Neurodiversidade é uma palavra relativamente recente, tendo surgido em fóruns e listas de e-mail nos primórdios da internet durante os anos 90 em países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. O termo se refere à diversidade neurológica, ou seja, à diversidade em relação ao desenvolvimento/formação do cérebro de cada pessoa. Apesar de 2 cérebros não se desenvolverem de maneira 100% igual, podem apresentar características semelhantes entre si. Essas características agrupadas formam dois grupos: neurotípicos e neurodivergentes.
Neurotípicos são aqueles cujo desenvolvimento neurológico é tido como “normal”, não apresentando nenhuma particularidade específica no que diz respeito às áreas cognitiva e comportamental. Já neurodivergentes, como a própria palavra já insinua, são ês que divergem do desenvolvimento padrão. São considerades neurodivergentes pessoas que possuem: Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtornos Específicos de Aprendizagem (dislexia, discalculia, disortografia), Disgrafia, Síndrome de Tourette, entre outros.
Infelizmente, o Brasil carece de pesquisas, estudos e mapeamentos oficiais acerca dessa população, sendo as estimativas feitas com base em dados de outros países. Essa carência em investigação e entendimento sobre pessoas neurodivergentes, além de trazer dificuldades a respeito do saber onde essa população se concentra e se suas necessidades estão sendo atendidas corretamente, também contribui para a disseminação de ideias e conhecimentos errôneos sobre neurodivergência, o que, por consequência, prejudica a qualidade de vida de todo esse grupo.
Em contrapartida, desde quando as discussões sobre o direito de pessoas neurodivergentes (sobre pessoas autistas especificamente) se intensificaram em solo brasileiro, várias organizações independentes começaram a surgir. Nelas o protagonismo da causa era atribuído aos pais e cuidadores dessas pessoas, que eram maioria no gerenciamento dessas instituições focadas em prestar apoio e divulgar conhecimento.
Embora com os mesmos propósitos de seus predecessores, os projetos mais recentes visam e dão palco para que ês própries neurodivergentes falem sobre suas vivências e conscientizem ês demais sobre suas lutas, dificuldades e maneiras de reverter pensamentos e práticas capacitistas e excludentes. Dentre algumas organizações atuais que prestam apoio a pessoas neurodivergentes, ressaltando-as como protagonistas de sua própria causa, observa-se:
- A Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA);
- Instituto ABCD;
- Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas (ABRAÇA);
- Associação de Familiares, Amigos e Pessoas com Transtorno Obsessivo Compulsivo e Síndrome de Tourette do Rio de Janeiro (RIOSTOC);
Embora seus focos e públicos sejam distintos, todas essas organizações compartilham os ideais de disseminar informação, prestar apoio tanto para indivíduos neurodivergentes quanto para suas famílias, promover palestras e encontros de cunho educacional, entre outras ações benéficas. Mesmo com o empenho dessas organizações para disseminar informações acerca das comunidades que acolhem, deve-se lembrar que estas geralmente são resultados de estudos internacionais, dando-nos apenas uma estimativa aproximada do que seria nossa população neurodivergente.
O senso de 2022 trouxe um pequeno progresso para esse cenário, já que nele foi incluída uma pergunta sobre autismo, com o intuito de mapear essa população de maneira efetiva e oficial. Considerando que o primeiro mapeamento sobre autismo no Brasil foi feito em 2011 e considerou apenas a população de um município paulistano, esse avanço merece e deve ser comemorado, mas sem deixar de lado o fato de que todas as outras neurodivergências precisam ser devidamente estudadas, entendidas e mapeadas, para assim garantir uma qualidade de vida adequada para todo esse grupo.
Referências:
- Políticas para o autismo no Brasil: entre atenção psicossocial e a reabilitação
- Conhecimento sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade no Brasil
- RIOSTOC
- ABRAÇA
- Instituto ABCD
- ABDA
- Prevalência dos transtornos invasivos do desenvolvimento no município de Atibaia: um estudo piloto
Ficha Técnica:
Escrita: Chenny
Leitura-crítica: Bibiana Christofari Hotta
Revisão: Viktor Bernardo Pinheiro