É muito comum escutar de conservadores que na época deles não existiam pessoas LGBT+ e que isso é algo das novas gerações. Mas a verdade é muito diferente: são encontradas provas que a homossexualidade existe pelo menos desde a Grécia Antiga.
Embora na antiguidade clássica não houvesse um nome que rotulasse homens que mantinham relações com outros homens ou mulheres que mantinham relações com outras mulheres — para eles eram apenas atitudes e não algo que fizesse parte de uma identidade —, sabe-se que esses relacionamentos aconteciam e, no caso dos aquileanos, faziam parte da cultura greco-romana.
Era comum, até mesmo esperado, que na Grécia Antiga homens mais velhos tivessem relações sexuais com homens mais novos, acreditava-se que dessa forma seus conhecimentos seriam repassados, sendo uma prática considerada necessária para a formação dos cidadãos gregos. Cada pessoa do relacionamento tinha um papel e essas funções não poderiam ser invertidas: o mais velho era o ativo, quem transmitia seus saberes através do ato sexual, e o mais novo era o passivo, quem os recebia. Depois de uma certa idade, não era mais permitido que esses homens mais novos fossem tocados, eles passavam de receptores (passivos) para transmissores da sabedoria (ativos).
Já na Roma antiga, havia uma liberdade sexual um pouco maior: os homens romanos podiam se relacionar tanto com mulheres como com homens sem restrição de idade, porém acreditava-se na “pureza do sangue” e que essa pureza poderia ser “contaminada” por meio do ato sexual. Para evitar isso, os homens mais ricos ou que possuíam algum tipo de poder na sociedade deveriam cumprir o papel de ativo enquanto a mulher ou o homem de classe social inferior deveria cumprir o de passivo durante o ato.
Percebe-se, então, que a homossexualidade entre os homens não é nem um pouco recente, ela é notada desde a antiguidade clássica, e a homossexualidade feminina não fica para trás. Infelizmente não há tantas evidências dos relacionamentos sáficos, em comparação aos aquileanos, isso por pelo menos dois motivos:
O primeiro é a misoginia presente na sociedade da antiguidade clássica, por acreditarem em uma hierarquia na qual o homem era detentor de sabedoria e quem podia ter voz, quando a mulher nem era considerada cidadã, não sendo comum ver escritoras femininas e seus afazeres não eram temas de interesse dos homens. Por isso, são raros os documentos que expõem a sexualidade feminina, enquanto sobre a masculina há diversas demonstrações e era incentivada para a manutenção dessa hierarquia. Apesar disso, foram encontradas paredes com pinturas e escritas que não deixam dúvidas de que havia relacionamentos sáficos nessa época.
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A imagem acima — encontrada em Pompéia (62-79 d.C.) — estava localizada em um mural famoso por conter diversos desenhos eróticos, embora a pintura esteja um pouco apagada, estudiosos afirmam exibir duas mulheres durante o ato sexual.
O segundo motivo é que o pouco que foi escrito por mulheres da antiguidade foram destruídos. Pode ser citada como exemplo: Safo, nascida na Ilha de Lesbos — onde as mulheres tinham mais liberdade que na Grécia —, é uma das únicas conhecidas entre os poetas da Grécia Antiga. Devido à falta de comprovação histórica, não se tem certeza da sexualidade de Safo, porém ela é conhecida por seus versos inspirados por mulheres e muitos acreditam que ela tinha relações amorosas com elas. A Igreja Católica, que guardava os escritos antigos, não se agradava de suas poesias, alegavam haver teor erótico e por isso as censuraram, restando somente fragmentos de seus poemas.
Em resumo, quando se fala que a existência de pessoas LGBTQ+ é algo recente, a história e a cultura de toda uma sociedade é colocada de lado. Apesar disso, embora a homossexualidade estivesse bastante presente na antiguidade clássica, não se pode afirmar que era uma época progressista e inclusiva, visto que por trás dos relacionamentos aquileanos havia um sistema de hierarquia e opressão e os relacionamentos sáficos eram vítimas de misoginia e apagamento.
Referências
- Homossexualidade na antiguidade clássica | Renata Barbosa
- Sáficas na Roma antiga | Victoria Lacerda
- Safo de Lesbos | Letticia Leite
Ficha técnica
Escrita: Ingredy Boldrine
Leitura crítica: Viktor Bernardo Pinheiro
Revisão: Lara Moreno, Nico Baladore