Criança pode ser LGBTQ+?

Para responder a essa pergunta, é fundamental diferenciar as experiências relacionadas ao gênero e à orientação sexual. Ambos são elementos da identidade de uma pessoa, mas se manifestam de formas e em tempos distintos.

Diferença entre gênero e orientação sexual

Identidade de Gênero refere-se a como a pessoa se percebe em relação ao gênero com o qual se identifica. Uma criança pode se identificar com um gênero que não corresponde ao gênero atribuído ao nascer desde muito cedo. Estudos indicam que essa identificação pode começar entre os 2 e 3 anos, e por volta dos 6 ou 7 anos a criança já apresenta um comportamento que demonstra que essa identificação se manterá. No Brasil, estima-se que cerca de 1,9% da população adulta se identifica como transgênero, e essa percepção muitas vezes se manifesta na infância.

Orientação Sexual, por outro lado, está ligada à atração romântica e/ou sexual que a pessoa desenvolve por outros. Na maior parte das vezes, essa descoberta ocorre durante a puberdade, a partir dos 11 anos em média. Mas pesquisas com adultos de minorias sexuais apresentam dados de que a primeira atração por pessoas do mesmo gênero ocorre, em média, entre os 8 e 11 anos. No entanto, a plena compreensão da orientação sexual costuma surgir na adolescência.

Gênero: identidade que surge na infância

A questão da identidade de gênero pode se manifestar desde muito cedo, existindo relatos de pais no Brasil que observaram em seus filhos, já aos 2 ou 3 anos, uma forte identificação com um gênero diferente do gênero socialmente imposto, o que pode se expressar no desconforto com seu corpo ou algumas vezes na preferência por brincar e se vestir de maneira associada ao gênero “oposto” ao identificado no nascimento. Essa experiência, profundamente pessoal, é um relato de uma sensação consistente e persistente de desconexão com o gênero atribuído ao nascer.

Os pais e educadores devem estar atentos a sinais como:

  • Forte insistência de pertencer ao outro gênero;
  • Preferência por roupas e brinquedos associados socialmente a esse gênero;
  • Rejeição ao próprio corpo e desconforto com características sexuais.

Orientação sexual: descoberta na puberdade

A orientação sexual tende a se manifestar mais tarde, à medida que as crianças entram na puberdade, quando os hormônios começam a influenciar os sentimentos e atração por outros. Em média, os jovens brasileiros se identificam como LGBTQIA+ entre os 13 e 17 anos. No entanto, há variações, e alguns podem começar a perceber essas inclinações mais cedo.

Dados do IBGE indicam que, na população adulta, aproximadamente 2,9% dos brasileiros se identificam como homossexuais ou bissexuais.  Este percentual deve ser encarado como subestimado se levarmos em conta não só o estigma social mas também o fato de que muitas crianças LGBTQ+ têm sua identidade invalidada pela própria família, o que prejudica na descoberta da orientação sexual, na socialização e na saúde mental destes jovens.

Como lidar?

Escuta ativa e validação: Crianças devem ser ouvidas sem julgamento. Se expressam desconforto com o gênero ou dúvidas sobre atração, é essencial validar essas emoções.

Educação inclusiva: Conversar abertamente sobre diversidade de gênero e sexualidade pode ajudar as crianças a se entenderem melhor e a se sentirem mais seguras para expressar quem são.

Ambiente de apoio: Pais, educadores e cuidadores devem criar ambientes seguros e acolhedores, onde as crianças se sintam à vontade para compartilhar suas experiências e emoções.Profissionais especializados: Caso surjam dúvidas ou preocupações, buscar o apoio de psicólogos e terapeutas especializados em questões LGBTQIA+ é recomendado.


Referências


Ficha técnica

Escrita: Reinaldo Coutinho Simões
Revisão: Viktor Bernardo Pinheiro e Lara Moreno