Essa é a semana da assexualidade, e é o momento perfeito para se discutir como a comunidade LGBT+, de maneira geral, é hipersexualizada.
E esse é o senso comum, ou seja, faz parte da visão da sociedade num geral. Quando se nota a recusa em aceitar a possibilidade de crianças LGBT+, por exemplo, e usa-se o argumento de que “crianças são novas demais para saberem disso”, ou o famoso “o que eu vou falar pro meu filho se…”, o motivo é simples: a existência Lgbt+ não é vista como uma identidade, mas como um comportamento. Especificamente um comportamento sexual, que é desviante e errado.
Outro exemplo disso, é quando alguém fala: “tudo bem você ser LGBT+, não tenho problemas com quem você transa…” ou “respeito, mas peço que respeitem também” para insinuar que um gesto simples como dar as mãos em público tenha uma conotação inadequada.
Os exemplos são inúmeros, mas o que ocorre aqui é um apagamento das identidades LGBT+, reduzindo toda uma vivência a apenas um fetiche, como se o significado de diversos anos de luta fossem esse.
Um dos principais motivos para isso é que o maior contato de pessoas chap* com pessoas da comunidade é através da pornografia. Sejam homens héteros através de pornografia “lésbica” (sáfica), ou mulheres através da literatura homoerótica.
Isso resulta em um apagamento de pessoas trans, as quais não são necessariamente LGBT+ pela sua orientação, mas sim pela sua identidade — apesar de poderem também ter qualquer sexualidade.
E tendo em vista tudo isso, é possível notar como a assexualidade se encaixa bem meio a isto. Alguns estudos sobre essa orientação apontam como alguns movimentos de minorias sexuais não reconhecem a assexualidade como uma possibilidade, a desqualificam e desacreditam (Macinnis, & Hodson, 2012).
No geral, a existência de um grupo de pessoas que reivindica a assexualidade como identidade provoca uma fissura em toda a nossa sociedade hipersexualizada. A proposta de visibilidade assexual do movimento acaba sendo mais uma parte do espetáculo da sociedade hipersexualizada já que as aparições tendem a se falar de sexo muito mais do que promover a aceitação da assexualidade — e lança a pergunta: “A que custo a assexualidade se torna interessante ou acessível?”
Em uma sociedade hipersexualizada, entretanto, não é incomum assexuais relatarem histórias em que o sexo é realizado às custas de pressões sociais ou como forma de agradar um parceiro ou parceira. “Geralmente há uma expectativa para que sejamos pessoas sexualmente ativas”, “Muitos praticam sexo com seus parceiros ou parceiras para satisfazê-los, mesmo que eles não se sintam atraídos nesse sentido”. O discurso é tão internalizado que é possível vê-lo até mesmo dentro da comunidade, sem qualquer explicação mais profunda, o que traz a banalização do abuso sexual dentro de um relacionamento.
E é por essa razão que o maior protesto que um assexual pode fazer é reafirmar a sua existência. Principalmente em meio à toda a allonormatividade, em que a todo momento as pessoas colocam a sua assexualidade à prova, como se fosse uma realidade difícil de ser concebida. Se afirmar assexual geralmente é seguido por uma série de perguntas sobre sexo, que provavelmente a maioria dos allos nunca teve que responder.
Tudo isso, é causado principalmente pela falta de representação num meio tão sexualizado. Algumas pessoas nem sabem o que são assexuais, só supoem que são pessoas que são ruins no sexo, possuem sexualidades deformadas ou quebradas, são frígidos, puritanos, sendosocialmente ou sexualmente ineptos.
E tais suposições acontecem mesmo entre pessoas que são assexuais, mas não sabem. Isso é o que ocorre quando uma comunidade não tem imagem de si mesma no mundo. Eles não podem ser algo que nem sabem que existe. Por isso é importante criar espaços onde haja essa representatividade. Para que Aces de todas as identidades sejam vistas.