A epidemia da AIDS foi um surto epidêmico global que se iniciou em 1981 e é um tema de saúde pública até os dias atuais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a AIDS foi responsável pela morte de 40 milhões de pessoas e aproximadamente 38,4 milhões de pessoas convivem com o vírus do HIV. Em 2020, a taxa de crescimento da doença era de 1,5 milhão de novas infecções por ano.
A comunidade LGBTQIA+ — especialmente gays, bissexuais e pessoas trans — é afetada pela epidemia da AIDS desde o início. Além do descaso estatal, o estigma social foi marcante na segregação dessa população. Por muito tempo, a mídia chamou a infecção de “peste gay” e “doença dos 5H”, se referindo a homossexuais, hemofílicos, hookers (trabalhadoras sexuais), haitianos e usuários de heroína.
Devido a isso, a AIDS se concretizou no imaginário popular como a doença dos atos nefastos, do desvio de comportamento, da prostituição e das drogas. Assim, o conservadorismo midiático, alinhado ao moralismo cristão, responsabilizou a comunidade LGBTQIA+ pelo surgimento da doença. Sem informação e amparo, a população queer permaneceu marginalizada. Isso resultou na morte de milhares de homens gays, bissexuais e mulheres trans, em especial na década de 80. A série Pose, da FX, aborda esse tema diretamente, apresentando a realidade de pessoas queer nos EUA durante o início da década de 90. Na obra, Pray Tell (interpretado por Billy Porter) é diagnosticado com a doença e luta contra a sentença de morte que era receber tal notícia. A narrativa deixa evidente a importância da união da comunidade LGBTQIA+ nesse período, necessária para sobreviver a uma necropolítica.
Foi apenas na virada do século que surgiram políticas de saúde pública bem consolidadas sobre o assunto. Em 1996, o Brasil foi exemplo global ao oferecer tratamento gratuito universal para as pessoas soropositivas, além de promover campanhas de prevenção com distribuição gratuita de preservativos e tratamento médico.
Em retrospecto, na década de 80, a expectativa de vida de uma pessoa infectada com o vírus era de apenas 6 meses. Em 1999, entretanto, essa expectativa havia se estendido para 20 anos. Hoje, com o tratamento correto, o vírus pode se tornar intransmissível e indetectável na corrente sanguínea do indivíduo.
De acordo com pesquisas da Sociedade Internacional da AIDS, a transmissão do vírus é maior entre pessoas que praticam sexo anal. Isso porque o sexo anal tem uma taxa de troca sanguínea 17 vezes maior que a do sexo vaginal. Entretanto, apesar de todo o estigma, a maioria das transmissões de HIV por via sexual acontecem por meio de relações heterossexuais. No Brasil, por exemplo, cerca de 80% das mulheres soropositivas foram infectadas por seus maridos.
Isso somado ao fato de que o atual governo desmantelou o SUS – Sistema Único de Saúde –, cortando 3,3 bilhões de reais em verbas da pasta da saúde e prejudicando 12 programas diferentes. Dentre eles, está o responsável pelo tratamento da AIDS, de outras infecções sexualmente transmissíveis e hepatites virais. O programa foi prejudicado em mais de 407 milhões.
Por fim, apesar de desmentida, a homofobia ainda permeia o debate da AIDS, minando o bem-estar mental, o acesso à saúde e a integridade de pessoas LGBTQIA+. Um estigma construído por décadas não é desconstruído do dia para a noite. É necessária conscientização e cobrança ativa para a mudança de tal visão.
Referências:
- Epidemiology of HIV/AIDS – Wikipedia
- ‘Nós gays levamos a culpa do HIV por causa dos héteros’
- Homophobia and HIV | Be in the KNOW
- Por que os gays têm mais chance de contrair HIV?
- A Timeline of HIV and AIDS
- Por que a Aids predomina entre jovens gays negros e pardos? – CartaCapital
- The AIDS epidemic’s lasting impact on gay men | The British Academy
- Governo Bolsonaro reduz verba para tratamento de aids e protege orçamento secreto em 2023 – Estadão