ainda podem fazer sexo. Isso é algo que sempre confunde a cabeça da maioria das pessoas, pois é de senso comum que assexuais são assexuais por não gostar de sexo e não transarem. Porém, essa visão é totalmente embasada em uma perspectiva errada sobre pessoas assexuais. 

Andando em conjunto com o pensamento de que assexuais não transam, outra fala comum carregada de acefobia e estereótipos é a ideia de que assexuais não têm libido ou possuem problemas hormonais. Tal argumento cai por terra quando reforçamos a existência de assexuais que mantêm relações sexuais.

Novamente, segundo o modelo de atração, atração sexual é diferente de desejo sexual. Assim, pessoas assexuais podem ser assexuais e transar, fazer piadas sexuais, se masturbar, entre tantas outras coisas relacionadas a sexo.

É importante mencionar também que não é porque uma pessoa é assexual que ela possui algum trauma. Traumas são assuntos muito sérios, os quais não possuem uma relação direta com a experiência da assexualidade. A assexualidade é uma orientação sexual como qualquer outra, sendo válida em todos os sentidos. 

Todos os estereótipos mencionados possuem relação direta com a acefobia. É a partir do pensamento acefóbico que tais estereótipos surgem e ganham força com o passar do tempo. 

Buscar se informar através de fontes confiáveis, conversar com pessoas assexuais dispostas a falar sobre o assunto e evitar disseminar tais estereótipos também é lutar contra a LGBTQfobia. A existência de assexuais deve ser reconhecida e respeitada, em sua definição correta. A luta constante para evitar a desinformação é uma luta que não deve ser única da comunidade assexual, e sim de todes.


Referências: