O que é Pajubá?

Indivíduos possuem maneiras diversificadas de se comunicar, e essa comunicação atende às demandas de suas vidas e de acordo com as características do grupo de falantes. Convida-se o leitor a compreender as demandas linguísticas de mulheres trans e travestis que historicamente utilizam a palavra como estratégia de sobrevivência, um método que se espalhou pela comunidade LGBTQIAPN+.

O Pajubá é uma linguagem empregada como expressão de resistência por indivíduos como homossexuais e pessoas transgênero e que possui raízes africanas. Essa utilização ocorre tanto para evitar que pessoas preconceituosas compreendam que estão sendo mencionadas, quanto para  compartilhar informações interessantes ou fazer comentários menos positivos sobre conhecidos. A interseção das heranças culturais negras e da comunidade transgênero se manifesta por meio de práticas de comunicação que desafiam as normas predominantes, contribuindo para a construção de conexões e diálogos significativos.

É possível encontrar muita coisa na internet a respeito do Pajubá, como artigos repletos de propagandas que tornam a leitura quase impossível e dicionários com a tradução dos termos. Entre eles se destaca o artigo “Muito além do lacre”, mais cuidadoso, que Laura Reif fez para a revista Trip. Ela explica que o Pajubá vai além do uso de gírias, e que sua importância é crescente no vocabulário de muitos brasileiros, principalmente entre os jovens e na comunicação via redes sociais. 

É crucial compreender as raízes históricas do Pajubá e, mais significativamente, seu papel na resistência. O Pajubá tem suas origens na fusão de termos da língua portuguesa com expressões dos grupos étnico-linguísticos Nagô e Iorubá, que foram trazidos ao Brasil pelos africanos escravizados. Essas influências foram preservadas nas práticas das religiões afro-brasileiras.

Já que os terreiros umbandistas ou candomblecistas geralmente são locais de acolhimento para a comunidade LGBTQIAPN+, essa comunidade começou a adaptar os termos africanos de acordo com o contexto de suas vivências, construindo assim a riqueza cultural e a força de resistência presentes no pajubá.

Portanto, ao reconhecer a origem e a evolução desse linguajar, pode-se apreciar sua contribuição para a diversidade linguística e cultural do Brasil, além de ser reconhecido seu papel na promoção da inclusão e no fortalecimento das comunidades marginalizadas.

Resumindo, o Pajubá é uma linguagem, ou seja, um sistema de comunicação utilizado para expressar pensamentos, sentimentos, ideias e informações. Especialmente no caso do Pajubá, destaca-se a importância e absorção de formas de comunicação corporais como gestos, sinais e símbolos. Para além disso, o Pajubá se revela como uma poderosa ferramenta de resistência, uma linguagem que, ao ser empregada, cria espaços seguros e instaura uma identidade cultural que se manifesta contra-hegemonicamente. Ao dar voz a homossexuais e travestis, o Pajubá preserva as tradições ancestrais e tece uma teia de conexões, construindo pontes que transcendem barreiras sociais, culturais e linguísticas. Neste contexto, a utilização do Pajubá não é apenas um ato de comunicação, mas uma afirmação audaz de identidade, resistência contra as imposições normativas, ferramenta cultural e de sobrevivência.


Referências:

  • Muito Além do Lacre – Revista Trip, Laura Reif
  • Manifesto traveco-terrorista – Tertuliana Lustosa

Ficha técnica:

Escrita: Anônime
Leitura-crítica: Bibiana Christofari Hotta e Arê Camomila da Silva 
Revisão: Lívia